É um ciclo sem fim

natália scholz
O Centro
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4 min readOct 4, 2017

Falar sobre finais é difícil, apesar de ser um assunto presente na vida de qualquer ser. Constantemente somos confrontados com situações finais: o fim do dia ou de uma estação. O fim de um período de nossas vidas e até da própria vida. Mas vamos para um lado mais otimista (lá vem a Natália de novo) e ver o final de algo como a oportunidade de um novo começo.

Nesse ciclo sem fim são tantos os lugares para se seguir e lugares para se descobrir. E o sol a girar sobre o azul deste céu, que nos mantém nesse rio a fluir… nesse ciclo sem fim. Rei Leão é cultura, dá licença.

Ciclos são sequências de fatos que sempre retornam ao mesmo ponto, sem um final concreto. Mas talvez poderíamos dizer que cada nova sequência de um ciclo é composta por um final. E isso me faz pensar até que ponto um final é tão definitivo assim. Não importa o fim que seja, sempre há um fato que faz a história continuar. O ciclo não morre, o carrossel nunca para de girar.

Esses dias li uma frase que faz todo o sentido para nos confortar em frente a situações de término dolorosos: às vezes precisamos abrir mão de algo bom para que possamos receber algo maravilhoso. E acho que isso vale para muitos contextos. Porque finais nem sempre são algo que nós escolhemos. Aliás, se dependesse apenas de nós, aposto que quase nunca iríamos querer finalizar algo. Ficar no conforto do conhecido é muito mais fácil. Mas terminar é necessário; o bom precisa virar o melhor. Nem sempre parece que vai melhorar, mas vamos ser positivos: o sol há de brilhar novamente. Acredite: ele vai, sim!

Há também o lado de quando o final nos traz alívio. Guerras, doenças, relacionamentos tóxicos, filmes ruins (sim, vamos jogar tudo numa mesma categoria). São pontos de mudança que conduzem histórias, seja num contexto mundial ou pessoal. E, cá entre nós, nesses casos fica o desejo de que o ciclo seja quebrado de uma vez, mesmo que isso seja ainda mais difícil.

Se o ciclo não for quebrável, pelo menos há a possibilidade de aprender algo e tentar ao máximo modificar o trajeto do caminho que está por vir.

Um exemplo bem concreto e que vem me chamando a atenção desde que moro na Alemanha é a questão do nazismo. Aqui os campos de concentração são mantidos com o intuito de não deixar a história cair no esquecimento e não permitir que uma atrocidade dessas ocorra novamente. Mesmo assim, no mês de setembro o país foi às urnas e um partido de extrema direita (que espalhou cartazes racistas pelos postes das cidades) recebeu quase 13% dos votos. É revoltante e preocupante. O partido agora integra o parlamento alemão, mas ainda não tem tanto espaço. O medo agora é que na próxima eleição eles ganhem ainda mais força. Segundo a Angela Merkel, tentar reverter isso será uma das prioridades do novo mandato. Ou seja, apesar de todo o cuidado, a história começa a tomar um rumo que já se viu antes. Com sorte seremos mais inteligentes dessa vez e conseguiremos parar tudo antes que chegue a um ponto extremo. #oremos

TUDO SE TRANSFORMA

E, de novo, me vem à mente a pergunta: existe mesmo um final final? Segundo a Lei da Conservação das Massas (alô, galera da Física, me perdoem se eu falar bobagem, sou de humanas), na natureza nada se perde, mas sim se transforma. Nesse caso estamos falando de coisas mais “concretas”, de materiais. Mas vamos transformar (vocês viram o que fiz aqui?) esse conceito para o mundo metafísico, num plano que talvez seja mais fácil de nós entendermos.

Sentimentos, por exemplo. Ok, não tão fácil. Mas já pararam para pensar que um sentimento nunca morre de verdade? O amor não acaba; ele se transforma. Nem que seja em ódio. Tem aquela frase que adoramos usar a torto e a direito do Pequeno Príncipe, “tu te tornas eternamente responsável pelo que cativas”. Bom, eu não diria responsável, até porque eu não posso controlar como alguém se sente em relação a mim (por favor, um fardo a menos para carregarmos nessa vida), mas - aparentemente - a eternidade é inegável aqui. Talvez o sentimento que nosso cativar provocou não permaneça igual, mas ele continuará existindo.

Então, o que eu quero dizer com isso? Que finais estão, sim, presentes e são constantes na nossa vida. Mas eles não significam, necessariamente, a conclusão definitiva de algo. Em boa parte dos casos, é só uma vírgula para a continuação desse ciclo sem fim muito louco que é viver. Os ciclos podem ser bons ou ruins, mas é reconfortante pensar e saber que temos a possibilidade de começar um capítulo novo. E assim deixo esse texto, sem um final bombástico e conclusivo, mas sim com esse ar de três pontinhos. Pois a reflexão pode continuar no próximo texto. É um ciclo sem fim.

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