O clube de futebol mais importante do mundo

Conheça a história do Sheffield Football Club

Matheus Braga
O Contra-Ataque
5 min readJan 12, 2022

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“O primeiro time de futebol do mundo”

Texto por Matheus Braga

Hoje em dia na Inglaterra existem diversos clubes enormes. Liverpool e Manchester United, todos os anos, levantam a discussão de quem é o maior do país. Por títulos nacionais, o United fica na frente com 20 Campeonatos Ingleses, 12 Copas da Inglaterra e 5 Copas da Liga Inglesa. Já o Liverpool possui 19 Campeonatos Ingleses, 7 Copas da Inglaterra, 8 Copas da Liga Inglesa. Quando o assunto é Champions League, o Liverpool leva a melhor: são 6 títulos contra apenas 3 do United.

Nos últimos anos vários clubes ganharam investimentos milionários e tentaram entrar na briga, mas sem dar muito trabalho. O caso do Arsenal, que teve uma grande equipe no começo dos anos 2000 assim como o Chelsea e do Manchester City, que após a era Pep Guardiola, vem conquistando relevância na liga. Entretanto, hoje vamos esquecer esses clubes e falar do modesto Sheffield Football Club.

Foto: Reprodução/ESPN

Para explicar a importância do Sheffield temos que voltar lá trás, entre o século XIV e XVI. A cidade foi bastante importante na Revolução Industrial, sendo bastante conhecida por ser referência com suas fábricas de talheres.

Já no ano de 1912 a cidade inglesa ficou conhecida pela descoberta do aço inoxidável, imune à corrosão. A descoberta do material influenciou bastante o comércio da cidade, já que se uniu a fabricação de talheres, criando os melhores materiais disponíveis no mercado. Entretanto, essa está longe de ser a maior criação da cidade.

Aí que entra a dupla William Prest e Nathaniel Creswick, jovens que eram apaixonados por outro esporte, o criquete. Ele não era praticado no inverno, já que é jogado com um taco e uma bola que precisa quicar no chão.

A dupla inquieta então chegou a conclusão que estariam criando um novo esporte para jogar no inverno, nosso querido futebol. Com isso também era criado o primeiro time de futebol do mundo, o Sheffield Football Club.

Depois de várias hipóteses e testes em campo, eram criadas as primeiras regras do esporte. E como era de se esperar, tudo aconteceu em um pub. Nas mesas do “Freemason’s Tavern” surgiram os primeiros regulamentos do futebol: Sheffield Rules.

Cópia do documento original com as primeiras regras do futebol

Entre essas regras, estava a ideia de dois times com uniformes diferentes, com objetivo de chutar uma única bola no gol da equipe adversária. Além das primeiras regras utilizando o escanteio, lateral e tiro livre indireto, servindo de base para as primeiras regras oficiais criadas em Londres, em 1863.

A cidade de Sheffield possui cerca de 500 mil habitantes, sendo a 6ª cidade com maior população da Inglaterra. Sheffield não é uma cidade que atrai muitos turistas, a maioria são os doentes por futebol como eu (e muitos de vocês contra-atacantes).

Centro da cidade de Sheffield, na Inglaterra

Por lá, são quatros clubes de futebol: O Sheffield Football Club, Hallam Football Club, Sheffield Wendnesday e o mais novo Sheffield United, que recentemente se aventurou na Premier League fazendo uma boa temporada, mas foi rebaixado no ano seguinte. Inclusive, Sheffiled FC e Hallam FC possuem o título de clássico mais antigo da história do futebol.

O Sheffield Football Club está longe de ser um time que se chama atenção com o bom futebol e todo aquele encanto das grandes ligas europeias. O time atualmente joga a Northern Premier League Division One East, equivalente a nona divisão inglesa, onde o futebol não é nem considerado profissional.

Foto: Jdg Sport

Seu estádio é o modesto Coach and Horses Ground, com capacidade para apenas 2.089 torcedores, que raramente lotam o estádio. Apelidado de “The Club” é a casa do Sheffield desde 2001, quando fez sua estreia diante de um clube assim como ele histórico na Inglaterra, o Manchester United.

Cena da série “Ted Lasso” que mostra torcedores em um Pub inglês.

O estádio não poderia deixar de ter um típico pub inglês, bastante tradicional nas redondezas dos estádios de futebol no país, onde os torcedores se divertem antes das partidas tomando os “pints” de cerveja e cantam suas músicas de amor aos seus clubes.

Todo torcedor de futebol inglês já pisou em um.

Ali no estádio todos os funcionários trabalham por amor, já que não recebem salários pelos trabalhos. Os voluntários lavam e organizam os uniformes, limpam o estádio e fazem tudo para manter viva a casa que abriga o primeiro time de futebol do mundo.

Os jogadores recebem um valor simbólico para jogar pelo clube, mas me arrisco em dizer que a maioria jogaria de graça, apenas pelo orgulho do time da comunidade que mantém o time vivo. No uniforme usado por eles, por muito tempo ficou sem patrocínio master na frente da camisa. Ali ficava escrito “The World’s First”(O primeiro do mundo) além do lema do time “Integridade, respeito e comunidade.”

Torcedores e membros da comunidade da cidade de Sheffield alegam que o clube deveria ter um apoio maior das instituições de futebol. A Fifa, entidade máxima do esporte, afirma fazer o seu papel. Anualmente ela dá uma ajuda financeira para o Sheffield, mas nada que faça o clube não precisar de sua comunidade. Além disso, a Fifa considera o Sheffield a primeira equipe de futebol do mundo, e deu à eles a Ordem de Mérito, nobreza até hoje concedida apenas para eles, Real Madrid e Milan.

Em um futebol cada vez mais elitizado, clubes como esse me fazem enxergar o porquê de amar esse esporte.

O futebol não é negócio. O futebol é uma manifestação cultural.

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Matheus Braga
O Contra-Ataque

Mineiro, jornalista e apaixonado pelo futebol inglês.