Aprendendo a aprender

Construir conhecimento é menos “formula”, e mais “abrir os olhos”

Aryel Martins
O Centro
Published in
4 min readNov 24, 2017

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Nos últimos dois anos me afastei do meio acadêmico formal. Foram quatro semestres do curso de Jornalismo trancados por vários motivos. Alguns:

DINHEIRO

Vamos ser sinceros, faculdade é um troço caro. Na nossa realidade de abismos salariais e desigualdade estrutural, bem poucos chegam ao ensino superior. E justamente por conta disso, cria-se uma corrida maluca pelo diploma. Coloquei no papel o dinheiro que estava gastando e quanto ainda precisava desembolsar para terminar o Curso. NUNCA FAÇA ISSO, é desesperador visualizar o montante de dinheiro que você entrega para a Universidade. E depois pensar na quantidade de coisas que você poderia fazer com o mesmo valor.

TEMPO

Quando o trabalho começou a cobrar mais dedicação de tempo, era mais vantajoso, financeiramente, me dedicar mais ao trabalho do que reservar um certo tempo para o estudo formal.

MERCADO

Não sei como está funcionando em outros segmentos, mas como eu trabalho com Comunicação, faz muito tempo que ninguém me pergunta onde eu estou estudando ou onde me formei, mas sim, qual o meu portfólio. Onde eu já trabalhei, de quais projetos participei, quais os resultados que tive, qual conhecimento eu tenho sobre a função. E principalmente: “Eu tenho esse problema, você consegue resolver?

Na somatória de tudo, a faculdade ficou como o elo mais fraco.

De qualquer forma, não desmereço o ensino formal. Apenas percebi que se fitar apenas por ele é um erro. (Talvez você tenha se identificado)

A relação com o ensino formal por vezes é nociva. “Eu vou sentar aqui na cadeira, agora me ensine”.

A faculdade finge que ensina e o aluno finge que aprende. E, no final, tem um papel dizendo que você sabe alguma coisa.

Comprando a ideia de que se deve graduar o mais rápido possível, e que a unica forma de “dar certo na vida” é ter um diploma, o indivíduo sai do ensino médio desesperado para entrar em uma faculdade. No caminho, deixa dividas financeiras e a saúde mental, que logo mais cobrarão seu preço.

Se tem algo que ficou claro já faz algum tempo, é que a faculdade não ensina tudo o que você precisa. O ofício do seu trabalho só se aprende no dia-a-dia da profissão, e aprender algo é, ou pelo menos deveria ser, mais natural e menos centralizado do que a gente imagina. Não apenas para fins de trabalho, mas também como pensante, como alguém que pode opinar sobre aspectos de um determinado conhecimento de forma mais segura.

Aprender a como aprender foi uma das coisas mais importantes que “aprendi” nesse tempo de hiato.

Perdi a conta de quantos cursos livres já fiz. Além de coisas simples, como seguir vários canais do Youtube sobre assuntos do meu trabalho, outras ideias são feeds de sites especializados e procurar palestras e oficinas com profissionais destacados. Estamos, e deveríamos ainda mais, estar aprendendo o tempo todo. E cada um tem seu método.

Pode parecer óbvio, mas tem quem não faça nada disso. Usa a internet apenas através de aplicativos de redes sociais, e passa anos replicando os mesmos conceitos que aprendeu em sala de aula. Isso que estou falando do “Ensino Superior”, sem comentar das escolas que usam o mesmo método de ensino a mais de cem anos.

Hoje, admito que sinto falta de alguma base teórica; provavelmente voltarei para o ensino superior em breve. Mas agora, sabendo mais sobre mim mesmo e sobre o que quero fazer — e isso ajuda muito! É outra maneira de visualizar o processo de aprendizado, e de como usar esse conhecimento da melhor forma possível.

Base teórica + problemas diários + trocas com outros profissionais da sua área + curiosidade. O resultado disso, pelo menos ao meu ver, é a forma mais eficaz de realmente tomar posse de um saber. Em todos os seus aspectos.

Não existe fórmula pronta para aprender. E não são só algumas aulas por semana que vão ensinar algo de verdade. Pisar um pouco no freio da máquina de formar mão de obra e tomar um folego, com certeza ajuda a oxigenar as ideias.

P.S: O pessoal do podcast Mupoca, feito por quem trabalha com Publicidade e Tecnologia, teve um debate bem de boa sobre isso. Tá valendo o play.

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