Ateus não são bem-vindos

Um desabafo.

Aryel Martins
O Centro

--

Não. Não pode. Quer ser ateu, que seja longe das minhas crianças. Afinal tenho que ensinar para elas que se deve ter medo de algo maior para ser uma pessoa “boa”. Como é possível alguém viver sem temor? Não dá!

Estou cercado de pessoas de bem. Pessoas boas, honestas, retas e íntegras. E de pessoas que não perdem a oportunidade de desejar todo o mal e o fogo eterno para quem não os agrada.

O país mais cristão do mundo não permite a não-fé em algo. O maior símbolo dessa mesma religião, o filho de deus, é sempre citado quando precisam cometer alguma atrocidade. O mesmo homem que andava entre prostitutas e ladrões e nunca julgou ninguém. Que ofereceu a paz de Deus para quem desse tudo o que tinha aos pobres e miseráveis. E que no momento de sua morte, pediu o perdão divino para seus assassinos.

Pobre homem. Não entenderam o que ele dizia. Pelo visto morreu em vão.

Tomei a liberdade do tema desta quinzena do Centro para um simples desabafo. Fui criado em uma família Católica de classe média. (Leia-se: católica-não praticante-que-frequenta-centro-espirita-e-faz-oferenda-pra-Iemanjá-no-final-de-ano). Acho que alguns que estão lendo vão se identificar. E falo especificamente da religiões cristãs, já que são as mais abrangentes por aqui.

Centenas de anos de sincretismo religioso no Brasil acabaram criando um terreno onde é possível cruzar os campos das crenças e dogmas, e frequentar outras religiões que não sejam a sua de confissão. Claro que sempre “pisando em ovos”, e só por curiosidade mesmo, nada de se converter a essas coisas. As pessoas não gostam de quem muda de religião, tanto quanto de quem não tem uma.

TÁ, MAS ACREDITA EM NADA MESMO? É SÉRIO? E SE PRECISAR, COMO FAZ? E SE TU MORRER? E SE…

Se eu ganhasse um real para cada vez que me perguntaram coisas de tipo, olha…

Pode falar sobre qualquer assunto. Dê a sua opinião sobre o que achar necessário. Seja um profissional de sucesso, viaje o mundo e converse com muitas pessoas. Seja legal. Ajude um amigo, adote um animal abandonado, faça trabalho voluntário. Trate as pessoas com respeito, seja honesto em seus negócios, diga a seus pais que você os ama, todos os dias.

Mas nunca ouse falar que você é ateu. Jamais!

É inimaginável, para muitos, que algumas pessoas possam fazer tudo aquilo ali de cima, e não rezar antes de dormir. Ou que não tenham medo de punição divina. Falar sobre a sua não-fé é praticamente uma ofensa. É como se eu estivesse chamando pessoas religiosas de burras ou ignorantes, coisas do tipo. Nunca fiz isso e jamais farei, não tenho mais moral, tampouco sou mais ético que ninguém.

Mas, se a sua fé fica tão abalada assim só por alguém não ter uma, repense melhor sobre o que você acredita. Na ânsia de “salvar” os que estão “perdidos”, cometem-se absurdos. Vigia-se o vizinho, julga-se aqueles que não se conhece, censuram aquele que poderia ser feliz sendo apenas quem é. Que chatice.

É, chato mesmo (quando não acaba em tragédia). Esse texto todo só para dizer que isso uma hora enche o saco. Dá vontade de mandar todo mundo longe.

Você precisa de religião, gosta dessa ideia? Show, vai fundo parça! Só NÃO ENCHE O SACO!

Cuidam da vida dos outros e acabam não reparando nas próprias atitudes. Chamam de imoral quem só quer liberdade de viver em paz, sem fazer mal para ninguém. Se você é uma pessoa que faz isso, PARE de ficar questionando por que a pessoa é ateu ou ateia.

Se você também passa por isso, não se abale: seja firme às suas convicções. E não precisa ficar se explicando, eu parei com isso. Eu já cheguei no ponto do “POR QUE SIM!”, ao ser interpelado sobre.

Para muitos desses eu já estou condenado. E muitos outros também estão. Não sei você, mas eu estou bem assim.

--

--