Vou me mudar pro Uruguai
Ao som da música homônima que me faz mexer as ancas e bater pezinho toda vez que a escuto, fiquei imaginando quantas vezes já me propus sair do país. Já quis me mudar pros Estados Unidos, pro Canadá, pra França, pra África do Sul e pra Europa como um todo, qualquer cantinho estaria bom.
Acho muito útil que pensamento, imaginação e desejo sejam coisas tão fáceis que a gente tem até dormindo. O que complica é decidir, se empenhar, escolher (e renunciar) e fazer acontecer o que quer que seja, não apenas juntar os trapos e mudar de CEP.
Quase todos os dias há motivos pra querer trocar de país. Hoje mesmo, na capa do jornal, gritava a notícia de que em uma certa região da cidade há falha na entrega de serviços de água e energia porque qualquer manutenção na rede requer escolta da polícia. Não amo minha cidade, confesso. Mas amo a minha rua, meu bairro, a cidade onde cresci, a cidade onde morei sozinha pela primeira vez. E amo as histórias que se fizeram nesses locais.
Os pontos turísticos dos lugares de sempre são aqueles que contam histórias. A rua onde meus pais moravam quando eu nasci, e onde quase dois anos depois eu dava a volta na quadra de mãos dadas com a minha mãe, todos os dias quando ela chegava pra almoçar, é um local qualquer e sem graça, onde algo muito importante aconteceu para mim.
Essas histórias pessoais e intransferíveis são como fios invisíveis que nos prendem. Um ou dois não bastam, mas junte a eles as histórias das pessoas e temos um emaranhado infinito de motivos para não sair do lugar geográfico. Ou, ainda, permite um certo movimento, desde que seja possível retornar, quando bem se entende, para o ponto central.
Assim como me ver livre da teia da maldita aranha que insiste em fazer moradia no meu banheiro, é bem difícil desconectar todos os fios da história, da ligação emocional que temos com lugares e pessoas que representam sentimentos e acontecimentos importantes.
Deixar essa história toda para trás dá um trabalho danado. É claro que do outro lado dessa moeda há muitas possibilidades, um mundo inteiro de novas histórias por fazer. Enquanto eu não consigo decidir e também não permito que decidam por mim, vou dar o play mais uma vez nessa viciante canção e dançar mais um pouquinho.