Com gritos homofóbicos, Corinthians é tri

Sim, a manchete é essa. Já que ninguém vai falar, nós vamos.

João Abel
O Contra-Ataque
3 min readApr 21, 2019

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O Corinthians é tricampeão paulista (2017, 18 e 19) e isso todo mundo já sabe. As análises do título em cima do São Paulo estão em todos os sites de futebol ou canais esportivos que existem. O que este texto vem destacar não é nada de novo e nem surpreende, mas poucos comentam: foi uma final com pano de fundo homofóbico.

Desde os primeiros toques na bola, parte dos torcedores na Arena Corinthians (o maior teatro da zona leste paulistana) destilou preconceito. “Vai para cima das bichas”, “Dessas bichas teremos que ganhar” e gritos a cada tiro de meta cobrado por Tiago Volpi foram ouvidos por todos que estavam no estádio e por quem assistia pela TV ao jogo que teve a maior audiência do futebol paulista em 2019.

Antes que alguém esqueça que estamos falando de uma questão de direitos humanos e preconceito, e leve a discussão para o clubismo, este texto não se interessa em taxar a torcida corinthiana de homofóbica. Todas as torcidas de grandes clubes brasileiros têm atitudes parecidas. Os próprios são-paulinos fazem igual quando enfrentam os rivais.

E, faça-se justiça, existiu uma campanha de parte dos alvinegros (inclusive encampada pelo ídolo e comentarista Casagrande) durante a semana para evitar esse vexame:

De nada adiantou.

O que aconteceria se os gritos da torcida fossem “vai para cima dos negros” ou “desses negros teremos que ganhar”? Não se trata de dimensionar para mais ou para menos o tratamento que as manifestações de racismo ganham, mas é fato que, em 2019, elas se tornaram abomináveis para boa parte daqueles que gostam de futebol. Já virou caso de eliminação em torneio nacional com o Grêmio em 2014. Mas a homofobia ainda é aceita. Normalizada. Banalizada.

Aqui não vai ser.

Quem sabe daqui há algumas décadas, a gente olhe para trás e pense o quão absurdas eram manifestações como essas.

Dentro de campo, parabéns ao Corinthians, maior campeão paulista da história.

A nota boa vem do Rio: enquanto a torcida do Corinthians passou vergonha, a do Flamengo respondeu à altura sua diretoria com um mosaico ‘Festa na Favela’. Durante a semana, um jornal carioca divulgou reportagem sobre um possível veto do clube à expressão. O Fla respondeu com uma nota oficial protocolar em que desmente o veto, mas julga o termo ‘favela’ como uma expressão da torcida. Da qual o clube parece não se orgulhar muito.

Mosaico do campeão Flamengo, que bateu o Vasco na final do Carioca (Twitter/@rafaelmoliveira)

Nota boa – parte 2: enquanto a torcida do Corinthians berrava ‘bicha’ no estádio, Brasília recebia uma nova edição da Champions Ligay – liga nacional LGBT de futebol amador.

24 times estiveram na capital nacional para a Champions Ligay (Instagram/@ligaybr)

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João Abel
O Contra-Ataque

jornalista, autor de ‘BICHA! homofobia estrutural no futebol’ e coautor de ‘O Contra-Ataque’