Ele é a minha história

Patricia Nascimento
O Centro
Published in
4 min readNov 7, 2017

Tudo nesse mundo nasce e morre. O espaço entre essas duas coisas é preenchido pelo que a gente chama de vida. A vida é de quem vem ao mundo e, a partir do primeiro choro, a gente abre os olhos para um lugar cheio de outros seres parecidos com a gente, mas completamente diferentes.

Crescemos ao lado de pessoas que nos ensinaram a chamar de família. São eles que nos dão comida, cuidam da gente e nos apresentam o resto do universo do jeito deles. Depois de uns anos, aprendemos a andar, enxergar e criar opiniões. A gente começa a tomar posse de algumas coisas que encontramos pelo caminho, e a partir disso, formamos quem nós somos como indivíduos.

Tudo o que nos apossamos torna-se extremamente importante dentro de nós. Algumas pessoas se apegam a pessoas, outras a histórias, passatempos ou música. Não importa muito o que seja, e é provável que o que para mim é importante, para você não seja tanto.

Photo by Nathan Dumlao

Muitas vezes é comum alguém vir todo empolgado contando sobre um livro que leu ou uma série que assistiu, aíi a gente escuta com excitação no começo, mas quando termina vem um sentimento de “nossa, mas isso não é tão legal assim”. E para você talvez não seja mesmo, mas para aquela pessoa isso pode ser MUITO significativo. E aí é que está: Por quê?

O grande diferencial entre cada um de nós, transeuntes da Terra 1 dessa Via Láctea do Universo Observável, é a nossa História. E é com H maiúsculo porque ela tem nome próprio. Tem o seu nome. Mas ela — a história — é mais importante que ele — o nome. Porque você pode encontrar outra pessoa com exatamente o mesmo nome que você. E mais ainda, encontrar o seu doppelgänger da Terra 2, e a única diferença entre ele e você ainda vai ser a sua História. Tudo o que você faz, o que enxerga, o que decide buscar ou defender, isso te constrói. É a sua estrutura. E cada uma dessas escolhas define a forma como você interage com o mundo e como o mundo vai reagir de volta.

Então, respondendo à pergunta, se você não estabeleceu uma relação forte com aquele objeto no decorrer da sua vida, como a outra pessoa, dificilmente vai conseguir sentir a empolgação por aquilo da mesma forma.

O mesmo acontece com as coisas ruins. Aprendi com uma pessoa que a vida está sempre lançando coisas em você, não importa se são boas ou ruins, e a maneira como encaramos cada uma delas é que define se seremos pessoas melhores ou piores.

De certa forma é uma decisão. A atitude que você toma depois de levar um jab-direto-cruzado é uma escolha. Você pode cair, com certeza vai doer e as vezes é bem difícil de levantar, mas a decisão de tentar erguer-se é você quem toma.

Muitas vezes não dá pra fazer isso sozinho e não tem nada de errado em pedir ajuda. O importante é seguir em frente, mesmo que você saia com cicatrizes e um olho roxo depois.

Existe uma técnica japonesa milenar que conserta objetos quebrados com ouro ao invés de jogá-los fora e substituí-los. O nome dela é kintsukuroi. Ela parte do princípio que as imperfeições tornam aquele objeto único, trazendo identidade para aquilo, o que, ao invés da substituição, torna-o mais valioso, pois as rachaduras contam a História.

kintsukuroi

Sempre que leio algo sobre isso, eu penso comigo: como os orientais dão um banho de sabedoria na gente, né?! Essa técnica ensina muito mais do que restaurar a decoração da casa. Mostra que reconhecer e aceitar os nossos defeitos e imperfeições é o que nos torna seres humanos melhores. Através deles somos transformados.

Colocar as cicatrizes em evidência, compartilhar aquele causo ou aquela perda que você passou, pode ajudar a te reconstruir por dentro, a enxergar que você não é a primeira pessoa a passar por aquilo, além de poder te trazer novos amigos e, ainda, transformação.

Pensando bem, a linha que liga os pontos A e B chamada Vida pode ser também chamada de História, e na real, não é nem um pouco parecida com uma linha. Tá mais pra Montanha Russa.

E você, o que te torna você? Compartilhe! :)

Inspirações do Texto

Millencolin — Black Eye; Tombos da vida e principalmente uma perda :(

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