Humanos tem essa estranha mania de achar que estão no controle de suas vidas

Aryel Martins
O Centro
Published in
3 min readMar 6, 2018

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“Vai dar tudo certo” era (e ainda é) o mantra.

Não vou entrar no famoso “cada escolha uma renúncia”, mas para cada opção que fazemos na vida, temos que admitir que existe bem menos controle do que se imagina.

“Faça X, Y e Z e tenha sucesso nos negócios”; “10 exemplos de pessoas que largaram tudo e formam viajar pelo mundo”; “Guia de como deixar seu emprego e abrir seu próprio negocio…”; “Seja mais feliz fazendo isso…”.

A oferta de ideias geniais enlatadas, de pessoas (que não existem) que fizeram escolhas arriscadas e deram certo, é bastante cruel. Vendem irrealidades.

Podemos fazer cálculos, desenhar rotas, consultar as estrelas, medir o terreno, mas no final cada escolha que fazemos contamos, lá no fundo, com uma pitada de sorte. Esperando sinceramente que o acaso seja gentil pelo menos dessa vez.

Quer dizer que não importa o que eu faça, mesmo querendo muito, eu só dependo da sorte?

Claro que não. Mas se levar em consideração que desde que você nasceu o seu futuro já estava sendo traçado, veremos que nosso estilo de vida já estava pré-determinado faz tempo. O lugar em que você nasceu, o quanto de dinheiro sua família tem, quem educou você, os lugares aos quias frequentou, as pessoas que estão a sua volta, e por aí vai. A sensação de liberdade que temos na verdade é o somatório de inúmeros fatores. Somos uma construção social, uma mistura de várias referências e aspectos independentes, que juntos formam os pilares que sustentam nossas escolhas e gostos.

Estou parecendo pessimista e determinista, verdade. Mas analisando friamente cada passo de nossas vidas, parece que não vamos muito além do que já esperavam de nós (ou o que nós mesmos esperamos). Veja bem, estou falando no sentido metafísico do assunto, o conjunto de aspectos que levamos em consideração em nosso íntimo, que cria uma bussola que nos dá uma caminho a seguir. Sem contar todo o processo de imposição moral e de papeis sociais, relacionados principalmente às regras e formas dos dogmas religiosos, em especial a moral-cristão, na nossa sociedade.

E onde entra a sorte? E a minha vontade, fica aonde?

Ué, fica com você. Cada um faz da sua vida o que bem entender. Mas apenas dentro do cardápio de opções que tenha sido apresentado anteriormente. Feito isso, torça para que outros fatores, os quais você não tem qualquer controle, corroborem com as suas expectativas.

Nada disso significa que não se deve combater desigualdades, por exemplo. Ou tornar a vida de pessoas e grupos menos favorecidos, mais digna. Mas no final, cada um cria sua própria narrativa e ficções para justificar suas escolhas. Todo mundo é um floco de neve especial. Todos são especiais. E se todos são, logo, ninguém é!

Diz ai, to sendo niilista de mais?

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