Um copo de empatia para todos, por favor!

Liliane Machado Rodrigues Mazzucco
O Centro
Published in
4 min readMar 27, 2018

Hoje é por minha conta…

Artista: Cris Valencia

Engraçado esse negócio de empatia, não? Não falo de toda a população mundial. Não. Esse texto diz respeito, única e exclusivamente ao nosso povo — o povo brasileiro. Lá “fora”, existem inúmeras culturas e povos, cada um com seus costumes e ensinamentos sobre moral, inclusive, com ou sem empatia. Ok. Tá, e aqui no Brasil? Pois então…

Vamos vivendo, nos últimos anos, um caos comportamental tão grande que até mesmo a empatia tornou-se uma característica meio que “unicorniana” — leia-se, impossível de encontrar e existir. É extremamente crucial para o nosso desenvolvimento pessoal, para as nossas relações e para a sociedade em si, que nós pratiquemos o esforço de experimentar a realidade de outras pessoas também. E fazemos isso através da empatia.

Sabemos que empatia é a capacidade de reconhecer a dor e sentimento do outro ao ponto de se colocar no lugar, sentir o mesmo e ajudar o semelhante. Não se colocar no lugar tornando ou querendo ser o outro. Mas de simplesmente saber e sentir o que ele sente, compartilhando de sua dor e ajudando-o. Empatia é o ato de tentar compreender a perspectiva de outrem, suas emoções e realidade.

Uma pessoa empática se comove e sente aquilo que o outro sente, com mais facilidade, por conta da sua natureza sensível e emotiva. Ou seja, algo quase impossível de acontecer por aqui pelo nosso país, hoje, por exemplo. O brasileiro anda tão estagnado e preocupado com sua própria vida, que qualquer fato que ocorre com o outro, ecoa com um belo e sonoro “bem feito!”. “Nossa, quão trágica você…” Nananinanão! Com toda a infelicidade do mundo, estou sendo realista. Fato! É só ver o que rola de publicações com discursos enraizados de ódio, egoísmo e apatia pela internet.

Nessas horas, roubartilhando algumas palavras de Augusto Cury, penso que a empatia é uma função importante, que nos torna mais inteligentes e demonstra o grau de maturidade do ser humano. Taí! Como existe esse estigma de que parte do povo brasileiro é “burro” quando vota e escolhe nossos representantes, falta inteligência. Logo, ausente a inteligência, carência de empatia. E quem perde? Todos nós.

Um triste exemplo recente sobre a inexistência de empatia que anda rolando entre nós, brasileiros, são os incontáveis textos e explanações decorrentes da morte de Marielle Franco. Li um texto sobre o assassinato da vereadora, de Cynara Menezes, que diz muito sobre a personalidade que atualmente o brasileiro veste: da capacidade de, além de ser egoísta, exercer o mal para com os outros, por meio do forte instrumento chamado internet, destruindo qualquer possibilidade e esperança de nos tornarmos “brasileiros” melhores. Os brasileiros, nesse exemplo e texto, estão aleijados de empatia: “Não só são incapazes de se solidarizar com a dor e a tristeza alheias, como tripudiam delas, pisam em cima. Em vez de chorar a perda sofrida pelo outro, dizem que é mimimi”.

O mais irônico, porém triste, é que a falta de empatia está se entrelaçando em todos os tópicos de nossa vida diária: na violência contra a mulher e ao idoso, no racismo, no bullying, enfim, na intolerância como um todo. Além de todo esse déficit e atitudes negativas e cruéis, não estamos encontrando a empatia em nenhuma situação. E isso me assusta. O que está acontecendo com o nosso povo, Brasil?

Entretanto, ao trabalhar nesse texto, pesquisando, lendo e assistindo a alguns materiais, acabei compreendendo que podemos exercitar a empatia, melhorar a vida do próximo e, consequentemente, o contexto atual de nosso país. “Como assim, Liliane? Como podemos nos tornar uma pessoa (ou mais) empática e como isso ajudará o Brasil?” Uai! Mesmo não sendo um ser humano perfeito e tendo ciência do quão difícil pode ser praticar, penso que devemos ao menos tentar.

Podemos nos tornar mais empáticos, parando de achar que os nossos problemas são os únicos, observando e escutando mais os outros e seus sentimentos, tendo mais compaixão, o coração aberto e a cabeça livre, dando mais sorrisos e gestos amáveis (ainda que somente um abraço), não julgando, discriminando ou criticando diante da fragilidade de outrem, realizando um ato sem interesse em receber algo em troca, enfim, sendo clichê, colocando-se no lugar de outra pessoa de forma altruísta.

Naturalmente, a partir do exercício diário de empatia, poderemos dar origem a atitudes compassivas, a parcerias, a ações humanitárias, a projetos solidários e a ações filantrópicas. Expressando compaixão e tendo tato para com o que o outro sente, com empatia, existirá a possibilidade de se criar uma corrente do bem. Até encontrei um vídeo que descreve de uma forma simples e doce o poder da empatia (cheguei a me emocionar ao vê-lo) e espero conseguir tocar, de alguma forma, você, leitor.

A “coisa tá um pouco feia”, mas a chave é resgatar e praticar a empatia. Não é fácil, especialmente, diante da vida agitada e cheia de percalços que temos que lidar diariamente. Mas aos poucos, vivendo uma lição a cada dia, podemos conseguir. Mesmo sendo realista, ainda tenho fé de que o povo brasileiro está sob o efeito de alguma droga ou encontra-se em um pesadelo e, a qualquer momento, acordará e reagirá de uma forma mais positiva, mudando suas escolhas e ações. Enquanto isso não acontece, ofereço um copo de empatia para todos, por minha conta! E brindemos juntos! Muita empatia para nós! Estamos precisando…

PS.: aproveitando o texto, como cinéfila doente que sou, deixo como sugestão três filmes que exemplificam a prática da empatia. São eles: Intocáveis, Milk — A Voz da Igualdade e Patch Adams.

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Liliane Machado Rodrigues Mazzucco
O Centro

Turismóloga turista, agnóstica, doida por música, cinema, arte urbana, bateria, vinho, cerveja, política, Irlanda e por aí vai… 🗺 instagram.com/naoperaviajei