Clube-empresa funciona no Brasil?

Gabriel Paes
O Contra-Ataque
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3 min readJul 23, 2020
Os Presidentes do Red Bull e do Bragantino anunciam a fusão dos clubes. (Foto: Reprodução)

A ideia de clube-empresa funciona para as equipes brasileiras? Essa é a grande esperança para muitos torcedores que sonham em ver seus times brilhando com grandes craques novamente, enquanto é sinônimo de pesadelo para os que já experimentaram o modelo no Brasil e falharam.

Convidamos o parceiro de trincheira na Mídia Alternativa Irlan Simões, fazendo acontecer a dobradinha Na Bancada — Contra-Ataque. Irlan está lançando pela Corner o livro “Clube empresa: Abordagens críticas globais às sociedades anônimas no futebol” e bateu um papo com nossos contra-atacantes sobre a eficiência desse tipo de gestão no Brasil.

“No livro, eu levanto oito pontos que formam o escopo ideológico da transformação de clubes em empresas: melhoria na gestão, maior transparência, maior competitividade. A ideia do livro é sair desconstruindo todos esses pontos a partir de quem viveu isso. E aí a gente chega na conclusão de que é uma grande falácia.” — Irlan Simões.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, posa ao lado do presidente do São Paulo, Leco, quando discutiam a implementação do modelo de clube-empresa no Brasil. (Foto: ALAN MENDES / SAOPAULOFC.NET)

O modelo de clube-empresa coloca o torcedor como um mero consumidor, é fato. Os que anseiam por esse modelo só conseguem pensar nos títulos que podem chegar, mas sem garantia nenhuma de que vai dar certo. Esse processo, junto com o de arenização do futebol, afasta o torcedor cada vez mais do clube e do estádio e o reduz a uma posição de assistir o jogo pela TV, quando transmitido, e só. É isso o que queremos?

“Qual o papel do torcedor no futebol? O clube de futebol é o que? É uma empresa que nos oferece um produto espetacular chamado futebol? Somos meros consumidores desse produto espetacular, ou precisamos entender a influência do clube no nosso dia a dia?”

É preciso entender que o que está em jogo, porém pouquíssimo debatido, é o modelo de Clube-Empresa X Democratização do Futebol. Não dá muito certo misturar os dois e, quando dizem para você que vão conseguir, estão apenas “te vendendo essa ideia”. Literalmente.

“Bahia e Vitória se transformaram em empresa juntos, perto do ano 2000. E caíram para a Série C do Brasileiro juntos, como empresas, sendo que nunca tinham passado nem perto de lá. […] Depois da tragédia, ambos obviamente abriram mão da ideia de ser uma empresa. Foram paralelos os movimentos dos dois clubes de cobrança de democratização de seus clubes.”

E quem diz que esbanja o tal feeling de empreendedor se esquece de mencionar que o plano de Sócio-Torcedor tem alavancado a receita dos principais clubes do Brasil nos últimos anos, como é o exemplo do Bahia, Palmeiras, Vasco, Internacional e por aí vai.

“Na pandemia, ninguém abre mão do Sócio-Torcedor porque perde os direitos políticos. Sócio-Torcedor também é receita! Os especialistas dos business esquecem disso. Se você tem um ST com direito a voto, você não vai abrir mão. A receita está lá, fixa.”

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Confira as dicas culturais do OCA#25:

Mesa: Dora Scobar, Gabre Paes e Maria Tereza

Convidado: Irlan Simões

Edição final: Giovana Guedes

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Gabriel Paes
O Contra-Ataque

Cultivo especial aversão ao homem-de-bem, à família tradicional e ao Brasil que deu certo.