Eu não acredito na internet das coisas

Roberta Roth
O Centro
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2 min readJul 24, 2017

O último episódio da mais recente temporada de Silicon Valley despertou um assunto sobra o qual eu tinha até esquecido: eu não acredito na internet das coisas. Não no sentido de não acreditar como se fosse um mito, lenda, entidade espiritual, mas sim no seu funcionamento como existe até hoje.

Claro que parece ótimo ter uma geladeira inteligente que aprende o que você consome com frequência e avisa quando o produto precisa ser reposto. Melhor ainda se, como sugerem algumas tecnologias, eu nem precisar sair de casa. A geladeira identifica o que está em falta, faz o pedido e eu recebo as compras algumas horas depois de ter aprovado a transação.

Tudo isso deve gerar um certo superávit de tempo se comparado à rotina que a maioria das pessoas tem hoje. Também permite que as pessoas se preocupem com outras coisas, e não com o que precisam comprar para o jantar, se o estacionamento do supermercado vai estar lotado, quanto tempo vão ficar na fila do caixa.

A minha implicância com a internet das coisas envolve um certo receio e também uma desconfiança nos serviços como os conhecemos hoje. Acho muito complicado fazer com que máquinas participem ativamente da rotina quando seu funcionamento não é totalmente confiável.

A parte da desconfiança tem a ver, em primeiro lugar, com a rede. Há dois anos atrás, um temporal deixou praticamente minhaa cidade inteira sem internet por mais ou menos 24h. Claro que isso foi um acontecimento pontual, mas ainda assim meu provedor não entrega o tempo todo a velocidade que eu contratei e pago por. Ou seja, se não posso depender 100% da internet pra nada, por que minha geladeira deveria?

Já o meu receio é justamente sobre o que vai acontecer se eu não precisar sair de casa para fazer compras. Além de ter cada vez menos motivos pra sair do meu ambiente doméstico, sem a preocupação com compras, com o que vou me preocupar?

É fácil oferecer algo que vai fazer com que a pessoa tenha mais tempo (real ou mental) na vida. Mas não é tão simples fazer com que esse tempo seja gasto com coisas positivas. Tempo livre é uma coisa ótima se você souber aproveitar para aquilo que te deixa feliz, te faz bem. E trocar uma ida ao supermercado por uma hora navegando pelo Facebook não é exatamente o que eu considero uma boa troca.

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Roberta Roth
O Centro

Jornalista, Brasileira e em dúvida. Já deitei no trilho do tram em Amsterdã.