Como Sadio Mané se tornou herói de uma nação

Há pouco o senegalês ajudou seu país a conquistar a Copa Africana de Nações e seus atos fora dos gramados vão muito além

Giovanna Rahhal
O Contra-Ataque
5 min readApr 7, 2022

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Mané beija o troféu da Copa Africana de Nações (Foto: Getty Images)

Por Giovanna Rahhal

Dribles, assistências, gols e títulos. Sadio Mané é o pacote completo, entrega tudo dentro de campo, seja a nível de clubes ou internacionalmente. Recentemente, venceu a Copa Africana de Nações, o título mais importante de Senegal, ao derrotar o Egito na final. Bateu o pênalti decisivo, e por fim, foi eleito o melhor jogador da competição. Como se já não bastasse tudo que fez e continua fazendo dentro das quatro linhas, suas ações fora de campo também o ajudam a ser credenciado como ídolo de seu país.

Nascido em um pequeno vilarejo a 250 quilômetros da capital Dakar, Mané apenas sonhava em ser jogador de futebol, até que com quinze anos decidiu fugir de casa para concretizar seu objetivo.

Começou sua carreira profissional no Génération Foot, clube de seu país. Aos dezenove anos foi jogar no Metz, da França, depois passou pelo Red Bull Salzburg, da Áustria, até rumar à Premier League para jogar pelo Southampton.

Nos Saints (apelido do Southampton), Mané decolou. Logo em sua temporada de estreia (2014–2015), quebrou o recorde de hat-trick mais rápido na história da liga inglesa (fez 3 gols em 2min e 56seg, o antigo era 4min e 33seg) em uma goleada de 6 a 1 e ajudou o time a se classificar para UEFA Europa League. Na temporada seguinte foi o artilheiro do time com 15 gols, entre eles dois contra o Liverpool e um hat-trick contra o Manchester City. Em sua passagem na equipe de Hampshire o atacante disputou 75 jogos e marcou 25 gols em todas as competições.

Em junho de 2016 o Liverpool desembolsou 34 milhões de euros para contar com o ponta, o que o tornou — na época — o jogador africano mais caro da história. Foi pelos Reds (alcunha do Liverpool) que ele atingiu seu auge. Campeão da UEFA Champions League, Premier League, Mundial de Clubes além de diversos prêmios individuais, incluindo uma chuteira de ouro da liga e atingindo o quarto lugar na premiação The Best, da FIFA, e no ranking da France Football. Agora, em sua sexta temporada pelo time de Merseyside, o atacante já disputou mais de 240 jogos e marcou mais de 100 gols.

Mané comemora o título da Champions League (Foto: Getty Images)

Mesmo com todas as glórias e fama, o senegalês nunca esqueceu suas origens. Em 2019, Mané doou 250 mil euros para construção de uma escola em seu vilarejo, Bambali. Ao realizar a doação em nome do jogador, seu tio leu uma declaração do mesmo que dizia: “Educação é muito importante. É isso que permitirá que vocês tenham uma boa carreira”. Quando o jornal britânico The Telegraph entrou em contato para entrevistá-lo por conta da caridade, Mané pediu para não participar, declarando que não fazia os atos pela publicidade.

No ano anterior ele já havia entregado 300 camisetas do Liverpool para as pessoas de seu povoado torcerem na final da Champions League. Nesta final perderam, mas com certeza elas foram utilizadas para celebrar o título na temporada posterior.

“Sadio Mané visitando a escola que ele está ajudando a construir em sua vila Bambali na região de Sedhiou, Senegal”

No ano seguinte, Mané forneceu cerca de 41 mil euros para Senegal no combate à pandemia de Covid-19. Neste mesmo ano, ele iniciou a construção de um hospital na província de Sédhiou, onde fica localizado seu vilarejo. Para a unidade de saúde, o jogador concedeu 500 mil euros. Acerca disso ele comentou ao The Guardian:

“Me lembro quando minha irmã nasceu, em casa, porque não existiam hospitais na região. Era uma situação muito triste para todos. Por isso, quis construir um, para levar esperança às pessoas”.

Seu pai faleceu em decorrência da falta de unidades médicas na região quando o atacante tinha apenas sete anos. Ele estava muito doente e sem o tratamento adequado acabou não resistindo.

“Estrela de Senegal e do Liverpool, Sadio Mané, inaugurou oficialmente o hospital que construiu em seu vilarejo Bambali, em Senegal. Mané entregou o hospital, que lhe custou 530 mil euros, ao governo senegalês. Ele já havia construído uma escola na vila”
Mané encontrou o presidente de Senegal, Macky Sall, para celebrar a parceria do hospital

Recentemente, durante a Copa Africana de Nações, Mané sofreu um choque com o goleiro adversário nas oitavas de finais, contra Cabo Verde, e teve que ser levado ao hospital. Lá, ele soube da história de um menino que havia sido atropelado e estava em situação crítica. Ao perceber que a família não tinha condições de financiar o tratamento, o jogador se prontificou e pagou 400,000 Francos CFA, o que equivale a cerca de 514 euros. Um familiar do garoto contou a história para o canal de televisão camaronês Equinoxe TV.

Mané e o goleiro de Cabo Verde, Vozinha, no hospital

Ainda na Copa Africana, o camisa 10 pagou a viagem e os ingressos de 50 torcedores para o jogo da semifinal contra Burkina Faso, realizado na Etiópia. O jornalista Rahman Osman revelou que o atacante decidiu fazer a mesma coisa para final contra o Egito, disputada na capital de Camarões, Yaoundé.

Sobre seus atos de caridade, Sadio Mané declarou:

“Por que eu gostaria de ter dez Ferraris, vinte relógios de diamante ou dois aviões? O que esses objetos vão fazer por mim e pelo mundo? Eu construo escolas, um estádio, fornecemos roupas, sapatos e comida para pessoas em extrema pobreza. Fora isso, doo 70 euros por família por mês para pessoas de regiões pobres de Senegal, o que contribui com a economia das casas.”

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