#OCA4/20 — Atleta profissional pode fumar maconha?

Entenda quais são as regras para o controle do uso da planta no esporte

O Contra-Ataque
O Contra-Ataque
5 min readApr 20, 2021

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Por João Carlos Ambra e João Kerr

Mike Tyson já admitiu ter fumado antes de uma luta

A maconha é a segunda droga mais consumida no mundo, de acordo com a Global Drug Survey, uma das mais relevantes pesquisas mundiais sobre drogas. À frente dela vem somente o álcool, muito por conta de ser legalizado e banalizado em muitos países.

É cada vez mais comum ver atletas e ex-atletas falando sobre maconha, como Usain Bolt, Myke Tyson, Michael Phelps e os irmãos Nick e Nate Diaz. No entanto, diversos atletas já tiveram complicações por conta do envolvimento com cannabis, como multas e longas suspensões do esporte.

Um caso muito conhecido é do ex-jogador Jurandir Fatori, conhecido como Jura, campeão mundial com o São Paulo em 1993.

Elenco do São Paulo campeão mundial (foto: SPFC News)

Em 1999, aos 28 anos, Jura defendia a Inter de Limeira quando foi sorteado para o exame antidoping após uma partida contra o Rio Branco. O exame acusou uso de maconha e Jura foi condenado a 4 meses de afastamento, tanto de partidas oficiais quanto de treinar e até frequentar o CT de seu clube.

Isso tudo ocorreu após Jura fumar maconha com amigos depois uma vitória de seu time.

“Em 99 foi um jogo em Limeira, nós ganhamos no Noroeste de Bauru por 2x0 e aí eu vim de carona com os amigos. A gente fumou maconha, mas eu jamais imaginei que maconha tinha doping, que eu ia cair no doping. (…) Eu usava de vez em quando, fumava uma maconha (…) depois que o meu filho nasceu, nunca mais usei”

-Jura, em entrevista ao Uol

Mesmo após o fim da suspensão, Jura continuou tendo sérios problemas por conta da restrição ao uso da cannabis. Em entrevista à Folha, o ex-jogador diz que os clubes que tinham interesse em contratá-lo desistiam quando descobriam sobre seu histórico, o que o levou a jogar em times menores do que seu futebol permitiria.

Depois de ter seu salário cortado por 4 meses, jogado em clubes de menor escalão e passar por grandes problemas financeiros, o ex-jogador do São Paulo teve que trabalhar como manobrista de um restaurante.

Jurandir Fatori (foto: Record)

No depoimento à Folha, ele afirma também que não concorda com sua sentença:

“Não imaginei que fosse doping. Afinal, não fumei maconha para subir de rendimento no jogo. Aliás, com essa droga você fica mais sonolento, mais devagar em campo. O rendimento de quem fuma diminui. Por isso, não acho justo ser punido como se tivesse usado algo para ficar mais forte e ágil”

Fernando Solera, Coordenador de Controle Antidoping da CBF, explicou ao Contra-Ataque que a maconha ser controlada pelo antidoping não é apenas uma questão de performance:

“Quantos meninos e meninas de 8, 10, 14 aos de idade que se espelham no jeito do Gabigol, no cabelo, na comemoração? Existe esse exemplo de comportamento”

A questão da imagem pode pesar não apenas como “mal exemplo” para crianças, mas também pode fazer com que o atleta deixe de ganhar dinheiro com patrocínios. O ex-nadador Michael Phelps perdeu um contrato milionário com uma empresa de cereais após ser flagrado fumando maconha em uma festa.

Michael Phelps flagrado com um bong — foto resultou em uma suspensão de 3 meses das piscinas e perda de contrato de patrocínio

O uso da cannabis pode, portanto, causar problemas sérios para os atletas profissionais. Mas a WADA, Agência Mundial de Antidoping, fez algumas mudanças em seu código mundial para 2021.

A partir de janeiro, passou a valer a lista de “substâncias de abuso” — maconha, cocaína, heroína e ecstasy. O atleta que tiver uma dessas substâncias detectadas em seu exame poderá alegar que o uso não foi para ganho de performance e foi fora de competição, ou seja, mais de 24 horas antes de competir. Caso consiga provar, o atleta pode ter sua pena reduzida drasticamente, podendo chegar a apenas 1 mês.

Mas segundo Fernando Solera (CBF), essa medida não foi para aliviar para os atletas que querem fumar maconha, e sim para acolher melhor o jogador que tem alguma questão com drogas.

“O objetivo da mudança é trazer a possibilidade de reintegrar o usuário de drogas no convívio social, não excluí-lo de sua profissão. A WADA entendeu que é melhor ter uma pessoa reintegrada, numa tentativa de recuperação”, disse ao OCA.

Punições como as de Jurandir Fatori dividem opiniões. Enquanto algumas pessoas concordam que o jogador pego com a substância deve sofrer uma punição desse tipo, outros entendem que uma droga recreativa que não aumenta a performance não deveria ser considerada doping. No entanto, apenas 3% dos casos de doping no esporte mundial são de canabinoides.

Vale destacar que essa legislação vale apenas para o THC, composto químico da maconha responsável pelos efeitos psicotrópicos, afetando temporariamente a maneira como o usuário pensa e se sente. O CBD, composto que não causa embriaguez e e pode ser usado como medicamento para diversas doenças, como a epilepsia.

O CBD foi removido da lista de substâncias proibidas pela WADA em 2017 e hoje é visto como um medicamento, segundo Fernando Solera. Mas Fernando alerta que o atleta que utilizar o CBD precisa ficar atento — poucas pessoas sabem, mas o CBD, se exposto ao sol por 2 horas, pode se transformar em THC. Nesse caso, o atleta pode ter a substância detectada no teste antidoping e ser punido severamente.

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