O primeiro passo para a igualdade no futebol

Tadeu Chainça
O Contra-Ataque
Published in
3 min readOct 23, 2017
Seleção Feminina da Noruega | Créditos: Facebook

Se a luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres ocorre em todos os lugares e nas mais variadas esferas da sociedade, nos esportes — mais especificamente, no futebol — isso não é diferente.

Cada aspecto de um dos esportes mais amados do mundo é cercada por ideias antiquadas e estilos de gerências espelhados nos modelos mais rústicos, onde são poucas as vozes femininas que conseguem se destacar. Porém, essa batalha das mulheres para estarem no mesmo nível de importância tem alterado o cenário desportista de forma permanente.

Recentemente a Federação Norueguesa de Futebol optou por tratar ambos os gêneros como iguais, ao menos nas seleções nacionais. Depois de conversas com dirigentes e membros da seleção masculina, a Federação decidiu que irá igualar o valor recebidos pelos atletas que servem à seleção, independente de qual modalidade seja.

Até este ano, os homens recebiam R$ 2,6 milhões anuais por jogarem pelo país, enquanto as mulheres recebiam R$ 1,2 milhões pelo mesmo período. A partir de 2018, todos irão ganhar o equivalente a R$ 2,4 milhões, algo que vem sendo muito comemorado, tendo em vista que esta é a primeira vez que algum time nacional faz isso.

Vale ressaltar que as campanhas norueguesas no futebol feminino têm mais notoriedade do que o masculino, sendo campeã de uma Copa do Mundo, duas Eurocopas e tendo uma medalha de ouro olímpica. Os homens nunca chegaram à fase final dessas competições.

Os pioneiros

Equipe do Lewes FC -A primeira a ter os salários iguais | Créditos: Facebook

Apesar de ser a primeira seleção a fazer isso, não foi a Noruega que colocou essa ideia em prática pela primeira vez. Um clube inglês tomou a mesma atitude em julho deste ano, fazendo com que todos tivessem o mesmo salário. Os times masculino e feminino do Lewes FC pertencem, respectivamente, à 8ª e 3ª divisão do país, em campanha do próprio clube, batizada de “Equality FC”, pela igualdade de gênero no esporte.

Nosso exemplo

Seleção brasileira nas Olimpíadas | Créditos: Facebook

Diferente dos país escandinavo, o Brasil não pode dizer que faz parte dos que tentam tratar todos de forma igual. Os salários astronômicos que alguns dos homens recebem poderiam pagar, tranquilamente, muitas jogadoras do país.

Os valores dos salários femininos são muito mais baixos e, as tentativas de fazer as duas modalidades terem a mesma importância são tratadas quase sempre como “um plano futuro” que não mostra perspectiva de se concretizar.

Em entrevista à ISTOÉ, em 2015, a jogadora Formiga, hoje no PSG, afirmou que não há salário em alguns clubes, somente uma ajuda de custo. Levando em consideração que no Brasil, naquele ano, o salário médio de uma jogadora profissional era de R$ 3 mil, valor que não mudou tanto nesses dois anos, o caminho para uma atitude como a da Noruega, ou o Lewes FC, é longo.

Nesse mesmo ano, um antes das Olimpíadas do Rio, a CBF criou uma seleção permanente, que acabou após os jogos. No projeto, as jogadoras receberiam um valor bem alto para o padrão brasileiro, R$ 9 mil por mês, mas ainda baixo em comparação com times de países de mesmo porte, como a França. Na final da Champions feminina, em junho, o salário mais alto era de 30 mil euros, na equipe do Lyon.

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Tadeu Chainça
O Contra-Ataque

Jornalista, fã de esportes, animes, cultura, idiomas e café. Só um desses não me faz mal