REFLEXÕES EXISTENCIAIS SOBRE EVOLUÇÃO, FELICIDADE E PÓS-HUMANIDADE

André Silva
O Construtor de Fluxos
9 min readFeb 7, 2017

Aviso: Estes textos peculiares que nesta revista específica publico são completamente livres de pretensões. Não busco views, nem comentários, nem concordância, que claro, são sempre um prazer de se constatar quando criamos uma obra, por mais simples que seja esta. Mas a tudo isso que não busco obviamente permito. Aviso que estou nestes textos específicos totalmente descompromissado de escrever cumprindo normas tradicionais, de seguir métodos, etc. Acabo naturalmente por cumprir, é claro, mas cabe a analogia a uma licença poética. Fica assim algo próximo a um ensaio, mas baseia-se na minha intuição e inspiração que conduziram reflexões aos quais desejo apenas publicar. Claro que deixo evidente e reitero que vou achar sensacional se alguém quiser comentar o que quer que seja, refletir, interagir e conversar em cima, enfim, se manifestar. Eu apenas estou livre para fluir em escrever. (Ah e contém erros de português rs ainda irei revisar isso.)

Todas as sensacionais experiências que desfrutamos na vida que nos fazem esquecer do tempo, todo o prazer da alegria de viver um momento que é eterno enquanto dura, explodindo a carga emocional de uma harmonia, seja canalizada pela audição, seja pela visão, complementada pelo paladar, olfato, tato e outros tantos sentidos quanto talvez não fazemos ideia, tudo isso tem um sentido maior no ângulo do absoluto e torna-se parte de nós. O prazer de escutar aquela música, o bem estar de ver uma história num filme, de assistir um marcante seriado, ou de presenciar um espetáculo inesquecível, a alegria de estar numa animada reunião de amigos, enfim, toda a sensação impagável de viver uma experiência que ao mesmo tempo é única e que não voltará mais pode ter uma lógica ou finalidade existencial ao qual eu especulo aqui, posto que considero a harmonia entre a dualidade — isto é, entre as diferenças — uma lei universal.

As experiências são únicas e não mais voltam. Elas integram, de certa maneira, quem as vivencia; e quem as vivencia são transformados por elas. Aprender é uma lei em todas as coisas, pois que a mudança que se assimila e compreende promove a aceitação da novidade pela adaptação, a não resistência à transformação, que se resiste gasta e gera atrito. O novo estado tem conhecimento do antigo. Evoluiu, pois é maior e mais sábio. E constitui também uma lei natural a progressão de todas as coisas num desenvolvimento. Toda a existência faz-se em ciclos de vida em que se nasce e desenvolve quando, então, advém a morte que é uma radical mudança a outro estado. A vista pura, sem a definição consensual desses limites — nascimento, crescimento, morte — nos diz simplesmente que toda a existência desenvolve, toda a existência evolui.

Nós somos produto de uma evolução que não cessou, ou melhor, que nunca cessou. Transmigrando por todos os reinos, passando do reino mineral, ao animal, chegamos à fase humana e, agora, dirigimo-nos adiante nesta marcha em direção a um novo estado de ser imperceptível para nossa limitada compreensão. Da minha humilde posição apenas especulo, pois só há que se especular.

Se os seres animados evoluem incessantemente, se o homem evolui incessantemente em direção a um estado de amor — que parece ser a força essencial em todas as coisas que compele a própria existência no sentido da vida, no sentido vital –, e se temos por referência a própria vida como existente, isto é, como um resultado extremamente complexo e inteligente de um profundo passado escondido nos Éons temporais de um multiverso insondável ao nosso irrisório alcance, tão inalcançável quanto o tamanho da nossa prepotência de achar-nos capazes de explorá-lo por inteiro, o que é também diretamente proporcional ao tamanho da insignificância dos nossos caprichos, então deve haver algo que nos una aos que passam deste estado de ser humano e alcançam seja lá o que figura além dele. Se há o livre arbítrio como essência fundante do estágio humano, elemento fonte do estado de inteligência racional e capacidade de pensar que justamente nos diferencia dos animais, sendo a incorrência no mal uma condição de aprendizagem mais sofisticada que a dos animais, incapazes de exprimir escolhas deliberadas que não pela pulsão disparada por necessidades mais sensoriais, embora toda decisão humana tenha no fim também razão em necessidades psicológicas profundas, então é natural que possa haver distância entre aquele que evolui e outro que por sua má conduta não evolui e como que se demora no tempo ainda por um pouco. Ao mesmo tempo, não podem haver distâncias. Não seria justo se uma mãe que ama seu filho, mergulhada na distância de seu estado evolutivo espiritual superior em relação a um filho que escolheu a inconvivência das más condutas, se visse perpetuamente distante do seu convívio pelos erros que este cometeu, e, creio, assim não é! A felicidade, pois, é coletiva. E ela tem de ser coletiva. Este parece ser também um ponto condicional e essencial para a harmonia das coisas, para que a lei de harmonia não seja quebrada.

