Sobre rebaixamentos, títulos e classificações
O Paulistão 2020 se encerrou, mas as polêmicas que envolvem o seu regulamento parecem não acabar
Quando se fala em campeonato estadual, o regulamento do Carioca aparece como uma piada quase que instantaneamente. Um formato único, por assim dizer, que confunde o torcedor e até mesmo os jogadores que o disputam.
Mas enquanto todas as gozações estão voltadas para o Rio de Janeiro, o Campeonato Paulista não deixa a desejar.
A edição de 1990 do Paulistão trouxe uma das maiores polêmicas do futebol brasileiro: o São Paulo foi ou não rebaixado para a segunda divisão?
Após o Tricolor não ter se classificado para a fase seguinte do torneio, as manchetes dos jornais apontavam para um descenso do clube.
Apesar da repercussão negativa dessa campanha desastrosa do time do Morumbi, o regulamento da competição não previa qualquer tipo de rebaixamento, mas garantia uma nova divisão de grupos no ano seguinte, sendo o Grupo 1 formado pelos 14 times que passaram de fase no ano anterior e o Grupo 2 composto pelos 10 restantes.
Outro enorme desentendimento no campeonato aconteceu na final de 2003, que foi descrita pelo jornalista Rodrigo Bueno como “o São Paulo x Corinthians que encerra o torneio que apelou à Justiça para decifrar seu estapafúrdio regulamento”.
A confusão em volta dessa partida aconteceu por conta da escolha do critério de desempate da fase final. O regulamento previa que o critério seria o número de cartões vermelhos, portanto, em caso de resultado imparcial, o Corinthians seria campeão, pois havia sofrido duas expulsões contra três do rival.
A FPF, entretanto, concedeu a vantagem do empate ao São Paulo, levando em conta o número de saldo de gols. Para a felicidade dos alvinegros, o Timão foi campeão após dois resultados de 3 a 2 — mas, se o placar agregado tivesse terminado empatado, os torcedores teriam que esperar o STJD decidir o campeão do estado.
No Campeonato Paulista de 2020, o regulamento fez duas vítimas: Guarani e Novorizontino.
O Guarani precisava conquistar apenas um ponto dos seis que iria disputar para conseguir avançar no campeonato, porém, foi derrotado pelo Botafogo de Ribeirão Preto e pelo São Paulo, permitindo que o Corinthians ligasse a seta da esquerda e ultrapassasse o time de Campinas, se garantindo nas quartas de finais.
Se já não bastasse ter perdido uma vaga quase garantida, o Bugre viu o seu maior rival, a Ponte Preta, avançar para a próxima fase e vencer o Santos, parando apenas nas semifinais para o Palmeiras.
No caso do Guarani, algumas pessoas podem afirmar que o time não avançou para a próxima fase por ter fracassado na missão de arrancar pelo menos um empate contra o Botafogo, que lutava pra fugir do rebaixamento, ou contra o São Paulo, que jogou com o seu time reserva, mas o caso do Novorizontino é o que realmente coloca o regulamento do torneio em debate.
O Tigre teve uma excelente campanha, conquistando surpreendentes 19 pontos (três a mais do que o Santos e dois a mais do que o Corinthians) e fechou a sua participação na fase de grupos com uma vitória espetacular de virada sobre o time da Vila Belmiro com um placar de 3x2, que coroaria o time com uma vaga para as quartas se o regulamento da FPF priorizasse a classificação geral ao invés da colocação dentro dos grupos.
O time teve a quinta melhor campanha do estadual mas, por conta do azar de ter caído no grupo do Palmeiras (22 pontos) e do Santo André (20 pontos), o time de Novo Horizonte deu adeus à competição.
Em conversa com O Contra-Ataque, o técnico do Novorizontino, Robson Fonseca, celebrou a temporada do clube até aqui, com a conquista da vaga na Série D do Campeonato Brasileiro e a quinta colocação no Paulistão — e não reclamou do regulamento da FPF.
“Infelizmente ficamos de fora (das quartas de final) com uma pontuação maior do que a de muitos times grandes que se classificaram. Nós sabíamos do regulamento e todos aceitaram antes. Não podemos lamentar, mas dar os parabéns ao Santo André e ao Palmeiras, que fizeram ainda mais”
Por não terem se classificado, Novorizontino e Guarani partiram para a disputa do Troféu do Interior, que teve o Red Bull Bragantino como campeão. O Tigre foi derrotado pelo Botafogo de Ribeirão na primeira fase por 2 a 0. Já o Bugre perdeu para o time de Bragança na final.
