Amar a paz — e as flores

natália scholz
O Centro
Published in
3 min readMar 22, 2018

Algo que nunca deixa de me impressionar é como filmes infantis são capazes de atingir públicos tão distintos ao mesmo tempo. Claro, essas histórias não são apenas para crianças, porque — a princípio — elas nunca vão sozinhas no cinema, não é? A última experiência que tive foi ir ao cinema assistir ao filme Ferdinand, juntamente com as crianças das quais tomo conta aqui em Berlim.

A história é sobre um touro que vive na Espanha (terra das touradas) e que tem tudo para ser um campeão, exceto pelo fato que ele não gosta e não quer lutar. Diferentemente dos outros touros, a paixão dele são as flores.

Ferdinand ama flores

O filme não deixa a desejar. Apesar de ter assistido em alemão, entendi praticamente tudo (parece que estou avançando, não é mesmo?), dei deliciosas gargalhadas e até segurei umas duas lágrimas em certos momentos. Não porque me remetia à infância ou qualquer coisa, mas sim porque me identifiquei bastante com o personagem principal. Sim, com o touro Ferdinand.

Ferdinand não é um super herói e nem usa sua força para conquistar seu objetivo. Muito pelo contrário: apesar de ter todas as condições, ele faz o mais difícil. Ele para, se recusa a usar a violência e — spoiler alert — sai vitorioso.

No ápice do filme, Ferdinand se encontra num dilema: ceder às tentações de lutar ou se manter pacífico. E essa cena me emocionou demais. Diante da possibilidade de vencer, de derrubar o inimigo, ele recua, senta no chão e se recusa a fazer parte desse sistema totalmente injusto. Uma ação que não deixa de ser um ato heroico e de luta. Sem dúvida, o caminho mais difícil a ser escolhido.

Talvez eu tenha chorado nessa cena

Acredito que a lição do touro Ferdinand é muito válida e deveria ser incorporada por todos nós. Falta um pouco no mundo dessa noção de que não podemos deixar nada passar, precisamos brigar todos os dias, usar nossa força sem pestanejar. Claro, não ser passivo em relação à vida, mas saber que, às vezes, o melhor a se fazer é deixar estar. Tem brigas que não valem a pena, tem brigas que não se vencem na força. Às vezes, mesmo que tenhamos as armas para combater, o melhor é se recusar a fazer parte da violência.

Gostaria de acreditar no que os filmes infantis me ensinaram, que o bem sempre vence o mal, mas sei que não é assim. Mesmo assim, é bom ter fé que é possível, que todo nós podemos ser um pouco mais touro Ferdinand, mesmo que isso pareça praticamente impossível. Melhor chutar para o alto! E, claro, não esquecer de amar as flores.

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