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Todo o respeito pelo Kondzilla

Tirou o funk da periferia e colocou na festa do playboy

Aryel Martins
O Centro
Published in
3 min readSep 11, 2017

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Aproveito o tema livre desta quinzena do Centro para falar sobre algo bem aleatório mesmo. Faz um tempo que eu queria falar sobre esse cara.

Eu não gosto de funk. Esse gênero em específico pouco me agrada musicalmente falando, e muito menos na mensagem que as músicas na maioria passam (maioria, não todas), com uma carga machista e misógina muito grande. Mulheres são o tema principal, quase que exclusivo, de boa parte dos compositores e cantores de funk (e sua maioria é de homens, é claro)

Entretanto, compreendo o funk como manifestação cultural e também a sua importância para as comunidades periféricas, onde não só surgiu, mas para as quais também é importante economicamente. Muitas pessoas tem não apenas a música, mas também shows, festas e afins como única fonte de renda. E para as comunidades, como opção de lazer também. Na maioria das vezes, a única!

Se assim como eu, você conhece pouco sobre esse universo, esse mini doc tá valendo muito.

Há poucos anos alguns amigos começaram a falar sobre um tal de Kondzilla. Que era no canal desse cara que quando aparecia alguma música nova, não muito tempo depois ela tocaria nas festas e carros de som por ai. E que os clipes eram todos feitos com uma qualidade pouco usual. Bem produzidos e visivelmente com recursos técnicos e financeiros diferenciados.

Logo pensei:

“Funk, jura né? Tem gente que se inscreve em canal de funk no YouTube?” “Tem gente que gasta dinheiro fazendo clipe de funk?” “Que lixo isso aí, nem vem…”

Pobre ignorante.

Não faz muito tempo, nos videos sugeridos do YouTube, me deparo com esse clipe do Racionais:

Boom: “Um filme de Kondzilla”

Não é funk, ok! Rap também aparece no currículo do cara. Mas vamos combinar: você não vê essa qualidade em clipes de música todo o tempo, certo? Recursos cinematográficos para dar vida à letra da música.

Trabalho com audiovisual há 5 anos, e se tem uma coisa com a qual você sempre precisa se preocupar para trabalhar nesse meio é estar atualizado. Sempre buscando referência. Fui saber mais sobre o cara!

Konrad Dantas, 28 anos, nascido e criado na Vila Santo Antônio, comunidade pobre da cidade de Guarujá/SP. Cresceu em um local onde o funk já era muito presente. Assim que teve oportunidade começou a estudar cinema e produzir clipes para amigos. Resumindo, anos depois, fundou a Kondzilla Filmes, não só produtora mais também agência de mídia. Canal no YouTube com mais de 5 BILHÕES DE VISUALIZAÇÕES. Ele usou as referências certas. Identificou o seu público alvo e apostou alto.

Já se falava em funk fora das comunidades mais pobres há vários anos, sim. Mas depois que caras como o Konrad trouxeram a mão pesada de qualidade e um visual atraente para uma música tida como simplória, os produtos da marca Kondzilla se tornaram referência para todo um segmento específico da industria da música, servindo de pulverizador desse estilo para fora das comunidades, chegando em praticamente todo o tipo de festa, classe social e afins.

Não só como diretor, mas como empresário, ele transforma cantores e cantoras em marcas. Essa entrevista para o Meio e Mensagem falou um pouco sobre os negócios que foram criados depois que apostou no Funk e no audiovisual:

Escrevi esse texto como um “mea culpa” por ter sido preconceituoso com o trabalho do cara de início. Hoje percebo como ele pode e deve ser referência para outros estilos musicais. Dá uma olhada no canal do cara — tudo bem não gostar, também, mas se liga como é bem feito:

Gosto musical não se discute. No livro dos gostos, as páginas estão em branco. Não curto funk, não faço parte desse mundo, mas todo o respeito para os profissionais que fizeram uma cultura marginal virar mainstream.

www.aryelmartins.com/ | instagram.com/aryel_martins/

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