O império que quer o mundo…

… mas não passa da primeira fase.

Tadeu Chainça
O Contra-Ataque
5 min readJun 6, 2018

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Seleção do Irã sonha somente em passar de fase

O Irã não é um país muito bem visto ou quisto por boa parte das pessoas na atualidade. O preconceito com a religião islâmica é o que mais incita essa repulsa, pelo menos, é o que pode ser visto na maioria das opiniões. O péssimo estereótipo que é ligado ao terrorismo, além das tensões existentes entre o país (e a própria religião) com as ditas potências mundiais, principalmente os EUA, ajudam na criação de um conceito negativo do lugar.

No quesito futebolístico, os descendentes diretos dos persas não têm tanta importância quantos seus antepassados tinham como império. Com pouca informação sobre sua história ou poder no cenário mundial do esporte, os dados escassos sobre a ida do futebol para o país contam sobre partidas ocorridas entre funcionários de embaixadas europeias, durante sua estadia na época da Primeira Guerra Mundial. A seleção iraniana fez sua primeira partida em 1941, contra o time do Afeganistão, e terminou em 0 x 0.

Copa do Mundo

A história do Irã nas Copas do Mundo não é vasta, mas vem crescendo nos últimos anos, o que mostra sua força no continente asiático e faz suas aparições serem cada vez mais comuns.

Seleção estreante em 1978

Na edição de 1978, sediada na Argentina, os iranianos participaram pela primeira vez de um torneio de grande porte. Sua apresentação em copas não foi grandiosa, sendo eliminados logo na primeira fase, com apenas um empate.

O retrospecto da equipe, aliás, não é dos mais favoráveis, sendo, em 12 jogos, 9 derrotas, 2 empates e apenas uma vitória.

A Revolução Islâmica

No mesmo ano de sua primeira Copa, o rei iraniano, Xá Reza Pahlavi, muito impopular por suas políticas no país (o que envolve, também, uma enorme abertura para os povos ocidentais mais poderosos), apesar de ser visto com bons olhos no ocidente, teve seu período no poder terminado, o que ocasionou o início da Revolução Islâmica no Irã. No ano seguinte, como parte da revolução, a figura que passa a comandar o país era, agora, política e religiosa, o Aiatolá Khomeini.

Essa troca de poder e políticas — que muitos acham brusca, tenebrosa, e consideram como momento de trevas do país — não foi bem digerida pelos países ocidentais, que perdiam, também, um aliado que produzia muito petróleo.

A volta de costumes antigos e de uma cultura islâmica fundamentalista era rechaçada por muitos Chefes de Estado, se passando por principal motivo das novas relações pouco cordiais com outro país do Oriente Médio (além dos outros já conhecidos).

A volta às Copas do Mundo

Enquanto a revolução entrava em ebulição no Irã, o esporte bretão passava a ser deixado de lado, devido às preocupações maiores nos outros campos do Estado.

Por esse motivo, as décadas de 70 e 80 foram pouco produtivas no futebol e, tanto a liga nacional quanto a seleção em si, perderam seu possível potencial. Tanto é que, nas edições de 1982, na Espanha, e 1986, no México, a seleção iraniana sequer disputou as eliminatórias e ficou fora desses mundiais.

O retorno, de fato, dos persas para o cenário das copas foi em 1998, na França, onde, outra vez, não passaram da primeira fase, mas com uma boa história para contar.

Com a conclusão da revolução, a nação que mais se virou contra os ideais diferentes iranianos foi a americana. Os EUA sempre se posicionaram de forma negativa ao que era posto pelo Aiatolá Khomeini e foram, ainda, o único time, até hoje, a sair de campo com revés contra o Irã. Não só perdeu como ficou em quarto no grupo, sem conquistar nenhum ponto e depois de fazer uma grande estreia em copas, quando sediou em 1994.

Foto das duas seleções em 1998

Naquela ocasião, o governo iraniano tratava o confronto como uma verdadeira guerra, mas os jogadores de ambas as equipes não mostraram nenhum interesse nesse “conflito maior” entre as nações e protagonizaram belas imagens, como a troca de pertences e flores, foto abraçados e bandeiras lado a lado.

Em todas as outras edições em que participaram, novas eliminações na primeira fase e mais nenhuma derrota, ficando com apenas um empate contra Angola. Em partida com a Argentina, em 2014, os iranianos quase conseguiram mais um empate, dessa vez enfrentando uma grande seleção, mas Messi acabou com o possível feito nos acréscimos.

Tri na Ásia

Se mundialmente o Irã nunca convenceu, na Ásia a seleção já viveu seu ápice. Não que a equipe tenha participado de muitas finais, mas conquistou todas as que participou (de forma consecutiva). Em 1968, 1972 e 1976, os persas conquistaram o continente e nunca mais foi à final. Mas seu time costuma ser sólido e chegou nas semifinais outras seis vezes.

Nós sofremos

Quando enfrentou o Brasil, em amistoso em 2010, a seleção canarinho saiu de campo com uma vitória tranquila por 3x0. Porém, quando falamos em jogos oficiais, as edições das Olimpíadas de 1972 e 1976, o Brasil saiu perdedor da primeira (geração de Falcão, Roberto Dinamite e CIA) e com um empate na segunda.

Comemoração após 4x4 heroico contra o Brasil

Não bastasse o futebol, o futsal também marcou vitória iraniana, nos pênaltis, contra o time de Falcão (apelido perseguido) em 2016.

A quebra dos costumes

Além de uma vitória contra os americanos, a classificação para a Copa do Mundo de 1998 serviu, também, para a luta das mulheres contra costumes muito antigos e impostos pela religião imposta pelo governo.

O islamismo tem regras muito rígidas quanto ao gênero, principalmente com as mulheres, mas nos anos de 1997 e 1998, o movimento feminista no local fez com que muitas delas pudessem ir ao estádio comemorar a vaga na copa e a vitória na competição, algo que é estritamente para homens.

Além disso, o véu, de uso obrigatório por todas as mulheres, ainda mais em ambientes públicos, foi retirado sem quaisquer restrições em meio a festa da população.

As leis referentes aos direitos femininos ainda são rígidas e não tiveram nenhuma alteração, mas esses dois anos da década de 90 serviram para mostrar o quanto o futebol pode unir e mudar um país.

Jogos na Copa de 2018

15/06 — Marrocos x Irã — 12h

20/06 — Irã x Espanha — 15h

25/06 — Irã x Portugal — 15h

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Tadeu Chainça
O Contra-Ataque

Jornalista, fã de esportes, animes, cultura, idiomas e café. Só um desses não me faz mal