photo by: Matheus Ferrero

A Internet e os seus ruídos

Mentiras dão poder, mas também podem matar.

Aryel Martins
O Centro
Published in
4 min readJul 20, 2017

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Junto da manipulação do fogo e a invenção da roda, a Internet é a ferramenta mais revolucionaria da historia da humanidade. Após o advento da “rede mundial de computadores” o avanço cientifico está cada dia mais acelerado. Ela da oportunidade de se empoderar de todo o tipo de assunto, de todas as áreas do conhecimento. Avanços sociais e tecnológicos relacionados diretamente ao uso da internet são inegáveis.

Entretanto, o problema máximo que temos hoje na distribuição de informação, são os que estão usando a internet para reforçar a sua própria visão de mundo, para ganhar seguidores e espalhar noticias falsas, usando do recurso mais baixo possível, a ignorância das pessoas. Não que isso seja invenção moderna. Manipulação de opinião surge antes da imprensa.

Toda palavra é medida, toda frase é composta para soar agradável para quem ouve. A notícia falsa, a mentira, serve apenas para reforçar crenças pessoais de quem lê, e afirmar o interlocutor como pertencente a um grupo.

“Filho de Lula é dono da Friboi”; “CIA matou Eduardo Campos para beneficiar campanha de Marina Silva”; “Homossexuais querem cotas em Universidades Públicas”; “Nutella da câncer”; “Rodrigo Maia não pode ser Presidente da Câmara por ter nascido no Chile”.

Todas essas citadas acima já foram manchetes ou chamadas em algum site, blog, ou página de Facebook. Tem quem acreditou, e continuou levando o boato para frente. Mesmo sendo as informações das notícias altamente duvidosas, e até mesmo misturadas com conteúdos de humor. Sim, confundir “piada” com noticia é o que mais temos.

A falha na educação básica também tem culpa. Se considerarmos que apenas 8% da população têm plenas condições de compreender e se expressar atrás de letras e números. Estamos falando de uma pequena minoria (você que está lendo esse texto faz parte) que é capaz de ler e entender frases complexas e interpretar gráficos simples. Com esse tipo de cenário, qual a qualidade de debate que temos? Como é possível esperar que as pessoas compreendam o que estão lendo?

Claro que, o viés ideológico de quem usa a internet para ganhar capital simbólico no offline, nunca está desconectado de uma oportunidade de mercado. Existem pessoas que estão ganhando muito dinheiro com notícias falsas. Faturando por minar a internet com desinformação e mentiras. Inúmeros sites e blogs que recolheram, cada um, com publicidade, montantes acima de 1 milhão de reais, só no ultimo ano.

Não é de se admirar que iniciativas para checar fatos, como Agência Lupa, Pública e Aos Fatos vêm ganhando mais força. Elas surgem de uma necessidade real e imediata de higienização do fluxo de informações que circula pela rede. Sem esquecer dos mais antigos boatos.org e do E-Farsas, que desde 2002 investigam rumores e mentiras na internet. Bons tempos em que o maior problema da internet eram só os “trolls”.

O Gregório Duvivier, no seu programa na HBO, falou de uma forma mais bem humorada sobre o fenômeno das “Fake News”. Vale o play!

TEM QUEM JÁ PERDEU A VIDA POR CAUSA DE BOATOS

O caso mais conhecido é de 2014. Na cidade de Guarujá/SP, Fabiane Maria de Jesus, foi espancada até a morte durante um linchamento provocado por um boato divulgado em uma página do Facebook. Fabiane foi confundida com um retrato falado de uma suposta sequestradora de crianças. Ninguém foi preso ou responsabilizado pelo ato.

Em 2016, Carlos Luiz Batista, morador de Cosmo, no oeste do RJ, foi ameaçado de morte por moradores da cidade, depois que sua foto foi compartilhada na internet com a informação de que ele seria um estuprador. Tudo começou com uma mensagem no WhatsApp. Ninguém foi preso ou responsabilizado pelo ato.

Ainda pelo WhatsApp, em abril desse ano, uma mensagem acusava um casal de vendedores, em Aruana/RJ, de estarem sequestrando crianças. O casal foi agredido e teve o seu carro incendiado por uma multidão enfurecida. Se a Guarda Municipal não tivesse chegado a tempo, eles provavelmente teriam sido mortos. E, quem diria, ninguém foi preso ou responsabilizado pelo ato.

Esses são só alguns casos de pessoas que tiveram as vidas destruídas por causa da simples falta de bom-senso e pitadas de desconhecimento. Estes são apenas casos conhecidos, agora imagine os outros que acontecem e os quais não ficamos sabendo. Imagine os locais onde as pessoas têm acesso à internet apenas pelo Whatsapp e Facebook (aplicativos que muitas operadoras oferecem sem custo de pacote de dados e que já funcionam em smartphones mais antigos). Em localidades mais pobres, são os únicos canais de informação que se tem, que não seja rádio e TV.

Analfabetismo funcional, acesso limitado a informação, viés ideológico agressivo, interesses econômicos, interesses políticos, a soma disso tudo é o amálgama do que temos de pior, hoje, no Brasil e no Mundo. E como resultado, tem quem enriqueça, tem quem se eleja, e tem quem morra por causa de noticias falsas espalhadas por aí.

Boa parte do que escrevi foi baseado no Como identificar a veracidade de uma informação e não espalhar boatos do site Nexo, que deveria ser leitura obrigatória para todos os usuários da internet. Já estamos em 2017, passando da hora de edução midiática ser matéria nas escolas (apesar de que nem no Ensino Superior isso é ensinado, imagine na educação básica).

O apelo que faço é para que as pessoas que minimamente tenham capacidade para identificar informações falsas, ajudem a educar os que estão a sua volta e fazem parte das suas redes, a não levarem esses informações para adiante.

Existe vida além das Redes Sociais.

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