Fonte: Pinterest

Nem todo choro é de tristeza

Carol Oliveira
O Centro
3 min readFeb 8, 2018

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Para começar esse texto preciso dizer que estou no meio de uma das muitas crises que me fazem chorar. Eu sinto a garganta travar e as lágrimas escorrerem sempre que alguém vem com a clássica pergunta:

“Tá tudo bem, mesmo?”

Putz, esse “mesmo” é sempre o culpado, pois eu sei que não tô bem e tento só disfarçar, porque explicar dá um trabalhão e eu nunca sei por onde começar. Mas quando a pessoa enxerga sabe-se-lá-como que eu não tô “tão” bem assim, ela inclui essa simples palavrinha com o intuito de me fazer falar. Porém, muitas vezes eu não quero falar para não chorar.

Então eu falo que tô no meio de uma crise de ansiedade e agradeço o interesse, mesmo que na verdade, lá no fundo, eu quero desabar e falar até minha garganta secar junto com minhas lágrimas que, dependendo da profundidade do assunto, vão escorrer até minhas canelas.

Eu não gosto de chorar, mas ao mesmo tempo sei que não tem outro jeito. Não é a mesma coisa que chorar de tristeza, é claro, pois eu sei que chorar de tristeza é sofrer. Eu sofro por ter ansiedade, mas ao mesmo tempo esse sofrimento não é algo tão pesado assim, comparado ao sofrimento de uma pessoa com câncer por exemplo.

Eu choro porque parece que é a única maneira de sentir um pouco menos essa angústia que se apodera do meu ser de vez em quando. Essa sensação de angústia, que muitos identificam como medo, nada mais é do que ansiedade.

Neste momento, por exemplo, eu não sei identificar o que causou essa ansiedade. Minha psicóloga diz que pode ser a ansiedade pela faculdade que logo vai começar, mas pode ser também o fato de que nos últimos meses eu estava apaixonada e essa paixão não deu em nada.

Pode ser também o fato de que estou com alguns planos de morar sozinha no ano que vem e eu simplesmente odeio planos, pois planejar, para mim, é tentar controlar algo. E eu não quero mais controlar nada. Confuso né? Eu sei, mas tudo na minha mente é sempre tão confuso.

E quando tudo fica confuso e eu não sei o que fazer, e alguém vem perguntar se tá tudo bem, eu choro. Isso anda acontecendo com uma certa frequência, porque parece que a cada dia eu sei menos o que fazer. Nestas horas a Carol versão corajosa parece que está em coma e tudo fica nublado e sem rumo.

Agora preciso parar alguns segundos para respirar, se não vou começar a chorar de novo. Reler este último parágrafo me fez sentir uma vontade enorme de soltar as lágrimas, mas não quero. Meus pais estão no mesmo ambiente no momento e eu não quero explicar. Talvez seja por isso que quero tanto morar sozinha. Para poder, simplesmente, entrar debaixo do chuveiro ou sentar no chão da cozinha, e chorar.

Chorar até o coração dizer chega, o nariz entupir, e não sobrar mais nenhuma lágrima pelo menos pelas próximas 24 horas. E poder sentir tudo isso sem ninguém perguntando se tá tudo bem, porque lá no fundo eu sei que tá tudo bem, mas começo a perceber que eu posso estar bem, e ainda sim, sentir esse aperto na garganta. Pois nem todo choro é de tristeza, às vezes são só lágrimas que precisam sair para dar lugar ao sorriso.

Isso nada mais é do que a minha Ansiedade. Ela não tem explicação, não tem motivo, não tem hora para chegar e nem para ir embora, ela simplesmente faz parte de mim.

Agora, toda vez que sinto que cheguei num ponto crítico e preciso me reerguer, coloco a música “Tocando em frente”, na versão cantada pela Maria Betânia, e, respirando fundo, deixo minhas lágrimas rolarem. Tá tudo bem.

“Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei”

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Carol Oliveira
O Centro

Diante de tudo, escrever ainda é a melhor solução.