Mate o inimigo do estado de espírito (em você)

Neste momento importante para o Brasil que posição você tem escolhido? Ajudar ou Atrapalhar?

André Silva
O Construtor de Fluxos
5 min readMar 18, 2015

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O que tem se presenciado nos momentos pós protestos é como o efeito de um tratamento homeopático que começa a expulsar as mazelas do corpo aparentemente agravando o quadro para posteriormente gerar uma melhora mais significativa. É o melhor instante para enxergar e compreender a nossa doença. O que fica mais evidente e por isto pode se supor o maior de todos os problemas é o mal hábito que tem demonstrado parte dos brasileiros de estabelecer julgamentos e generalizações.

A complexa mania da auto afirmação que expande o problema procurando por aprovação social. Diante a ideia que cada um alcança da verdade, hoje tem importado mais a alguns brasileiros ser reconhecido Conhecedor dela do que seu Praticante.

Frequentemente o primeiro impulso após uma ocasião — como por exemplo a dos protestos massivos populares — é o de demonstrar o erro do outro conforme o próprio ponto de vista para conquistar o reconhecimento de que se é um bom Escolhedor entre a parcela social pelo qual aquela pessoa se identifica.

Isso é viver de aparência! Pensar que trabalhar na mudança pessoal dá permissão para desqualificar o caminho do outro, ainda que seja um caminho de equívocos, só atrapalha a própria reforma íntima.

Mas também pouco importa se neste momento a carapuça servirá a alguém. Qualquer um pode e deve passar a régua concentrando no que será a partir de agora. A intenção e o esforço a que este texto propõe é o de fazermos algo efetivamente relevante para o “caminhar a resultados diferentes”.

Não aponte o dedo!

São ricos da elite branca! Votaram na Dilma! Querem intervenção militar! Falsifica carteirinha de estudante! Eles mal sabem o que é impeachment! Ganham bolsa do governo! Nem se lembra em quem votou na última eleição! Golpistas!

Bullshit!

Há duas únicas posições a que TODOS tem de escolher num momento como este. Ou você AJUDA ou ATRAPALHA. Independente da verdade, de preferências, de crenças, de opiniões, de lados (se preferir ver desta forma).

Ajuda quem tece e inicia propostas de mudanças e auto reflexão sem generalizar as situações só porque à própria vista o cenário aparenta ser uma coisa. Ajuda quem respeita o contexto diferente do outro e a sua necessidade de vivências, boas ou ruins, que o façam chegar por si só à verdade das conclusões.

Se há uns defendendo a aplicação de um regime autocrático, quem generaliza dizendo ser uma manifestação pela intervenção militar está atrapalhando. Generalizar faz estrago, porque leva à degeneração da esperança e torna algumas pessoas mais pessimistas. Existem aquelas que ainda não se tornaram críticas o suficiente para não se deixar convencer por tais afirmações. É preciso alimentar a esperança, não neutralizá-la! Pouco importa se você acha que é necessário “acordar” as pessoas da Matrix, mal somos capazes de compreender uma única face deste problema complexo da vida social, logo, sua inteligência precisa ser utilizada com responsabilidade em favor de produzir mais humanos e não Borgs, robôs, indivíduos isolados da convivência. Ao afastar pessoas de manifestações como as que espontaneamente tem acontecido nas ruas do país, desencoraja-se a convivência pública, uma necessidade social e política que há muito havia se perdido e vem sendo, aos poucos, resgatada. O espaço público privatizado pelo governo precisa ser retomado justamente pela presença e interação das pessoas.

Se não há abertura para dialogar contendo os ânimos e a sede de conversão e se há incapacidade de conviver bem com quem desperta raiva, então também se está atrapalhando. Pessoas com camisas vermelha foram quase linchadas por estarem transitando em meio à população durante as manifestações. Ainda que fosse uma camisa do PT, os diferentes também devem fazer parte de nosso mundo. Tem que se focar na essência humana de cada um, acima de tudo. A natureza é autorregulável. Por isto, não há com que se preocupar, os resultados são naturais. Se milhões saíram às ruas, milhões representam uma voz extremamente significativa. É um resultado poderoso. Precisamos ser mais naturais para deixar fluir e mais auto exigentes para corresponder às atitudes que desejamos ver florescerem.

Não há uma necessidade premente de que se convertam pessoas a “um bom pensamento”, ninguém escolhe pelo outro e cada um tem o tempo que precisa pra amadurecer a própria mente.

Nas mídias sociais é vasto o número de textos e conversas que tentam desenhar a informação por um ângulo mais ou menos particular. A questão é: qual o propósito por trás das palavras?

Desconfie de qualquer texto que tente separar a sociedade em lados, porque é um gerador de inimigos. Inimigo é aquele que se fecha ao fluxo de interação com o outro.

A verdade é real e superior à nossa condição pessoal relativa. Mas importa a verdade relativa de cada um, pois, como já dito, cada pessoa tem o seu contexto. Isso não significa que precisamos ser coniventes, isso não significa concordar com o que o outro acredita, tão pouco significa abolir conflitos. O significado é respeitar as diferenças, compreender que elas também fazem parte do nosso mundo. É conviver com o diferente de mim sem excluí-lo, e sobretudo, sem me fechar.

O grave problema dos julgadores e generalistas é que o julgamento forma inimigos, desmerece a condição pessoal e intransferível de Escolhente que cada um exerce e, sobretudo, afasta a pessoa do único mundo ao qual é possível (e importa) transformar, e do único modo pelo qual podemos fazer algo em prol daqueles aos quais não acessaram ainda a verdade que acreditamos ser real: o nosso próprio mundo pessoal. Gerar inimigos é bloquear uma via de fluxo dessa verdade real, pois do mesmo modo que ela flui de você para outro, ela flui do outro para você. Se o fluxo é rompido, não há mais este círculo de possibilidades, o que te torna mais fechado à verdade. Vale lembrar que esta verdade ao qual acessamos muitas vezes é conhecida a partir do diálogo com as “não-verdades”.

Neste momento social importa mais o modo como cada um se modifica internamente do que soluções finais externas, pois está claro àquele que presta um pouco mais de atenção à realidade dos problemas que não depende de uma única mudança para a completa “mutação” da estrutura de governo. Importa que cada um aprenda a governar a si mesmo. Importa que cesse a busca por resultados matemáticos, “plásticos” e que se observe mais pela atmosfera do comportamento, do sentimento. E por fim, importa que exista uma compreensão coletiva de que o governo é sim o retrato de sua população, porém, que uma imagem apodrecida precisa representar motivador para que o observador multiplique o que há de positivo, estimulando com todas as forças que outras pessoas também o façam. É justamente numa realidade de inúmeros problemas que estão lá inúmeras oportunidades.

Enquanto o país for a somatória de cada mundo-pessoal em interação está inteiramente na mão de cada um, por si só, a chance de fazer deste “caminhar” um mínimo diferente do que foi.

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André Silva
O Construtor de Fluxos

Pensador, investigador e “filosofista”. Pesquisa a ciência, a consciência, o espírito, linguagem, cultura, redes, etc. Mestre em C.I. Instagram: @andrefonsis