Sem final
Onde começo ou termino, não importa.
Sempre escutei meu pai dizer que nunca termino as coisas que eu começo.
Tenho que concordar com ele. Porém, aprendi que isso não precisa ser uma coisa ruim. A fluidez me ensinou muito mais.
Quando criança, escutava minha irmã reclamar que eu abandonava as brincadeiras pela metade, ou até mesmo antes de começarem. Na adolescência, comecei a tocar vários instrumentos e depois abandonei todos. Aos 17 anos, larguei a escola por um ano e concluí o ensino médio depois de muita bronca. Em compensação, aprendi um monte de coisa enquanto matava as aulas na rua.
Em 2002, passei no vestibular com louvor e choquei a sociedade ao mostrar que não era burra. Entrei na UFF, cursei história até 2006 e nunca terminei. O mesmo aconteceu com design de moda, que depois de quatro anos eu enjoei daquilo e decidi que seria mais divertido aprender na prática. Tive várias profissões ao longo dos meus 35 anos, já fiz de tudo e mais um pouco. Óbvio que eu sou freelancer há anos, já que não tenho diploma, MBA e o ambiente corporativo me deixa doente.
Começo, perco o interesse e mudo.
Nada me impede de voltar, mas nunca aconteceu.
Sobre os meus relacionamentos, só treta. Depois de ser acusada de várias coisas pelos meus ex, decidi que ficar sozinha era o melhor negócio. Há onze anos eu sou solteira, pois não posso ser propriedade de alguém, ou ter o meu direito de ir e vir limitado. No momento, estou num relacionamento aberto que vai muito bem, obrigada.
Já me chamaram de relaxada, me disseram que não tenho foco e me diagnosticaram com DDAH. Também já falaram que não tenho um pingo de vergonha na cara. Tudo isso me levou a reflexões profundas e crises de ansiedade bizarras. Já cheguei a pensar que sou incapaz de fazer qualquer coisa e até me considerei irresponsável demais pra um adulto.
O que pode ser considerado desinteresse, na verdade é um interesse latente por muitas coisas diferentes. Sou um ser mutável por natureza, com atestado astrológico e espiritual. Portanto, no lugar de final, prefiro ver como um novo começo cheio de novas possibilidades.
O novo me inspira e me dá muito tesão de viver. Adoro a espontaneidade e a liberdade do meu estilo de vida. Um exemplo: não consigo comprar uma passagem de avião, pois não tenho planejamento pra isso. Prefiro chegar na rodoviária a hora que bate a vontade e ir.
Confesso que o universo sempre me ajudou e de uma forma mágica, as coisas se encaixam e dá tudo certo. Como não há planejamento, não existe a possibilidade de dar errado. O que existe são várias opções, algumas melhores que outras. Dessa forma, o que vem é lucro. Sem começos ou finais, apenas fluindo e vivendo.