Divertida Mente (2015) — Pixar Animation Studios

Cada escolha é uma renúncia

natália scholz
O Centro
Published in
3 min readAug 16, 2017

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Um dos meus filmes favoritos de todos os tempos é uma animação da Pixar que se chama Divertida Mente. A história é sobre uma menina de 11 anos chamada Riley ou, mais especificamente, sobre alguns personagens dentro da cabeça dela: as emoções Alegria, Tristeza, Nojinho, Raiva e Medo. É um filme absolutamente genial. Como boas animações, divertem tanto as crianças quanto os adultos. E Divertida Mente é aterrorizante de tão profundo que é. É quase uma sessão de terapia que nos faz refletir e entender muita coisa sobre nós mesmos. Sério! Segue o trailer pra dar uma ideia:

Na primeira vez que vi esse filme, fiquei obcecada, como ilustra esse tweet da Vera Holtz (mas em outro contexto). Fiquei fascinada, ri e até chorei. Lembro que até numa aula da faculdade achei uma brecha para falar sobre o filme (que fase!). Na segunda vez que vi — algumas semanas atrás — também fui tomada por uma emoção estranha de tristeza/angústia/dúvida e, mais uma vez, surgiu a necessidade de falar mais e mais sobre essa obra prima.

Eu quando vi Divertida Mente (e Game of Thrones também, convenhamos)

Dentro do complexo cérebro de Riley encontramos, entre tantas coisas, as ilhas de personalidade dela. No caso de Riley, as ilhas são sua família, esporte, humor, honestidade etc. Cada uma dessas ilhas define quem ela é como um todo. Mas algo chega para acabar com a paz dentro desse cérebro: a terrível puberdade. Riley está crescendo e, consequentemente, essas ilhas vão entrando em crise e se desmoronando, caindo dentro de um lixão muito sinistro. É chocante. E faz todo o sentido, porque isso representa o processo do amadurecimento. O que nos definia quando éramos crianças não nos define mais. A gente cresce, muda.

E isso é doloroso. É triste ver que pedaços de nós vão morrendo, mas c’est la vie. Simples assim. Uma vez alguém me disse: cada escolha na vida é uma renúncia. E, de fato, é. Cada decisão que tomamos em todos os instantes de todos os dias nos leva para uma direção que não tem volta. De alguma maneira ou de outra, estamos sempre renunciando de algo para nos tornarmos alguma outra coisa, para melhor ou pior.

Às vezes me pego pensando em como eu mudei ao passar dos anos e me alegro muito em perceber que, em geral, melhorei. Muitas coisas que eram tão importantes na minha vida, hoje são apenas páginas do meu diário e boas lembranças. Também, tantos pontos negativos já não me afetam e compro muito menos brigas desnecessárias. Tantas ilhas colapsaram, tantas novas que nunca imaginei que teria, surgiram.

Claro que se tornar mais velho não significa, necessariamente, que se aprendeu algo. Idade não tem nada a ver com maturidade. É tudo uma questão de experiência, de sair da zona do conforto. De arriscar e às vezes falhar, mas tirar algum aprendizado de tudo isso. É tomar uma decisão, renunciar do que for que seja e assumir o que isso nos trouxer.

Muitas vezes, após experiências falhas, desejamos voltar no tempo e mudar aquele segundo em que tomamos a famigerada decisão que agora está nos fazendo sofrer. Mas não dá. E talvez essa seja uma das maiores dádivas da vida. A gente vai tentando nosso melhor. Se der, deu. Se não, segue o baile! Importante mesmo é tentar, acredito eu.

Renunciar requer coragem e as ilhas vão desmoronar, sim. Mas é bom saber que outras sempre serão construídas, nos possibilitando ser cada vez mais nós mesmos — e, de preferência, versões melhores de nós.

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