O dia do cão

Andressa Boll
O Centro
2 min readFeb 14, 2018

--

Saiu de casa sem tempo de tomar café, passou a noite em claro pensando em como seria aquele dia. O cabelo não se ajeitou, como já esperado e aquela espinha gigante bem no meio da testa deixava tudo ainda mais difícil. Desceu as escadas correndo, quase bateu de frente com o vizinho do qual não gostava. O movimento para evitar o choque com aquele ser humano que lhe causava repulsa a fez deixar cair as inúmeras folhas, ainda não grampeadas, pelo corredor. Juntou-as e saiu correndo. Viu seu ônibus passar no ponto exatos dez segundos antes de ter chegado lá. Com suas folhas bagunçadas, seus cabelos despenteados e com uma espinha reluzente no meio da testa, foi cabisbaixa esperar o próximo ônibus.

Cinco minutos depois o ônibus chegou. Entrou. Havia esquecido a carteira em casa, mas por sorte tinha dinheiro solto dentro da bolsa. Porém, como era de se esperar, o cobrador não tinha troco…

Se existisse um dia para chamar de dia do cão, esse dia era aquele.

Desceu do ônibus, virou o pé, foi mancando. O elevador estava em manutenção e lá se foi subir 14 lances de escada. Chegou até seu destino e resolveu arrumar aquela bagunça toda. Mas, espera aí… Onde estava a folha número cinco? Se perdeu na bagunça daquele dia. Olhou para o relógio, faltavam 10 minutos para um dos dias mais importante da sua vida… Esperou por aquele momento nos últimos três meses, como uma criança espera o brinquedo novo no Natal. E lá estava ela, num dia decisivo, porém azarado.

Olhou mais uma vez para o relógio… Era hora de sair da cama e encarar aquele dia, de verdade. Sem neuras, sem medos, sem fantasmas. Hoje a ansiedade não a faria de refém. Não dessa vez.

--

--

Andressa Boll
O Centro

Jornalista por formação, product manager por destinos da vida, cat lover, cevas artesanais, vinhos, viagens e sorrisos.