Pare a roda-gigante que eu quero descer!

Liliane Machado Rodrigues Mazzucco
O Centro
Published in
5 min readMar 15, 2018

Vou ali no trem fantasma…

Artista: Mounia

Pare a roda-gigante que eu quero descer!” Foi mais ou menos o que gritei por dentro quando me vi cansada diante de minha atual vida profissional, há alguns meses. Aquele esquema desgastante vinha me corroendo por dentro e fazendo eu funcionar como um looping: dando voltas e mais voltas, vendo e fazendo sempre as mesmas coisas, no mesmo lugar, com as mesmas pessoas. Quanta mesmice, quanto tédio!

É aquela história: vamos ao parque de diversões, vemos brinquedos e mais brinquedos, alegres, diferentes… Nossos olhos brilham! No entanto, uma atração sempre acaba nos chamando a atenção. Comigo foi a roda-gigante. Ela representava perfeitamente minha escolha profissional até pouco tempo.

Turismo foi a primeira graduação, minha prima escolha profissional, realizada lá na adolescência e início da fase adulta. Nunca exerci efetivamente a profissão, apenas desempenhei estágios na época. Trabalho? Acabou sendo sempre na aérea jurídica. E o que aconteceu? Mais uma escolha que tive que realizar: outra graduação, agora em Direito. Certamente, durante toda a nossa vida teremos que lidar com uma enxurrada de decisões a serem tomadas. E todas as escolhas que desempenhamos afetam nossa jornada, de alguma forma. Logo, somos exclusivamente responsáveis por nossa escolha profissional, ainda que influenciados por dependência financeira, pela sociedade ou pressionados pela família. Onde trabalhamos e o que exercemos, ainda que por conveniência ou necessidade, é resultado da tomada de decisões, por vezes, equivocada. E assim foram-se quase vinte anos de minha vida, trabalhando com o Direito, minha roda-gigante.

Nos primeiros anos até que foi bacana, realmente, eu curtia o mundo jurídico (como lá exprimimos, âmbito jurídico). E precisava trabalhar. Também não posso desdenhar, pois foi nessa área que consegui me estabilizar financeiramente. Contudo, nos últimos anos fui percebendo que despachos, prazos, petições, etc., já não estavam fazendo mais sentido para mim. Não sei se é resultado de nossas mudanças internas ou se apenas nos cansamos, mas chega um determinado momento da vida, neste caso, na profissão, que estacionamos e pendemos para o que é mais saudável para nós, para o que dá mais prazer do que unicamente o dinheiro. Acredito que não seja com todos, certamente. Admiro e desejo toda a felicidade profissional para você, que optou por uma profissão e está contente — até hoje. Bem, mas voltando à minha pequena história, deste ponto em diante, comecei a trabalhar apenas buscando o retorno financeiro. As funções eram desempenhados ainda com eficiência, claro. Mas faltava algo. O processo já se tornara robotizado.

E então, a vida me pregou uma peça que acabaria fazendo com que eu me sacudisse totalmente e em todos os sentidos: meu irmão faleceu. A partir daquele momento, além das crises de ansiedade terem voltado com força total, dei-me conta do que estava fazendo comigo, com minha vida. A inoportuna questão que martelava minha cabeça diariamente era: “saio desse emprego para fazer o que amo ou permaneço porque ganho bem”? Precisava mudar! Precisava valorizar cada momento, até mesmo no ambiente profissional. Ou seja, eu tinha que descer da roda-gigante e partir para um trem fantasma.

Na roda-gigante o ato em si estava repetitivo, metódico, previsível, rotineiro, engessado. Eu rodava, rodava, rodava e estava sempre no mesmo lugar, fixada. No trem fantasma, pensei: “passarei por sustos, não sei o que esperar, mas terei muitas emoções, surpresas”. E esse processo comparativo contribuiu para uma decisão totalmente intimidante e aterrorizante, que responde à pergunta acima: vou mudar, vou trocar de brinquedo.

Artista: Elliana Esquivel

É assustador, sim! Você escolhe uma profissão lá na juventude, com dezessete, dezoito anos, por vezes pressionado pela sociedade, pela família ou por si mesmo e, ao final, o resultado acaba sendo obtido na sorte, porque você também não sabe o que lhe espera, se você se dará bem profissionalmente ou se a decisão tomada foi a mais correta. Hoje, passando dos trinta anos, compreendo que temos que nos decidir precocemente por algo que nos irá acompanhar a vida inteira ou, como em meu caso e de outras pessoas na mesma situação, por um bom tempo.

Sei o quanto é difícil e quase impossível exercer uma profissão, uma ocupação ou um trabalho com prazer, mas após esse fato pessoal, apenas indagava: “o que estou fazendo com a minha vida?” Preciso mudar, sair dessa área, priorizar meus sentimentos para ter um dia-a-dia melhor, mais saudável e feliz. Preciso fazer uma nova escolha. E fiz! Sabe aquele meme da pessoa jogando os papéis para o alto porque não precisa mais deles? Foi exatamente desse jeitinho que me senti. Livre! Não programei um ano sabático porque, afinal, não tinha nenhum projeto em mente e muito menos capacidade financeira para bancar uma viagem de autoconhecimento, por exemplo. Mas tinha a insatisfação profissional e foi o suficiente para dar o pontapé inicial.

Deu medo? Deu e ainda dá. É um mundo desconhecido. Você imagina o que é partir para um ambiente profissional totalmente diferente do que você está acostumado? Tudo o que é novo, é bacana, mas dá um medão. Sem contar o processo de mudança, o período do “durante”. É pavoroso, mas temos que tentar. Aprendi, ainda que um pouco tardiamente, que nós amadurecemos quando nos arriscamos mais. E cá estou, apostando em uma escolha que resolvi bancar. Há um longo caminho pela frente, ainda estou um pouquinho perdida, mas a coragem se sobressai ao medo e vai me dando o suporte que necessito para continuar. Afinal, sempre há tempo para recomeçar, nunca é tarde para mudar, para escolher, para trocar de “brinquedo”. O segredo é ter paciência, muita paciência. E esperança.

Não podemos ter tudo, lógico. Mas escolher é um direito. O que importa é termos ciência de que somos feitos (e temos o poder) de escolhas, que nos favorecem indiscutivelmente para evitar os nossos tantos “e se?” da vida.

Enquanto isso, vou torcendo para que na estrutura do trem fantasma haja dois andares e que me deem sustos maneiros! E se eu cansar do trem fantasma, não tenho medo de voltar para a roda-gigante ou, quem sabe, ir para um barco viking. Afinal, é aquela velhíssima frase: a vida é feita de escolhas. E com nossa escolha tudo pode dar certo ou pode dar errado. A diferença está dentro de você: projetar no resultado positivo, vai dar certo!

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Liliane Machado Rodrigues Mazzucco
O Centro

Turismóloga turista, agnóstica, doida por música, cinema, arte urbana, bateria, vinho, cerveja, política, Irlanda e por aí vai… 🗺 instagram.com/naoperaviajei