26 de junho: o pesadelo suíço

Marcelo Audinino
O Contra-Ataque
Published in
5 min readMay 15, 2018

26 de junho de 1954. A equipe da casa e país sede daquele ano, Suíça, enfrentaria a Áustria nas quartas-de-finais daquela que foi a Copa com maior média de gols até hoje. O time helvético vinha de uma vitória nos playoffs por 4 a 1 sobre a seleção italiana, o que os assegurou a primeira posição do grupo 4. Os austríacos, por sua vez, tinham vencido os dois jogos que disputaram, mas ficaram com a segunda posição do grupo 3 por conta do saldo de gols, critério de desempate. Era certo que aquele seria um bom jogo.

O jogo teve início às 17 horas no estádio “Olympique de la Pontaise”, situado em Lausanne, interior da Suíça. Com 16 minutos de jogo, Robert Ballaman abriu o placar para o time da casa. No minuto seguinte, Josef Hügi ampliou o marcador e em alguns instantes depois, com 19, fez o terceiro gol para os suíços.

Batalha de Berna:

A equipe austríaca não se mostrou abalada com o surpreendente início da equipa da casa. Na marca de 25' Theodor Wagner iniciou a contagem da Áustria. Alguns segundos depois, o atacante Alfred Körner fez o segundo gol da equipe visitante, seguido pelo gol de empate austríaco, aos 27', marcado por Wagner novamente. Aos 32', o centroavante Ernest Ocwirk fez o seu gol, garantindo a virada para a equipe austríaca.

Com os suíços ainda abalados pela incrível virada, Körner aproveitou e marcou aos 34', ampliando a vantagem para dois gols a favor da esquadra austríaca. Ballaman diminui a vantagem no minuto 39', último gol do intenso primeiro tempo que teve saldo final de 5 a 4 para os visitantes.

O terceiro gol de Wagner, aos 53', e a resposta por parte de Hügi, que também marcava o seu terceiro tento no minuto 60, davam indícios de um segundo tempo tão movimentado quanto o primeiro. Mas a expectativa não se transformou em realidade, apenas mais um gol saiu no resto do segundo tempo, com 76', dos pés de Erich Probst, fechando o jogo em 7 a 5 para os visitantes.

A Suíça caiu nas quartas-de-final da Copa do Mundo de 1954,uma de suas melhores campanhas até hoje. Já a Áustria, perdeu de 6 a 1 na semifinal para a futura campeã Alemanha, mas conseguiu ficar com a terceira colocação em disputa com o Uruguai. O jogo do dia 26 de junho de 1954 entrou para a história como aquele com maior número de gols de todas as Copas.

A mística do 26 de junho

A Copa de 2006 marcou a oitava participação dos suíços, que desde 1994 (quando foram eliminados nas oitavas-de-final), não participavam do evento. A equipe chegou ao mundial após ficar em segundo no grupo das eliminatórias— a França ficou em primeiro — e derrotar a Turquia na repescagem europeia.

2006: Suíça cai invicta na Copa da Alemanha

Os helvécios caíram no grupo G, junto de França, Togo e Coréia do Sul. A estreia foi contra os vizinhos, e favoritos, franceses. A equipa suíça obteve um ótimo resultado, conseguiu segurar um 0 a 0 e pontuar contra o oponente mais forte do grupo. As partidas seguintes foram tranquilas, com vitórias por 2 a 0 contra Togo e Coréia do Sul. Os suíços ainda contaram com mais um tropeço da esquadra de Zidane, empate com os sul-coreanos, e terminaram com a primeira posição no grupo. Agora o adversário era a Ucrânia de Andriy Shevchenko.

O confronto já estava definido. Estádio da cidade de Colônia, às 21 horas do dia 26 de junho de 2006. Cinquenta e dois anos após a histórica eliminação para a Áustria, os helvéticos lutavam para chegar mais uma vez às quartas-de-final, fato que não ocorria desde a copa de 1954.

O jogo foi muito equilibrado, com uma bola na trave para cada equipa e um sútil domínio dos ucranianos no segundo tempo. Nada para tirar o 0 do placar, o jogo foi para a prorrogação. Agora no tempo extra, a esquadra suíça começou a encontrar espaços e apresentou o melhor futebol durante os dois tempos de quinze minutos, mas nada que alterasse o placar.

Os pênaltis iriam ou limpar a imagem do dia 26 de junho que os suíços tinham, ou aumentar a superstição sobre ele. A primeira cobrança contra a meta helvética parecia ser um bom sinal, o melhor jogador da Ucrânia acabava de perder o pênalti. Os suíços se encheram de confiança. Porém, a confiança durou pouco, apenas até as mãos de Shovkovskyi evitarem o tento de Marco Streller. A segunda cobrança dos ucranianos vai para dentro da meta. O próximo pênalti suíço não parou nas mãos do goleiro, mas no travessão. Mais uma cobrança certa para a equipe de amarelo e azul. Ricardo Cabanas era quem poderiam iniciar a reação suíça, contudo, era noite de Shovkovskyi que defendeu novamente. Os pés de Gusiev decretaram o final da partida, 0 a 0 no tempo normal e 0 a 3 nas penalidades.

A equipe Suíça não conseguiu passar de fase. Não venceu no dia 26 de junho, mas conseguiu feito inédito: foi a primeira seleção a ser eliminada sem tomar nenhum gol.

Copa de 2018, o que esperar?

A seleção da Suíça chega como favorita para a segunda colocação do grupo E, que conta com Brasil, Sérvia e Costa Rica. A grande arma para a classificação é o seu forte sistema defensivo, consolidado nos últimos anos. Para fins de comparação, o time só perdeu 1 jogo nas eliminatórias europeias e venceu os outros 9, ficando com 27 pontos no grupo, mas perdeu no critério de desempate para Portugal. Chegou ao mundial após vencer a Irlanda do Norte na repescagem.

Para liderar o time helvético, Granit Xhaka (Arsenal-ING) é favorito para esse papel, junto do bom goleiro Bürki (Borussia Dortmund-ALE), o lateral Ricardo Rodriguez (Milan-ITA) e dos experiente Xherdan Shaqiri (Stoke City-ING) e Stephan Lichtsteiner (Juventus-ITA). No ataque as esperanças ficam com Haris Seferović (Benfica-POR).

O inédito título da Suíça no Mundial Sub-17: geração que disputará a Copa na Rússia

Curiosamente, o único título que a Suíça tem com sua seleção é a da Copa do Mundo sub-17 de 2009, disputada na Nigéria. Alguns dos presentes nessa conquista jogarão a Copa, caso de Seferović (artilheiro daquela edição), Xhaka e Rodriguez. Agora crescidos, são a esperança do país para uma boa trajetória na Copa de 2018.

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