2017 da coragem

natália scholz
O Centro
Published in
3 min readDec 23, 2017

A virada do ano de 2016 para 2017 foi a pior da minha vida. Sem mentira. Lembro como se fosse hoje, meu corpo lentamente sendo tomado por uma virose jamais vivida antes. Eu tinha muitos planos: ia sair pelas ruas geladas de Berlim para ver os fogos de artifício, levar espumante e toda aquela agitação que a gente conhece. Mas não. Tive que ficar em casa . Dia primeiro de janeiro foi ainda pior. Eu vi o dia passar enquanto estava deitada na minha cama, semi-morta e com uma febre incessante. Cinco dias depois a virose passou e, finalmente, o ano começou para mim.

Tomada por uma onda de otimismo que tento implementar diariamente na minha vida, concluí sabiamente que com um começo tão horrível desses, a tendência era clara: só teria como melhorar. Pior que aquilo não ficava.

E realmente não ficou. Claro, houve dias não tão bons, mas, no geral, posso dizer que 2017 foi TOP. Um ano de transformação para mim, que troquei todas as capinhas do CD “As quatro estações” da Sandy e Junior numa terra em que todo dia é, literalmente, um 7x1.

Viver longe do lar não é fácil. Viver num país em que você mal fala o idioma, pior ainda. Toda e qualquer ação do dia-a-dia exige um esforço: como se pede pão? Como que fala que estou com dor de barriga? Como pede licença de uma maneira educada e que não fará algum alemão gritar comigo? Sim, são vários 7x1s.

Crédito: Vital Lordelo

Mas calma lá! Nem tudo é pedra. Conseguir concluir essas pequenas tarefas diárias são os maiores momentos de glória da vida. Lembro de um dia em que fiz um favor para uma amiga, marcando uma consulta no dentista. Eu tremia horrores. Peguei uma folha de papel, anotei palavras/frases essenciais para que a conversa tomasse o rumo desejado com sucesso. A moça atendeu. Falei, falei, falei. E marquei a consulta. Ainda confirmei o horário para não ter dúvida e desliguei o telefone com um sorriso de vitória no rosto: eu consegui!

Apesar do terror que sinto quando preciso enfrentar situações como essa, sei que são momentos necessários e que me fazem crescer e, aos poucos, me integrar um pouco mais nesse país. Eu sempre tive esse sonho de viver fora, ampliar meus horizontes, e sem coragem não dá mesmo.

Por isso vejo 2017 como um ano em que fui corajosa, em que decidi que minha aventura na Alemanha não deveria terminar e que eu quero, sim, viver esses momentos de terrores diários para que, no fim, eu perceba o quanto sou capaz. E a coragem também me fez abrir o coração para diversas oportunidades e possibilidades. Conheci pessoas, me decepcionei, segui em frente. Dei segundas chances e pedi por elas também.

Um ano tão intenso que parece que foi uma década. Esse foi meu 2017 e assim será meu 2018, sem dúvida. Pelo menos enquanto eu viver na terra da batata ou não me acomodar. Se eu pudesse dar uma dica, mesmo que não solicitada, seria o clássico clichê do ARRISCA!. Quer aprender alemão? Aprende! Quer sair da tua cidade? Sai! (Claro, se isso for possível, não saia aloka sem pensar nos detalhes.) Quer viver a vida intensamente? Vai! Liga pro dentista para marcar uma consulta em alemão até perder o medo!

YOLO, minha gente. Nós só vivemos uma vez.

Que o ano que está chegando seja assim para todos nós: cheio de desafios e vitórias, altos e baixos e a sensação de dever cumprido. E principalmente de muita coragem.

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