A sequela do coronavírus no futebol

Amadorismo do futebol no Brasil fica escancarado no momento de alta da pandemia

Paulo Castro
O Contra-Ataque
3 min readJan 19, 2021

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Foto: Marcos Ribolli

Por Paulo Castro e Gabriel Paes

“Um jogo que jamais deveria ter acontecido”

Talvez não exista melhor definição para o ocorrido do dia 14 de janeiro de 2021, na Arena Pantanal. Jogador chegando minutos antes da bola rolar e atleta passando mal na beira do campo, essa foi a situação do Bugre que ainda sonha (ou sonhava) com uma difícil vaga na elite do futebol.

A partida era válida pela 35 rodada do Brasileirão, o Cuiabá buscava a vitória para encaminhar o acesso a série A e consolidar um excelente campeonato. Em contrapartida, a equipe do interior de São Paulo comandada por Felipe Conceição vinha com 20 desfalques para o confronto, sendo 17 deles causados por um surto de coronavírus. O Guarani pediu o adiamento da partida, mas a Confederação Brasileira de Futebol rejeitou a solicitação.

O Bugre agora corria contra o tempo para trazer mais um jogador para o jogo. Lucas Abreu foi o escolhido e o volante tinha a missão de chegar a Cuiabá até às 21:30h, horário marcado na tabela. Lucas chegou exatamente 18 minutos antes da partida e, sem aquecimento ou muito menos qualquer tempo de preparo, o atleta estava disponível para o treinador. Foram três horas de viagem e o meia chegava para uma partida decisiva do campeonato, ao lado dele no banco de reservas apenas um jogador, Rafael Costa, mais um que não vinha sendo muito aproveitado nos últimos jogos.

“Momento difícil que a gente tá enfrentando, pegou todo mundo de surpresa. Eu estava em Campinas, vi a situação com o Covid e só tinha voo às 16. Eu cheguei na hora do jogo, mas a gente tem que superar qualquer coisa. Deus me deu essa oportunidade, não estava jogando muito, vim de coração aberto, entrei, corri, mas infelizmente a gente não conseguiu sair com o resultado” — Lucas Abreu, em entrevista após a goleada sofrida.

Vamos para o jogo!

Foto: Daniel Chiesa/ GUARANI FC

A partida não podia ter começado de um jeito pior para o clube do interior de São Paulo: com apenas nove minutos de jogo, o lateral-direito Cristóvam acaba sendo expulso. O desgaste que já seria tremendo para o time piorou e no banco apenas dois jogadores disponíveis. A situação é de um jogo de várzea ou um campeonato entre amigos, mas é apenas mais uma partida de futebol válida pelo segundo maior torneio entre clubes no Brasil. A CBF se apoia no protocolo para defender tal atitude. Enquanto o amadorismo no futebol fica escancarado, o país volta a ter dias difíceis no controle da doença que já matou mais de 200 mil brasileiros.

O resultado final foi de 4 a 0 para o ótimo time do Cuiabá. O futebol que nós amamos não é aquilo que foi apresentado na Arena Pantanal, o esporte da paixão, do carinho, do afeto com torcedor há um tempo não está mais aqui. A CBF se apoia no tão famoso protocolo para responder das mais bizarras situações que o seu campeonato apresenta.

“A equipe mais uma vez mostrou hombridade, dignidade, honrou a camisa do Guarani e isso nos deixa orgulhosos. Isso também nos fortalece, são nos momentos difíceis que mais crescemos” — Felipe Conceição

Agora não adianta dizer “eu avisei”, até porque todo mundo sabia que ia ser assim. Com uma doença de contágio tão rápido, repleta de incertezas, estava na cara que equipes seriam prejudicadas. Ainda temos pela frente decisão de Libertadores, Copa do Brasil e as séries A e B do Brasileirão. Muita água pra rolar em pouquíssimo tempo, dedos cruzados para que nenhuma equipe sofra um novo surto como este do Guarani e, pelo jeito, a única coisa que temos a comemorar é o início da vacinação no Brasil.

VIVA O SUS!

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