A ‘gangorra’ Noruega surpreende. Para o bem ou mal

Donas de títulos importantes na Europa e no mundo, norueguesas vivem de altos e baixos

Tadeu Chainça
O Contra-Ataque
4 min readMay 31, 2019

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Norueguesas comemoram a Algarve Cup antes da Copa / Foto: Instagram

Duas Eurocopas, uma Copa do Mundo e uma medalha de ouro nas Olimpíadas. Quem vê um currículo desses pode imaginar uma potência, que deveria colocar medo em qualquer seleção do mundo e estar presente no pódio das principais competições que participa.

Quem conhece futebol, sabe que não é bem assim. A Noruega, aliás, é o melhor exemplo disso, quando se lembra que sua seleção é quem carrega todas as glórias citadas.

Mas, afinal, o que se pode esperar dessa seleção com tantas variáveis para a competição de mais alto nível que existe?

A verdade é que, talvez, seja melhor não esperar muito.

Trajetória

A caminhada das norueguesas até sua estreia na Copa, dia 8 de junho, foi um tanto quanto inconstante.

Enquanto o continente assistia ao primeiro triunfo holandês em competições locais, a bicampeã terminava sua participação com um terrível último lugar em seu grupo, com nenhuma vitória em três jogos, além de nenhum gol marcado, tendo, ainda, que enfrentar a futura campeã daquela edição.

O que chama atenção, porém, é quando comparamos a Noruega com a Holanda. Ambas dividiram o terceiro lugar da competição em 2009, algo que fez com as holandesas vivessem uma ascensão espetacular, a qual levou ao seu primeiro título, em 2017. Enquanto isso, as norueguesas, que têm em sua história quatro pódios nas primeiras cinco edições e uma sequência de vice, terceira e vice, entre 2005 e 2013, teve um fim melancólico dois anos atrás.

Entretanto, o destino das duas seleções foi que se encontrassem nas eliminatórias europeias para a Copa na França, na fase de grupos, onde as campeãs da Eurocopa se classificaram em segundo, atrás, apenas, da própria Noruega.

O motivo de tal irregularidade, talvez venha dos próprios clubes do país, que têm somente duas participações nas semifinais da Champions League, com pouca notoriedade, e explique a variação de grandes títulos e momentos a serem esquecidos.

Igualdade…

Enquanto os resultados dentro de campo são questionáveis, fora dele, são inovadores. Por mais que os clubes não tenham muita visibilidade, a NFF (Confederação local) se tornou o centro das atenções no esporte, ao anunciar, em 2017, que os salários entre homens e mulheres seria o mesmo, sendo a primeira seleção com essa prática e tendo como um único exemplo anterior, um time pequeno do Reino Unido (Lewes FC).

A atitude foi ajudou a encorajar uma pressão maior para que isso ocorra no mundo inteiro.

… mas não muito

Apesar de chamar a atenção de todos para o que acontecia na seleção, as norueguesas devem se preocupar com uma falta muito importante na França.

Ada Hegerberg com a primeira Bola de Ouro feminina da história / Foto: Facebook

Para entender melhor a situação, devemos voltar a 2010, quando FIFA e France Football se uniram para criar um único prêmio, que seria dado aos melhor jogadores do mundo de cada ano. Até então, o nome feminino mais aclamado foi o da brasileira Marta, que havia garantido cinco vezes o prêmio.

Após seis anos de premiação, a parceria chegou ao fim,gerando, novamente, dois prêmios todo ano e com critérios diferentes, e a primeira vez que isso foi notável para todos, foi em 2018, com a premiação inédita de melhor jogadora pela revista francesa.

Enquanto a FIFA fazia Marta bater o recorde de seis vezes melhor do mundo, a France Football optou por outro nome, o de Ada Hegerberg, norueguesa do Lyon.

A jogadora possui um currículo invejável, com o atual tetra campeonato da Champions League, torneio em que já foi artilheira.

Por mais que o mundo quisesse ver uma Copa com as duas melhores jogadoras em ação, isso não será possível, desde que a norueguesa confirmou que não irá competir, por questões ideológicas.

Os dois motivos que geraram essa decisão vêm de episódios recentes.

Em direção contrária a sua luta por mais direitos e igualdade em todos os sentidos, principalmente no futebol, para ambos os gêneros, em plena premiação da Bola de Ouro, o apresentador do evento, DJ Martin Solveig, transformou o que deveria ser um dia de gala para o esporte em mais um fatídico episódio de sexismo. Enquanto Ada Hegerberg recebia o primeiro prêmio feminino da história da France Football (sem parceria com a FIFA), Solveig fez com que o mundo parasse para se perguntar se ele havia, realmente, dito a frase: “Can you twerk?” (Você pode rebolar?).

Ada Hegerberg após ser perguntada se podia dançar / Foto: Facebbok

Diante da situação constrangedora, a jogadora se limitou a dizer “não” e seguir para o seu assento sem acreditar no que ouviu.

Se não bastasse esse episódio, o segundo motivo de sua ausência se deve ao fator que fez a NFF ganhar notoriedade, e, agora, voltamos ao ponto principal da igualdade ou não do esporte no país nórdico. Apesar de fazer com os salários sejam iguais, essa realidade só existe na seleção, enquanto os clubes ainda mostram uma clara distinção entre os valores e a seriedade com que tratam as mulheres no meio.

Ou seja, por conta de seus próprios erros, a Noruega deverá provar sua força sem sua principal jogadora, que acabou de confirmar a hegemonia de seu time em solo europeu.

Campanha

As norueguesas estreiam no dia 8, enfrentando a Nigéria, pelo grupo A, e depois encaram as donas da casa, França, no dia 12, encerrando sua participação na fase de grupos contra a Coreia do Sul, dia 17 de junho.

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Tadeu Chainça
O Contra-Ataque

Jornalista, fã de esportes, animes, cultura, idiomas e café. Só um desses não me faz mal