Contos

O Reencontro

Com a Pureza do Ser

Pablo Gauna
O Chamado do Guerreiro
5 min readApr 27, 2020

--

*(O conto a seguir foi baseado em experiências reais)

O que está acontecendo?

Era uma porta ordinária, num longo corredor branco reluzente. Estava aberta. De longe era possível notar a enorme sala que havia lá dentro, mais branca e reluzente ainda. Na entrada, um tapete no chão: “Bem-Vindo”.

Fotografia: Jannis Lucas

Tirei meus calçados antes de entrar. Estava com as mais novas meias brancas de algodão que havia comprado. Como é bom pisar com elas aqui neste piso! O chão daquele local era tão limpo e polido que podia-se ver meu reflexo ao agachar-me.

Conforme caminhava, aquela sala branca revelava-se um espaço maior do que parecera visto de fora e, bem ao fundo dela, conseguia enxergar uma luz natural, como uma aurora, saindo de outra porta. Chegar até ela era como percorrer um campo de futebol; após 100 metros de caminhada, finalmente estava alcançando-a.

Agora uma brisa tateava todo o meu corpo, fazendo com que os pêlos se alçassem de arrepio por um frio repentino, seguido de um prazer que era sentir aquele frescor.

- Meu Deus! É uma floresta!

Retiro minhas meias e começo a andar descalço no gramado que ali encontrara.

Era um campo, com um verde exuberante, flores ao redor e árvores mais adiante; a musicalidade invadira meu escutar cintilante, que logo preenchia a curiosidade mistificante.

Não dava pra acreditar no que estava acontecendo. Naquele momento, a porta pela qual saíra (ou será entrara?) agora não existia mais: eu havia sido teletransportado para outra dimensão.

Uma pausa para Ser, uma pausa para Estar

Aquela brisa ainda tomava conta dos meus sentidos, estimulando-me prazeres de um relaxar que não sentia em meu corrido dia-a-dia. Fazia um bom tempo que não encontrava-me com a natureza e, após alguns momentos de pensamentos incessantes, finalmente apenas estava lá.

Agora conseguia sentir os raios de sol esquentando meu rosto, braços, mãos e pés. A sensação era de vigor, das células se energizando com aquelas cargas de Vitamina D. Eu pensava que minhas novas meias brancas de algodão eram as coisas mais macias que alguém poderia tocar, mas enganei-me ao caminhar pelos límpidos gramados verdes daquela planície.

Logo adiante avisto um grupo de árvores e, espontaneamente, marcho em direção à elas.

- Muito bonitas, mas por que vim até aqui?

Resolvo observar ao redor - como se buscasse algo - e, de repente, deparo-me com a maior árvore que já vira em toda minha vida. Quase precisei deitar-me ao solo para encontrar seu topo. Bastou forçar um pouco o pescoço pra trás, mas ainda assim não era possível… era muito alta.

Fotografia: Liam Pozz

Seu tronco era um pouco mais modesto, sendo possível abraça-la de maneira confortável, porém impossível de alcançar uma mão da outra. Talvez com mais alguém…

Consegui sentir uma energia muito aterradora ao fazer isso: parecia que estava descarregando todas as energias negativas que trazia comigo e, ao mesmo tempo que fazia isso, conseguia sentir suas cascas e seus musgos com meu rosto e as palmas da mão. Poderia ficar um tempo lá.

- Ãhn?

Um barulho vindo da direção de uns arbustos à minha esquerda. O que é isso? Aproximo-me cautelosamente e, de repente, descubro que é uma criança.

O que está acontecendo aqui, afinal de contas?

Ainda não havia caído a ficha de onde eu estava e o fato daquela criança aparecer naquele sonho, naquela realidade… enfim… me deixara intrigado.

- Olá! Você quer brincar?

Quanta pureza, quanta ingenuidade. O que uma pessoinha como esta faz por aqui?

- Eeehhh… na verdade estou caminhando.

- Caminhando? Pra onde?

- Bem… eu… estava na rua e… (…)

- Você se perdeu!

- Ehhh…

- Calma, moço, eu te ajudo! Eu conheço tudo aqui, vem!

Repentinamente, aquele pingo de ser pulou em meu colo e apontou em direção à trilha, em meio àquela paisagem, que deveríamos seguir.

Fotografia: Ante Harmesmit

Quando menos percebi, uma felicidade havia me atingido em cheio, e não tive receios de demonstrar isso com um grande sorriso involuntário que encontrava-se estampado em meu rosto.

“É a energia desta criança”

Conforme caminhávamos, as coisas ao meu redor ficavam mais vivas e coloridas: os ouvidos estavam aguçados a ponto de sentir as vibrações dos nossos passos ao solo; a confusão de aromas por conta das flores no caminho; os detalhes que encontrava nos pássaros que sobrevoavam, rasantemente, nossas cabeças.

A esta altura, encontrava-me novamente existindo naquele lugar. Foi questão de avistarmos um rio ali próximo, nos entreolharmos euforicamente e corrermos o mais rápido possível até lá para desfocarmos da trilha que, até então, seguíamos.

- Eu vou chegar primeiro!

- Eu que vou!

(Chuááá!!!)

- Hahahahah

- Hahahahah

Aquele dia - que começara tão estranho - agora virara um dia ideal. E assim o foi, até o por do sol…

A Despedida

O sol já estava se pondo: era hora de retornarmos às nossas casas. Depois de um dia muito agradável e divertido, era momento de despedir-me do meu mais novo amigo.

Agachei-me para dar um grande abraço nele e ali ficamos, por um momento. Ele estava muito feliz e eu também. Porém, não consegui conter minhas lágrimas da dor que sentia em partir e pensar que nunca mais iria encontra-lo.

- Não fica triste, não! O dia acabou, mas saiba que estarei sempre aqui com você, em seu coração. Pois eu sou… a sua criança interna.

Fotografia: Filipe Resmini

Gostou do conteúdo? Comente, compartilhe, deixe suas palminhas e assine nossa Newsletter para receber conteúdos gratuitos em primeira mão :)

Abraços de Falcão,
Pablo Gauna

Escritor do blog O Chamado do Guerreiro.
O Falcão também está presente no facebook, Instagram e LinkedIn.

*(Obrigado professor Edvaldo Pereira Lima por ajudar-me a resgatar minha criança interna).

--

--

Pablo Gauna
O Chamado do Guerreiro

“We are a circle within a circle, without a beginning and without an end”