Sem final

Onde começo ou termino, não importa.

Camila Felix
O Centro
2 min readOct 9, 2017

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Ilustração: Camiz

Sempre escutei meu pai dizer que nunca termino as coisas que eu começo.

Tenho que concordar com ele. Porém, aprendi que isso não precisa ser uma coisa ruim. A fluidez me ensinou muito mais.

Quando criança, escutava minha irmã reclamar que eu abandonava as brincadeiras pela metade, ou até mesmo antes de começarem. Na adolescência, comecei a tocar vários instrumentos e depois abandonei todos. Aos 17 anos, larguei a escola por um ano e concluí o ensino médio depois de muita bronca. Em compensação, aprendi um monte de coisa enquanto matava as aulas na rua.

Em 2002, passei no vestibular com louvor e choquei a sociedade ao mostrar que não era burra. Entrei na UFF, cursei história até 2006 e nunca terminei. O mesmo aconteceu com design de moda, que depois de quatro anos eu enjoei daquilo e decidi que seria mais divertido aprender na prática. Tive várias profissões ao longo dos meus 35 anos, já fiz de tudo e mais um pouco. Óbvio que eu sou freelancer há anos, já que não tenho diploma, MBA e o ambiente corporativo me deixa doente.

Começo, perco o interesse e mudo.

Nada me impede de voltar, mas nunca aconteceu.

Sobre os meus relacionamentos, só treta. Depois de ser acusada de várias coisas pelos meus ex, decidi que ficar sozinha era o melhor negócio. Há onze anos eu sou solteira, pois não posso ser propriedade de alguém, ou ter o meu direito de ir e vir limitado. No momento, estou num relacionamento aberto que vai muito bem, obrigada.

Já me chamaram de relaxada, me disseram que não tenho foco e me diagnosticaram com DDAH. Também já falaram que não tenho um pingo de vergonha na cara. Tudo isso me levou a reflexões profundas e crises de ansiedade bizarras. Já cheguei a pensar que sou incapaz de fazer qualquer coisa e até me considerei irresponsável demais pra um adulto.

O que pode ser considerado desinteresse, na verdade é um interesse latente por muitas coisas diferentes. Sou um ser mutável por natureza, com atestado astrológico e espiritual. Portanto, no lugar de final, prefiro ver como um novo começo cheio de novas possibilidades.

O novo me inspira e me dá muito tesão de viver. Adoro a espontaneidade e a liberdade do meu estilo de vida. Um exemplo: não consigo comprar uma passagem de avião, pois não tenho planejamento pra isso. Prefiro chegar na rodoviária a hora que bate a vontade e ir.

Confesso que o universo sempre me ajudou e de uma forma mágica, as coisas se encaixam e dá tudo certo. Como não há planejamento, não existe a possibilidade de dar errado. O que existe são várias opções, algumas melhores que outras. Dessa forma, o que vem é lucro. Sem começos ou finais, apenas fluindo e vivendo.

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