Há algo de bom no reino da Dinamarca

Fora da Copa do Mundo desde 2006, Dinamarca retorna aos holofotes do futebol com um membro da dinastia Schmeichel

Thiago Felix
O Contra-Ataque
4 min readMay 26, 2018

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Dinamarca campeã da Eurocopa 1992

Dinamáquina. Apelido poderoso. Assim era conhecida a equipe dinamarquesa na primeira Copa do Mundo, que disputava em 1986, no México. Três vitórias na primeira fase: 1 x 0 na Escócia, o vibrante 6 x 1 no Uruguai e 2 x 0 na Alemanha Ocidental. Nas oitavas, o apagão: uma sonora derrota de 5 x 1 para a Espanha.

Depois disso, a seleção passou por poucas e boas, até a derrota para Iugoslávia na eliminatórias da Eurocopa de 1992. “Somos uma vergonha”, cravou ao jornal local Politiken o meia Michael Laudrup, símbolo de uma geração.

Brian Laudrup, irmão mais novo de Michael

Campeã da Europa

Tudo parecia ir por ladeira abaixo até que, 13 dias antes do início da Eurocopa de 1992, a Iugoslávia é banida de competições internacionais devido a recomendação da ONU, gerada pela crise de Sarajevo. A vaga automaticamente foi para o país nórdico. E, como num passe de mágica, após uma campanha que mais parecia um conto de fadas a Dinamarca sagra-se campeã da Eurocopa, confirmando o apelido recebido anos antes: Dinamáquina.

Após essa conquista inédita e surpreendente, a Dinamarca ainda venceu a Copa das Confederações em 1995, no duelo com a Argentina. Em 1998, na copa da França, chegou às quartas-de-finais, parando para o favorito Brasil do Ronaldo Fenômeno, até então apenas Ronaldinho.

Essa geração vencedora, que contava com os irmãos Laudrup, tinha um destaque ainda maior: o goleiro Peter Schmeichel. O goleiro marcou presença e se tornou o jogador que mais vezes carregou o manto do reino dinamarquês dentro de campo: 129 jogos. Agora em 2018, 26 anos depois de protagonizar a maior conquista do futebol dinamarquês, o goleiro contribuiu novamente com a seleção, mas de uma maneira peculiar. Seu filho Kasper Schmeichel é titular absoluto da seleção dinamarquesa para a disputa da quinta copa do mundo (86, 98, 02 e 06).

Peter e Kasper Schmeichel

Dinastia Schmeichel

Assim como seu pai, Kasper também viveu um conto de fadas da mesma magnitude. Foi campeão da Premier League (temporada 2015/2016) com o Leicester, um clube sem expressão alguma no cenário milionário da Grã Bretanha. Em um clube com todas as dificuldades possíveis, que ninguém sequer imaginava a permanência na séria A, Schmeichel filho conseguiu erguer o caneco ao final da temporada. Inacreditável. Definitivamente, a dinastia Schmeichel é predestinada.

Além do predestinado goleiro e do craque Christian Eriksen, meia do Tottenham Hotspur, que se firmou como o maior goleador da seleção em eliminatórias da Copa do Mundo e que vem de um hat-trick contra a Irlanda no jogo chave da classificação para Rússia 2018, a Dinamarca conta com o atacante de 23 anos Pione Sisto.

Kasper Schmeichel

Diversidade Étnica

Sisto nasceu no ano de 1995 em Uganda, quando o país estava passando por uma violentíssima guerra civil. Com apenas dois meses de vida, seus pais conseguiram refúgio na Dinamarca, um lugar muito mais seguro para criação do pequeno Pione Sisto.

Por mais que a Dinamarca alcance todos recordes em qualidade de vida — país menos desigual do mundo, país com alto índice de felicidade, país menos corrupto e outros títulos do bem — , não é fácil ser uma criança negra num país nórdico. A Dinamarca tem mais de 93% da população constituída por dinamarqueses e pessoas de etnia nórdica. Sisto encontrou no futebol um meio de se refugiar do preconceito para poder ser feliz.

Pione Sisto

Rússia 2018

Em sua quinta copa do mundo, a seleção da Dinamarca enfrenta os seguintes adversários: Peru, Austrália e França. Quanto a França, o treinador dinamarquês Age Hareide fez uma declaração no mínimo prepotente. “ Eu não confio nesse time,vi algumas partidas deles. A gente vai dar muito trabalho a eles, porque não têm nada de especial”, declarou o técnico em entrevista ao jornal local Jyllands-Posten. Resta saber se a equipe vai dar conta dentro de campo.

Dinamarca, a terra de Hamlet, terra do chocolate e terra de Lars Ulrich, baterista da banda Metallica, tenta se consagrar também como a terra do futebol. A Rússia te aguarda.

Eriksen

Jogos da seleção dinamarquesa na Copa do Mundo de 2018:

Sabado, 16/06/2018–13:00 em Saransk

Dinamarca X Peru

Quinta, 21/06/2018–16:00 em Samara

Dinamarca X Australia

Terça, 26/062018–17:00 em Moscou

Dinamarca x França

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Thiago Felix
O Contra-Ataque

Estudante de Jornalismo na PUC-SP. Formado em Administração. Escreve para O Contra-Ataque e Contraponto.