Se a felicidade é coletiva não pode haver uma distância perpétua entre os que evoluem dos que ficam para trás. E não há! As distâncias não existem.

Jesus, o espírito que se sabe mais amou nesta Terra certamente foi o mais evoluído que por ela passou. Não fundou nenhuma religião e o quanto se pondere suas palavras e história observa-se a notoriedade da mensagem que efetivamente praticou. Em toda a mitologia que se agregou aos seus feitos e lições, a essência moral e inédita de um amor ainda muito incompreendido, que respeita e valoriza a condição humana do outro, mesmo daquele que dele não gostava, deixa incontestável sua grandeza sobretudo visto que mais agiu do que falou. Jesus certamente não está de nós separado por uma distância eterna de nossa convivência, como algumas religiões insistem em o colocar. Posso supor e especular que é uma condição da evolução a capacidade da convivência, que aumenta quanto mais se evolua. Evolução aqui, como já notaste, não é tratada por mim do ponto de vista exclusivamente (e destaco este termo) físico das espécies, como em Darwin.

Assim, retomo a reflexão à cerca das experiências prazerosas da vida, que nos tocam os sentidos, fazem-se emoções e tornam-se sentimentos de uma vivência única num momento, que não mais irá se repetir mas que de forma alguma se perdeu, e sim, construiu algo mais a que somos ainda incapazes de compreender. O prazer das experiências únicas, e que não voltam, certamente integram muito mais intensamente os seres do futuro. Todo o passado experimentado pelos que evoluem a, por assim dizer, um novo estado de Ser se aflora como que superando e desfazendo um véu oculto. Eis o dia quando todas as memórias veem à tona e te revestem. Isto muito mais te integra neste estado, como parte de suas características mais vivas. Tornam-se, talvez, propulsores de sensações. Nós, humanos, vivenciamos fase em que apenas captamos o mundo com nossos sensores. Materialmente tomamos atitude utilizando nossas mãos, nossos pés, nossa fala, para manipular e criar. Mas prioritariamente captamos o mundo, recebemos do mundo, figurando todos muito mais num estado receptivo e muito pouco ativo. Suponho que em nosso futuro estado de Ser isto vai se inverter. Nossos sensores serão talvez “sensantes”. Fluirá de nós ação. Nosso papel mental será mais fundante e fundamental para com o mundo e a influência crescerá em expressão nos campos materiais do microcosmo que nos cerca — talvez, então, tão amplo como um macrocosmo. Hoje nossa esfera de influência é limitada pela matéria. Amanhã nossa esfera de influência alimentará a matéria.

Produziremos acontecimentos, este é o ponto! Hoje talvez — e eu realmente acredito nisso –, os acontecimentos que vivemos são produzidos pela expressão de uma inteligência, que penso ser a integração de inúmeras inteligências numa só. Observem a conjunção de variáveis, veja as coincidências como sinais, tão veladas e ocultas de provas e certeza que torna-se questão de fé, porquanto é incrível demais para meros mortais como nós. Nós, homens de pouca fé, preferimos sempre estar com a certeza e dispensamos decididamente, assim, a possibilidade, pois o que nisso se tem certeza é do incerto, logo, fácil fica negar e ridicularizar. Mas é sempre individual e solitária em sua escolha a condição da fé. Não deve ser, porém, ingênua ou irrefletida. Qualquer fé precisa ser raciocinada, embora o raciocínio que se limita aos limites da percepção desconsiderando o pensamento como um dos próprios campos perceptivos é em si mesmo limitada.

Assim, esclareço mais meu ponto, observe aonde existe inteligência temporal e circunstancial. Estas inteligências não precisam atuar o tempo todo no mundo, assim como nós, humanos e inteligentes, não fazemos o nosso intelecto atuar 100% do tempo no mundo, embora por todo tempo este intelecto esteja atuando, hora em menor grau de intensidade, hora em maior, quando como por exemplo, sento na frente de um computador para refletir e escrever. Observe aonde existe convergência de variáveis em acontecimentos que parecem responder à dúvida dos que perguntam à criação, que parecem dar sinais a quem deseja enxergar um sinal na vida. Observe aonde atua a inteligência não humana, mas eventual, distinguindo que há acontecimentos e também coincidências aleatórias e banais que permitem divisar e diferenciar o que é uma expressão inteligente no meio do que não é.

