Foto: Gabriel Paes

Cavalo de Tróia

O olhar de um palmeirense na torcida alvinegra

O Contra-Ataque
O Contra-Ataque
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5 min readAug 10, 2017

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Por Gabriel Paes

A primeira vez em que fui a um estádio de futebol foi para ver o Palmeiras jogar contra o Flamengo, no Pacaembu. Foi também a primeira — e única — vez que vi São Marcos no gol. Apesar do 0 a 0, vibrei muito e não podia ficar menos espantado, tamanho o encanto que esse templo do futebol apresenta.

Dessa vez, o palco foi o mesmo, bem como o adversário. Mas ao invés do tradicional traje alviverde, vesti uma camisa-azul-qualquer e, então, me envolvi na atmosfera santista.

Mas havia um algo a mais acerca da partida: desde a proibição pelo Ministério Público, era o primeiro jogo em São Paulo com presença de bandeirão e alguns instrumentos das organizadas.

Foto: Gabriel Paes

Ainda do lado de fora, podia vislumbrar a alegria da torcida em ter de volta grandes companheiros: os bandeirões e instrumentos da organizada. Crianças, homens e mulheres cantavam sem parar — ainda do lado de fora do estádio. Sob um cenário de repressão pública aos antigos costumes do futebol, pude sentir o clima da torcida:

“É super importante pra gente, porque ficamos quase dois anos sem tremular, sem ter nossa bandeira, ter nossa bateria. Pra gente, é como estivéssemos presos. A gente tá livre pra mostrar nossa identidade, isso é muito importante porque é uma marca da ‘Jovem’. Hoje é um dia de vitória pra todas as torcidas, que agora respiram: estádio não é teatro. A gente vai cantar, vai pular, vai bater palma, vai gritar. E é isso. Hoje é nosso, hoje é o Santos e vamos pra cima.”, comemorou Andressa, 20, integrante da Torcida Jovem.

Saindo dali, comprei 3 latinhas de Skol por 10 reais e um lanche de pernil, cumprindo o ritual básico como em qualquer jogo de futebol.

Então, após deixarmos a praça Charles Miller, fomos em direção à entrada do Tobogã. No caminho, ouvi um “olha aí o Mano Brown!” e era ele mesmo— isso sim, você só encontra em um jogo do Santos. Entramos na fila e estávamos quase lá. Pra matar o tempo, resolvi puxar assunto e falar do time, mas mal consegui acabar minha colocação (cheia de elogios, é claro) e fui interrompido:

“O problema é esse Bruno Henrique aí — alguém reclamou — Mas o time tá encaixando, tá bem, o moleque fez 3 gols semana passada”, disse um torcedor que não abandona a corneta, muito menos a paixão. Eu rebati, dizendo que o treinador era novo e não havia muito o que fazer ainda. Ganhei um “É isso aí. Vamo Santos”.

Passamos pela vista da PM — revista é forçar a barra — e finalmente adentramos um dos maiores palcos do futebol. Não há como subir as escadas, se deparar com o campo sem sentir, no mínimo, um arrepio dos pés à cabeça.

Foto: Gabriel Paes

Pisamos no concreto. Ah, como é bom reviver o saudosismo dos estádios antigos! E logo o árbitro apitou o início do jogo, para a alegria dos 27.030 presentes. Para o aborrecimento de todos, no entanto, o primeiro tempo não foi lá muito empolgante a não ser pelo fato de que o Palmeiras havia feito 1 a 0, no Engenhão. Vibrei silenciosamente, sem parar de sorrir.

No intervalo, fomos atrás de algumas histórias — e de água — mas ninguém estava muito a fim de dar coletiva naquela hora. Virei o copo e voltei de mão abanando, sabendo que algumas emoções só podem ser captadas no silêncio: é a caçada pelo causo perfeito.

Fotos: Dora Scobar e Gabriel Paes

No segundo tempo, os times já se postavam de maneiras diferentes e o jogo ganhava contornos de tensão, talvez por algo ‘mal resolvido’ no confronto pela Copa do Brasil (Fla saiu classificado). Logo no começo, Bruno Henrique abriu o placar: 1 a 0 para o time da baixada. Depois disso, foi confusão até o final, a começar pelo empate do Botafogo no outro jogo.

O Flamengo virou com Éverton Ribeiro e Vizeu, mas o lateral Rodinei foi expulso. De imediato, os cariocas não se intimidaram e continuavam trocando passes, provocando Olé’s de sua torcida e parecia que, finalmente, o então time de Zé Ricardo se firmava no campeonato. Engano meu.

Alisson empatou e, quase nos acréscimos, Ricardo Oliveira decretou o resultado por 3 a 2 para o time da casa, para euforia geral, inclusive minha, pois Deyverson cumpriu papel semelhante para o Verdão visitante.

O Pacaembu é a segunda casa dos times paulistas — para alguns, foi a primeira por muito tempo — , então é sempre bom rever o palco; seja por vontade própria ou por motivos maiores.

Sim, nossas torcidas são diferentes. Sim, eu vou dizer que a minha é mais legal e você vai falar o mesmo da sua. O que importa, no fim das contas, é a festa, o encontro entre milhares de pessoas que talvez jamais se encontrariam, mas que estão ali por outras 11. E seguimos assim, cantando e amando, desde sempre e até o fim.

Mas o que importa mesmo, de verdade, são os 3 pontos na conta.

Aqui vai um singelo apelo para que prestemos mais atenção no que acontece na política e quais são os rumos que aquele que está prefeito da cidade quer para o Pacaembu. Vizinhos, atletas frequentadores, vários paulistas e paulistanos e claro, nós torcedores, amamos o templo sagrado. E não devemos medir esforços para preservá-lo.

O CONTRA-ATAQUE repudia a intenção de privatizar o Pacaembu e reconhece que o estádio, patrimônio histórico da cidade, deve permanecer como um bem do qual todos podem usufruir.

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