O Som do Passado

Felipe J.S. Ant
O Cangaceiro, uma visual novel
3 min readOct 13, 2016

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Ou, o que estou ouvindo enquanto escrevo O Cangaceiro.

Tenho seguido um planejamento bem pouco organizado, já desenhei em minha cabeça os passos que devo seguir para montar o projeto, e eles são bem simples:

1 — Crie a história, montando as partes de decisão, os textos e GARANTA que cada pedaço seja para o jogador uma decisão significativa para a história

2 — Corra atrás dos elementos gráficos, um ilustrador e ilustrações

3 — Busque a trilha sonora ideal e os FX necessários

4 — Codifique tudo no Ren’Py.

5 — Encontre os meios de publicação.

Entre uma coisa e outra, faça textos bacanas para que você acompanhe esse processo. Fácil né?

Pois é, mas não tem sido para mim não. Toda vez que organizo uma receita de bolo de trabalho minha cabeça trabalha contra e passa focar em itens que eu supostamente só deveria ver lá na frente. Disciplina nunca foi meu forte.

Pelo bem ou pelo mal, o que fiz desde a ultima publicação aqui foi o esqueleto inicial da história, os primeiros parágrafos de conversa (quem assinou a newsletter recebeu esse pequeno quitute de agradecimento, assine você também clicando aqui) e visto muito o item 3 dessa minha lista.

Viva Música!

Conheci pouquíssimas pessoas na vida que não gostem de musica. Variam-se os estilos, trocam-se os gostos, mas a grande maioria tem sua banda ou estilo favorito. Musica está nos nosso DNA, faz parte de nossa humanidade, faz mexer quadril ao som de bumbos e flautinhas. Não tem muito como escapar.

E apesar de um pouco esquecida, a música é uma das partes essenciais em jogos eletrônicos. Todos reparam nos gráficos, mas é a música que realmente vai criar a tensão, que sorrateiramente vai te emocionar. Musica importa, e muito.

Assim, tenho procurado algumas bandas e sons que reproduzam o espírito da época que quero retratar, recapitulando que estamos falando de nordeste brasileiro entre 1920 e 1940 (é, já dei uma reduzida na timeline).

A escolha mais óbvia seriam os forrós e sanfonas de um Luis Gonzaga, e não descarto que serão utilizadas, mas a maioria do que encontrei é “feliz demais” para o tema e creio que não combinará com o ambiente que quero montar.

Mas encontrei algumas coisas bem interessantes que quero compartilhar.

Então meu caro leitor(a), te convido a dar um play no álbum abaixo e vir pensar comigo.

Pela Wikipedia, sabe-se que “Quinteto Armorial foi um importante grupo de música instrumental brasileiro formado em Recife em 1970, gravaram quatro LPs até o final do grupo, em 1980. A proposta do Quinteto Armorial era criar uma música de câmara erudita com raízes populares, o grupo conseguiu realizar um trabalho de síntese entre a música erudita e as tradições populares do nordeste, além das medievais galaico-portuguesas.”

E essa para mim foi uma descoberta sensacional, tenho escrito ouvindo os álbuns completos do Quinteto e a experiencia tem sido muito imersiva. Eles se tornaram fortes candidatos a sonorização da visual novel.

O Brasil das décadas de 20 e 30 tinha uma esquizofrenia entre passado medieval e a modernidade. As decisões de um governo central lá longe no Rio de Janeiro contrastavam com a realidade religiosa, apegada a reis e a falta de recursos. Na capital falava-se no fim da Republica Velha, mas no nordeste ainda se esperava o retorno do rei e a republica era encarada quase como uma depravação dos bons costumes. Haviam beatos e beatas, um misticismo que era a amalgama do cristianismo trazido pelos portugueses com os ritos e crenças locais. Até padres se escandalizavam com esse fervor e também condenavam mostras exageradas desse afeto pelos deuses. Coronéis e autoridades, a lei regulada na bala por quem tinha mais jagunços e armas.

E é o ambiente que Quinteto Armorial tem me criado. Espero que gostem

Atenciosamente,

Felipe Antunes

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Felipe J.S. Ant
O Cangaceiro, uma visual novel

Quando escrever um livro, me chamarei escritor. Enquanto isso, vou tentando