As experiências do passado que integram estes novos seres mais intensamente e que fluem deles: a música que o encantou no seu passado como humano, o show que o fez gritar sua alegria, o livro que o fez respirar fundo de prazer por concluir, o encontro com amigos que lhe despertou profunda gratidão, tudo isso, e também, claro, todas as demais experiências que não citei, mesmo as experiências tristes, constituem sua propulsão de inspiração através de seus “sensares” (estes novos tipos de “sensores” que são, como se disse, ativos). Constituem a inspiração que se propaga pelo Cosmo e é captada pelos humanos espalhados pelos incontáveis planetas a que povoam o espaço, pois usando um dizer de Jesus: “Há muitas moradas na casa de meu Pai”. A conjunção de todas essas experiências vivenciadas é que permitem que o “novo Ser neste novo estado de Ser” gere para os novos seres humanos novas experiências, que serão também como sempre, únicas e irretornáveis, mas que pela grandeza e alegria das obras e experiências vividas por ele, também inspiram novas experiências e obras tão grandiosas quanto essas, de forma que podemos prever nesta reflexão que não há como deixar de ocorrer no mundo experiências que valem realmente a pena, ainda que as que hoje parecem ser insubstituíveis se passem, deixando em cada um o lamento pelo fim. Certamente amanhã virão outras tão prazerosas quanto estas.

Esse estado de experiência contínua e evolutiva é o que nos revela a felicidade. Viver a verdadeira paz deste estado é fazer da condição de aprendizagem a continuidade perpétua do prazer da própria experiência de viver, e da vida que em tudo existe.

Portanto, se a felicidade é coletiva, é do interesse dos seres que evoluem criar felicidade para tantos mais quanto possam criar. É do interesse destes seres os menores — noutro dizer do Cristo “o menor é dever do maior” –, porquanto a felicidade do que não é feliz é grande quando vem. Todo aquele que contribuímos a sua felicidade nos faz, nalgum sentido, feliz. A felicidade conjunta com outros é sempre melhor que a felicidade sozinha. Se contribuo a que aqueles a quem gosto conquistem a felicidade, sinto-me mais feliz, isto é, sinto-me em um estado inédito, pra mim, de felicidade. A felicidade, portanto, parece ser acumulativa, e a cada nova progressão de felicidade vivencia-se um estado inédito de Ser. Sim, a felicidade é o próprio estado de Ser. Diz-se que felicidade é estado de espírito e por isto se entende parte dos sábios dizeres atribuídos à Jesus das bem-aventuranças que dizem, bem aventurados os Pacificadores que forem perseguidos por causa da justiça (da justiça que fazem por serem justos), pois deles é o “reino dos céus”. A felicidade é como um reino dos céus, é como um paraíso. A felicidade de fazer a paz, como um Pacificador (um agente da paz), é um estado de espírito, e este estado de espírito é colocado por Jesus como o “reino dos céus”. E “a felicidade não é deste mundo”. Assim como “meu reino não é deste mundo”.

Deste modo, aquele que evolua a um novo modo de existir, ao qual desconhecemos como se apresenta, possivelmente volta sempre para ajudar a todos quanto possa a também alcançarem a felicidade. Quanto mais felicidade seja capaz de influenciar, mais experimenta novo estado de felicidade, e ainda mais o “reino dos céus” se expande, pois que assim compartilhamos multiplicando, nos aproximamos e convivemos, porquanto à todos, independente do quanto tenham progredido, se muito ou nada, há uma característica invariável e intransferível: todos somos únicos, inéditos, e nossas surpresas serão sempre instigantes ao outro como grandiosas obras de arte, de imprevisível expressão. E tudo o que decidimos por nós mesmos sempre poderá ser inesperado, ainda que se espere e ainda que se acerte o que se espera. A possibilidade de surpreender estará sempre possível no âmago do que somos: seres vivos vivendo na Vida.

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André Silva
O Construtor de Fluxos

Pensador, investigador e “filosofista”. Pesquisa a ciência, a consciência, o espírito, linguagem, cultura, redes, etc. Mestre em C.I. Instagram: @andrefonsis