"Coloca o capacete e todo mundo é piloto" afirma Bruna Tomaselli

Laura Naito
O Contra-Ataque
Published in
5 min readJan 19, 2022

A representante brasileira na W Series comenta sobre a presença feminina no automobilismo

A piloto brasileira Bruna Tomaselli (via @brunatomaselli no Instagram)

Texto de Laura Naito e Gabriel Alberto Louzado Facchini

Apenas cinco mulheres correram na Fórmula 1 desde o início do Campeonato em 1950. Já se passaram mais de 45 anos desde que uma mulher correu em um Grand Prix. Lançada em 2018, a W Series é o campeonato exclusivo de Fórmula feminino que nasceu com a missão de não permitir que mais 40 anos se passem para que vejamos uma mulher na F1.

A competição é gratuita para as pilotas ingressarem, o que reduz as barreiras financeiras relacionadas a investimento e patrocínios que impediam as mulheres de avançar na carreira automobilística, mas nas categorias superiores, esse abismo econômico se mantém. Os carros são mecanicamente idênticos para todas as equipes e pilotas, que são selecionadas para participarem com base apenas no talento das competidoras.

Via @brunatomaselli no Instagram

A temporada de 2021 contou com 8 rodadas, 9 equipes e 18 pilotas de doze nacionalidades diferentes, contando com uma brasileira. A representante do país é a Bruna Tomaselli, de 24 anos, natural de Santa Catarina, e corre na Veloce Racing, atual campeã do campeonato de construtores. Esse foi o primeiro ano da catarinense na categoria, que teve seu assento confirmado para 2022.

W Series via Twitter

Em entrevista ao O Contra-Ataque, Bruna Tomaselli deixou claro que esse era seu desejo para o próximo ano e que para sua carreira, a melhor opção é competir com os carros de Fórmula na W Series. Bruna não ficou entre as oito primeiras colocadas no campeonato e, portanto, não conseguiu se garantir diretamente para a próxima temporada, mas ainda conseguiu a vaga.

“A gente tem as mesmas oportunidades, nada impede uma mulher de estar competindo. Claro que os números são diferentes, mas isso é uma coisa histórica. Desde quando começou o automobilismo houve mais homens do que mulheres e, mesmo com mais iniciativas, ainda há mais homens. Começou faz pouco tempo, mas a gente já vê mudanças em categorias de F1, na W Series, projetos sendo criados para que haja mais mulheres no esporte a motor.”

Via @brunatomaselli no Instagram

Na experiência de Bruna, assim como acontece com os pilotos homens, é muito difícil conseguir os patrocinadores suficientes para correr em categorias mais caras como a Fórmula 1 e, por isso, a W Series aparece como sua melhor opção. Em um ambiente predominantemente masculino, a categoria feminina gratuita acaba se tornando a prioridade.

A pilota ainda comenta sobre a Fórmula Indy, que também possui um programa de inclusão para mais mulheres participarem da categoria: Race for Equality and Change. A categoria norte americana anunciou em janeiro a chegada da equipe Parreta Autosport, que disputou as 500 milhas de Indianapolis esse ano.

“Sobre a Fórmula Indy, é muito mais uma questão econômica do que representativa. A Indy é mais barata que a F1, não muito, mas é. Então acaba sendo muito mais fácil entrar nela do que na Fórmula 1, não em questão de pilotagem. Mas o ponto é: não adianta só ser bom, tem que ter grana.”

Bruna também fala que se acostumou a ser uma das únicas meninas correndo desde as categorias de base do kart:

"Vai ter mais meninos competindo no kart, para mim tinha e pra quem for começar vai ter. Coloca o capacete e todo mundo é piloto, só depende de você dar o seu melhor, não importa ser homem ou mulher, tá todo mundo competindo igual”.

Via @brunatomaselli no Instagram

Além da W Series, outra iniciativa foi criada o FIA Girls on Track — Rising Stars. O programa é uma parceria entre a FIA, a Comissão de Mulheres no Automobilismo da FIA, e a Academia de Pilotos da Ferrari, com a finalidade de aumentar a presença feminina e possibilitar mais oportunidades para elas no mundo das corridas.

São escolhidas 28 pilotos entre 71 tentativas em mais de 28 países, dividindo entre os ‘Juniores’, para pilotos entre 11 a 14 anos, e ‘Seniores’, de 14 a 16 anos. Os mais velhos disputam por uma vaga na F4 italiana e uma parceria com a Iron Dames (uma equipe de corrida somente para mulheres), e os mais novos tem como prêmio uma temporada internacional de kart, bancada pela Academia de Pilotos da Ferrari.

Finalistas em Maranello com Mattia Binotto e Jean Todt (via @fia.official no Instagram)

Na edição deste ano, Antonella Bassani, de 15 anos, e Julia Ayoub, de 16, foram as duas brasileiras que conseguiram uma vaga no programa. Bassani não conseguiu se classificar para a final, mas conseguiu um bom resultado ficando em oitavo lugar no geral. Ayoub se classificou para a final em Maranello, e no último dia 7 o resultado foi divulgado, porém a brasileira não conseguiu a vaga para a Fórmula 4 italiana.

#RaceForWomen na Arábia Saudita

No último final de semana foi disputado o GP da Arabia Saudita, lugar onde apenas as mulheres conseguiram permissão para dirigir em 2018. Junto da corrida, Sebastian Vettel organizou um evento especial de kart apenas para elas.

“Eu realmente tentei pensar nos aspectos positivos, então montei meu próprio evento de karting com a hashtag ‘Race For Women’. Tínhamos um grupo de sete ou oito meninas e mulheres na pista e montamos um belo evento só para elas”.

Vettel na Arábia Saudita com as meninas convidadas no evento de kart (via Arab News)

“Alguns deles tinham licença, outros não. Algumas delas eram grandes entusiastas da F1, outras não tinham nada a ver com corridas antes de hoje, então foi uma boa mistura de mulheres de diferentes origens e um grande evento”.

O país também contou com a pilota Reema Juffali, a primeira corredora da Arábia Saudita e embaixadora do Grand Prix do seu país. Ela é a primeira mulher saudita a correr competitivamente com uma superlicença de corrida saudita e a competir em uma série internacional de corrida em casa.

Reema Juffali via SaudiArabianGP no Twitter

Em outubro de 2018, Juffali fez história ao competir na Copa TRD 86 dos Emirados Árabes Unidos, tornando-se a primeira saudita a competir sem experiência anterior e também participou de corridas internacionais, incluindo a Fórmula 4 e no Campeonato Britânico de Fórmula 3.

O Contra-Ataque cobre o esporte a partir dos desdobramentos geopolíticos, históricos e sociais. Você pode contribuir com nosso jornalismo independente a partir de R$ 1 por mês. Colabore :)

--

--