Clássicos que ninguém vê: SPA x KIE
Embate da era soviética abre a nova série d'O Contra-Ataque
Por Filipe Martins e Sara de Oliveira
O Contra-Ataque abre mais uma série especial: Vamos mostras os clássicos que, assim como no Brasil, levam os torcedores à loucura no mundo afora — Mas ninguém conhece. No nosso primeiro texto iremos falar sobre o clássico entre Spartak Moscou e Dynamo Kiev, que ficou marcado pela Tragédia de Kiev.
O futebol é marcado por grandes confrontos entre os times de uma determinada liga nacional, entretanto não há como comparar quando o assunto é clássico. A rivalidade presente entre os times de uma mesma cidade, a busca por mais títulos, mais vitórias, vai além de uma partida de 90 minutos. Há também fatores políticos, sociais, principalmente envolvendo as torcidas, que tornam os times ainda mais rivais. Porém a rivalidade entre Spartak Moscou e Dínamo Kiev ultrapassaram limites territoriais. Para entender esta rivalidade, é necessário que volte um pouco no tempo, mais precisamente no ano de 1976, quando estes times disputavam o campeonato soviético.
A Tragédia de Kiev
No campeonato de Outono de 1976, o FC Torpedo liderava a tabela mesmo após ser derrotado por 1 a 0 para o FC Ararat, ao mesmo tempo em que o Dínamo após uma vitória contra o Spartak ameaçava tomar o primeiro lugar, caso ganhasse novamente da equipe de Moscou. Na partida de volta o FC Torpedo empatou, deste modo era necessário apenas a vitória do Dínamo para que ele se consagrasse campeão daquele ano. Por outro lado a situação do Spartak era complicada, pois time necessitava de uma vitória para se manter na divisão principal. Portanto, perder não era uma opção para ambas as equipes.
O clima de decisão estava no ar. Estádio lotado e esperanças a flor da pele. A partida foi disputada em Kiev e acabou terminando empatada, tirando o título de campeão do Dínamo e também a permanência do Spartak da divisão principal. As duas torcidas lamentavam o resultado da partida e isto foi motivo de confusão. A maioria era ucraniana e, furiosos com a perda do título, invadem o espaço onde a torcida russa estava e começaram a agredir a torcida do Spartak. A polícia e alguns torcedores pacíficos, ajudaram a conter a confusão escoltando a torcida russa até o lado de fora do estádio, porém mesmo assim houve 3 mortes de torcedores russos, além de deixarem de centenas de feridos. Este episódio ficou conhecido como “A Tragédia de Kiev”
A rivalidade entre os dois times continua ainda grande, mesmo ambos não se enfrentando com muita frequência, pois com a extinção da URSS foram criados os campeonatos russo e ucraniano. A última partida entre os dois foi um amistoso, no qual o Dynamo saiu vitorioso pelo placar de 2x1. As duas últimas partidas oficiais entre os times foram pela UEFA Champions League do ano de 2008 em que Dynamo faturou a vitória nas duas ocasiões pelo o mesmo placar de 4x1 (8x2 agregado).
Ascensão de Spartak Moscou (1977–2001)
O Spartak Moscou teve um período complicado após os títulos nacionais de 1962 e 1969 e com isso no ano de 1976 foi rebaixado a segunda divisão. Após um ano na segunda divisão o treinador Konstatin Beskov, que esteve no clube entre 1977 e 1988, foi quem ajudou o clube em sua volta a divisão principal. Logo na temporada 78/79, o Spartak voltou a vencer o campeonato soviético contando com a estrela do time Fyodor Cherenkov, que jogou no clube entre 1977 e 1994 e representou o clube em 494 jogos, um recorde para o Spartak.
Na temporada de 88/89 conquistou mais um título do campeonato soviético e igualou a marca do Dínamo, porém o time da Ucrânia teve grande ascensão nos anos 70 e 80 e acabou como o maior campeão da liga soviética.
Com o fim da União Soviética o Spartak passou a integrar o campeonato russo e sob o comando de Romantsev, ganhou 9 campeonatos entre 1992 e 2001, com isso ganhou muita fama e respeito entre os clubes europeus e na temporada 2000–2001 alcançou bons resultados na liga dos campeões da UEFA, na qual goleou por 4 a 1 o Arsenal e também ganhou do imbatível Real Madrid.
Período de Glória do Dynamo de Kiev (1974–1977)
Os anos de glória do Dynamo de Kiev no futebol europeu deve-se a Valeriy Lobanovskyi. De quando jogador era apontado como rebelde e ao se tornar técnico, foi considerado por muitos um cientista, um verdadeiro estudioso do futebol. Sua filosofia de jogo de disciplina tática, treino e a criação de um coletivo muito forte, superou os gigantes de Moscou e do continente europeu, além de ter suas ideias difundidas até mesmo no futebol moderno, como por exemplo Barcelona de Guardiola. Lobanovskyi foi Campeão da Recopa da UEFA (1974–1975), Campeão da Supercopa da UEFA (1975), Tricampeão do Campeonato Soviético (1974, 1975, 1977) e Campeão da Copa da URSS (1974). Foram mais de 30 anos no comando do Dínamo com 23 troféus conquistados, além de após sua morte em 2002, ter o estádio do time rebatizado com seu nome.
Porém não foi somente Lobanovskyi foi o grande destaque do Dínamo naqueles grandes anos. Mesmo sendo um time muito sólido, um se destacava mais que os outros: Oleg Blokhin. Um jogador capaz de bagunçar as zagas adversárias e ser um jogador versátil no ataque, tendo uma grande história no futebol soviético. Lenda do Dymano de Kiev, jogou 18 anos com um total de 211 gols. Outra conquista enorme em sua carreira foi ter faturado o Melhor Jogador do Mundo no ano de 1975, ficando na frente de Franz Beckenbauer e Johan Cruyff. Na imagem abaixo a lenda do Dynamo com o troféu de melhor do mundo.
