O Café

Kellvin de Andrade
O Café
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2 min readApr 13, 2017

Boa tarde. Obrigado por virem tomar café comigo. Antes de dizer o motivo de eu tomar tanto café, queria saber de vocês como preferem. Na minha última vez, o café era doce. Tinha café e açúcar para duas pessoas. E o cheiro do ambiente era muito agradável. Café, para mim, tem que ser assim, com essa energia toda.

Comecei a tomar café enquanto aprendia a medir a quantidade de açúcar. Antes disso, parecia um chá de tanta água que eu colocava na xícara. O que seria amargo, forte e difícil de engolir, fluía que era uma beleza. Tenho pouco a reclamar daqueles cafés. Era a coisa mais fácil de engolir, mesmo não sendo nada doce.

Quando eu fui preparar o meu primeiro café, havia separado também o coador e o pote com açúcar, já pensando em controlar a amargura da bebida. Essa mistura de café e açúcar estava me envolvendo de maneira quase ritualística. Eu queria sentir a energia do café sem perder a doçura do açúcar. E todo dia era assim. Quando me sentia fraco, colocava um pouco de leite. Bem pouco, para que o gosto amargo do café não fosse perdido. E sempre na quantidade suficiente para duas pessoas.

Aconteceu de um dia não ter mais açúcar. Foi logo depois do último café que eu tomei. Água demais nem pensar. Coisa do passado. Pensei em leite e percebi que, junto com o açúcar, superavam o café. E precisei tomar uma decisão. Como seria o meu café? Preferi sentir sua amargura e, a cada gole sufocante, lembrar do doce do açúcar que um dia esteve transbordando do pote, e que sabe Deus quando terei novamente.

Não tenho açúcar. Aceitam uma xícara de café? Se não estiverem prontos, posso colocar um pouco mais de água.

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Kellvin de Andrade
O Café
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Estudante de Geografia na PUC-Rio, militante negro LGBT, fundador do Coletivo LGBT+ interseccional Madame Satã e da mídia Implosão/Explosão.