O Uruguai x Gana decidido numa cavadinha
Há exatos 11 anos estas seleções faziam um dos jogos mais emocionantes e memoráveis da história do futebol
Dois de julho de 2010. Exatamente onze anos atrás. Neste data ocorreu um dos jogos mais memoráveis para os amantes de futebol. Tenho certeza que você se lembra dessa partida, que representou bem uma das Copas mais doidas e cheias de zebras. Foi inacreditável.
Eu tinha apenas 8 anos e fiquei impressionado como um simples jogo pode trazer tantas reviravoltas e tantas emoções.
Estava em curso a primeira copa no continente africano, mais especificamente na África do Sul. Só esse fato já tornava essa copa histórica, mas havia um duelo querendo tornar o maior evento do planeta ainda mais célebre.
Sim, eu estou falando de Uruguai x Gana.
Gana fez uma campanha sofrida, se classificando em 2° lugar pelo saldo de gols, com uma vitória marga de 1 a 0 sobre a Sérvia, um empate em 1 a 1 com a Austrália e uma derrota para então tricampeã Alemanha. Se não fosse a goleada por 4 a 0 aplicada pelos alemães nos australianos na primeira rodada, você não estaria lendo esse texto.
Nas oitavas de final, os ganeses enfrentaram os Estados Unidos, que havia superado a Inglaterra no número de gols marcados e se classificado em primeiro lugar. O jogo foi tenso, terminando em 1 a 1 e indo para a prorrogação. Entretanto, logo com 3 minutos, Asamoah Gyan desempatou o jogo e levou Gana para as quartas de final.
O adversário agora era mais difícil: o bicampeão da Copa do Mundo, Uruguai. A celeste era favorita. Forlán vinha destruindo no campeonato e era uma forte ameaça aos ganeses.
Em Johanesburgo, a torcida era majoritariamente para Gana, escolhida pelos sul-africanos, cuja seleção foi eliminada ainda na fase de grupos. Impulsionados pelos fãs, os ganeses abriram o placar logo no primeiro tempo, com uma pancada do Muntari do meio da rua. Gana jogava bem, mas uma falta perto da área deu sopa pro azar. Forlán, usando e abusando das curvas da Jabulani, e se aproveitando da má partida que o goleiro Kingson vinha fazendo, empatou para os uruguaios.
O jogo ficou assim, tenso e empatado, até o final do segundo tempo, levando para a prorrogação. A partida dava todos os indícios que iria para as penalidades, até o último lance de jogo.
Depois de ficar pipocando na área, a bola foi cabeceada por Adiyiah em direção ao gol. Ela tinha um destino certeiro: estufar as redes do gol. Seria a primeira vez que uma seleção africana chegava em uma semifinal. Mas, essa história está longe de acabar.
Foi nesse momento que surgiu uma mão que mudou todo o roteiro. Luis Suarez deu um tapa na bola e faz uma defesa que deu um respiro ao Uruguai. Pensando melhor, não foi bem um respiro. Depois que o juiz marcou a penalidade máxima e expulsou Suarez, ninguém mais respirou. O continente africano inteiro parou para assistir Asamoah Gyan pegar a bola para a cobrança.
O grito de gol estava entalado na garganta dos ganeses. Era só Gyan, que vinha fazendo uma ótima Copa até então, estufar as redes e correr para o abraço. Ele não tomou muita distância, e com toda a força que tinha após jogar 120 minutos, macetou a bola. Foi uma cobrança boa, no meio do gol. Daquela que mata de raiva o goleiro que escolheu precocemente um lado para pular. Fernando Muslera apenas olhou e torceu.
A torcida deu certo, e Asamoah Gyan acertou o travessão. Na câmera focada em seu rosto, deu para perceber a sua expressão acompanhando atentamente a bola subir após dar de cara com o travessão. Em seus olhos, assim como no de todos os que torciam para Gana naquele exato momento, havia uma esperança. Dava para ver como Gyan torcia para que a bola, por um milagre divino, caísse dentro do gol. Torcia para que todos aqueles olhares ganeses e sul-africanos nas arquibancadas mudassem o destino original da bola, fazendo com que ela caísse perfeitamente dentro do gol.
Bem que a Jabulani poderia ter pegado esse efeito, né?
A bola subiu mais, depois subiu mais um pouco… e foi pra fora, para o desespero de Gyan. O juiz apitou o fim do jogo, e o Uruguai tinha o emocional perfeito para as cobranças de pênaltis.
Nas cobranças, Forlán foi o primeiro. Marcou. Depois veio Asamoah Gyan, que mandou a bola indefensavelmente no ângulo. “Por que não fez isso há 5 minutos atrás?”, pensaram todos os torcedores de Gana.
Victorino fez para o Uruguai, assim como Appiah, para Gana. Estava tudo igual: 2 a 2. Isso durou pouco tempo, pois em uma cobrança muito mal feita de Scotti e um posicionamento pior ainda do goleiro Kingson, o Uruguai fez 3 a 2.
Agora que a história começa a mudar. Mensah bateu fraco e no meio, sem dar maiores dificuldades para Muslera. Tudo parecia encaminhado para uma vitória uruguaia, mas o roteirista ainda queria brincar um pouco mais com o torcedor. Maxi Pereira tomou uma longa distância, fechou os olhos e deu uma bola de presente para os ganeses que comemoravam euforicamente nas arquibancadas.
Gana estava de volta ao jogo, era só Adiyiah — sim, aquele mesmo que cabeceou a bola que Suarez tirou com a mão — marcar. Bem, faltou combinar com Fernando Muslera, que pulou bem para fazer a defesa.
Na última cobrança uruguaia, Loco Abreu fez jus a seu apelido e, com requintes de crueldade, cavou a bola no meio do gol, sem chance para Kingston que já tinha pulado bem antes do chute. Seria isso o que Gyan deveria ter feito ainda no tempo normal? Perguntas como essa não saíram da cabeça daqueles que assistiam o jogo.
É, aquele grito de gol ficou entalado na garganta de todo um continente. As cordas vocais acabaram não vibrando, mas, em compensação, o travessão do Estádio FNB vibra até hoje.
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