Esse trem não vai parar

natália scholz
O Centro
Published in
3 min readSep 17, 2017

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O tempo pode ter muitos significados. Segundos, minutos, horas. Dias, meses, anos. E ele é relativo também, dependendo — entre tantos fatores — dos nossos sentimentos em relação ao que está acontecendo com a gente. Uma aula entediante parece durar séculos, enquanto algo que nos emociona parece passar num piscar de olhos.

Independentemente de qual perspectiva estejamos falando, um fato é certo, como já disse Cazuza: o tempo não para.

Uma das minhas músicas preferidas também fala dessa temática. Stop this train, do John Mayer, compara a vida com um trem em movimento e fala de algumas das aflições que sentimos ao percebermos o quão rápido tudo está passando, como não querer ver os pais envelhecerem, por exemplo. Uma das partes que eu mais gosto é quando John conta que pediu ajuda ao pai dele para entender o percurso e a velocidade com que esse trem anda. O pai responde que quando se tem 68 anos, vê-se tudo sob uma nova perspectiva. E continua:

Don’t stop this train
Don’t for a minute change the place you’re in
And don’t think I couldn’t ever understand
I tried my hand
John, honestly, we’ll never stop this train

(Não pare esse trem. Não mude por um minuto o lugar que tu estás. E não pense que eu não poderia entender. Eu tentei. John, honestamente, nós nunca vamos parar esse trem.)

Obrigada, pai do John. É isso mesmo. O trem não para e nem deveríamos tentar pará-lo. Fico abismada com a galera tentando reverter o tempo, como se esse não fosse o percurso mais natural que nossa vida toma. Por existir a vida, podemos dizer que a única certeza é que um dia ela acaba. Então, qual o sentido de não aceitar isso? Envelhecer é a consequência do tempo. Com sorte, chegaremos todos lá.

Da mesma forma, aniversários são assuntos que vão ficando delicados com o passar do tempo. Não se pergunta a idade das pessoas, dizem alguns.

Ué, por que não?

Eu sempre fico muito feliz quando completo mais um ano de vida. Fico animada ao perceber que, aos poucos, tenho memórias que são de 10 ou 15 anos atrás. Alguns dizem que quando eu ficar mais velha, vou mudar de ideia. Eu acho que não. E espero realmente que não.

E, convenhamos, idade não tem nada a ver com ser jovem. John também canta que tem medo de envelhecer, pois, segundo ele, ele domina bem a arte de ser jovem. Ok, John, mas o passar do tempo precisa, necessariamente, significar que se é velho? Não foram poucas as vezes em que vi pessoas com muito mais idade que eu com uma disposição invejável. O segredo, segundo eles, é manter a mente jovem. E acredito que, quanto antes começarmos esse exercício, maiores serão nossas chances de sermos aqueles vovôs que nos deixam de queixo caído.

O mesmo vale para a outra direção: jovens com espírito de velho, ranzinzas como se a vida já tivesse oferecido tudo que tem para oferecer. Todos temos esses momentos, claro. Dias em que não existir por alguns minutos seria um alívio. Mas como vi em algum lugar esses dias: é muito cedo para se dizer que é tarde demais.

Então como em tantos outros aspectos da vida, nossas atitudes influenciam diretamente os resultados de nossas experiências. Em relação ao tempo não é diferente. Uma ruga é sinal de que estou mais perto da morte (#drama) ou de que carrego na minha pele a marca de estar viva e podendo vivenciar mil e um acontecimentos? Encará-la como um castigo ou uma dádiva só depende de nós. Que lá no final tenhamos a impressão de que o trem não passou depressa ou lento demais, mas sim, com o tempo certo para ver e viver as coisas mais belas que essa vida pode nos oferecer.

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