A necessária briga entre Caio e Casagrande
A crescente tensão entre os comentaristas da Globo mostra mais uma vez que o futebol jamais será apenas um jogo
Por Pedro Duarte
No meio da crise mundial de saúde, o presidente Jair Bolsonaro parecia forçar uma volta precoce do futebol. Muitos clubes se posicionaram contra o feito, uma vez que a OMS indicava que essa opção era um tiro no pé. Raí, Diretor de Futebol do São Paulo, fez uma declaração diante do posicionamento do Presidente da República, dizendo que Bolsonaro deveria agir de acordo com seu cargo, protegendo a população e não a colocando em risco, além de sugerir a renúncia do presidente.
Desse discurso de Raí surgiu a primeira faísca entre os comentaristas Caio Ribeiro e Walter Casagrande. O primeiro, diz que o dirigente do São Paulo jamais deveria ter dado um posicionamento em que o assunto futebol não fosse o principal, uma vez que as “declarações e opiniões que ele emite respingam na instituição.”
Caio: “Hoje, ele (Raí) é o homem forte do São Paulo. As declarações e opiniões que ele emite respingam na instituição. Então, acho que ele deve falar de esporte. Na hora que ele fala de renúncia, me parece que ele tem uma conotação política em relação a preferências.”
Após repercussão negativa, Caio voltou a falar do assunto, alegando que muitos contrários ao seu posicionamento apenas não entenderam seu ponto. Casão entrou na discussão e cobrou mais clareza nas falas do colega de trabalho.
Casagrande: “Primeiro, você tem que ser mais claro.”
Caio: “Mas eu fui.”
Casagrande: “Você não foi. Foi claro apenas para quem apoiou você? Para aquelas que não concordaram, você não foi claro? Você falou uma coisa e as pessoas entenderam aquela coisa.”
Cléber Machado, que mediava a discussão, interveio e perguntou qual era o ponto de discordância. Casão responde:
“Eu discordei quando ele fala que o Raí só tem que falar de futebol e não pode falar de política. Isso é anti-democrático e nenhuma pessoa tem o direito de censurar o que a outra está falando. Foge da democracia.”
Recentemente, o caso Robinho veio à tona. A postura dos dois diante disso foi, mais uma vez, diferente. Casagrande ficou indignado com as acusações que levaram o jogador do Santos a ser condenado em primeira instância na Itália.
Casagrande: “Eu fico desolado. Perco um pouco a esperança, sabe? Num momento em que o mundo e o Brasil estão tentando organizar os valores da sociedade. Isso é um desrespeito não só às mulheres, mas sim a sociedade. É uma violência à moral da sociedade.”
Caio, por outro lado, disse que deveríamos ter calma com esse assunto.
“Acho que todo mundo merece o benefício da dúvida. A gente não tem todas informações, então vamos esperar. Quem tem que julgar é a Justiça. Isso é a primeira coisa e minha forma de analisar os fatos.”
Questionado por muitos sobre esse pronunciamento, alegou não ter o conhecimento de algumas transcrições do julgamento que haviam saído na imprensa algumas horas mais cedo.
Comentaristas são formadores de opinião. Trabalhar em um lugar como a Globo significa alcançar e se comunicar com o país inteiro. Se Casagrande optasse por seguir os passos de Caio Ribeiro e não falar de política, porque suas opiniões respigariam na instituição, ele estaria deixando de exercer seu papel na sociedade.
Caio, por outro lado, se omite de forma vergonhosa. Não se posiciona e não gosta que outros de seu ramo se posicionem também. Não se pode cobrar uma sociedade com mais princípios, se não batalhamos por ela. Se o influenciador não pode influenciar, como ficamos?
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