“Press Start”: dicas de jogos #1
Iniciado no perfil do Instagram, vou tentar trazer dica de algum jogo que tenho jogado ou já joguei. Faz parte do movimento da pesquisa se aventurar por diversos jogos, até mesmo para encontrar um empírico para chamar de seu. Para dar início, vou falar brevemente de três muito queridos por mim: Heaven’s Vault (2019), Röki (2020) e Spiritfarer (2020).
Heaven’s Vault (2019)
Heaven’s Vault é um jogo da inkle Studios. Lançado em 2019, podemos dizer que é um jogo arqueológico, onde de algum modo ele reinventa a maneira como a arqueologia e os arqueólogos são retratados nos games. Foi vencedor do IGF Excellence in Narrative Award 2019 e recebeu nomeação no BAFTA for Best British Game 2020.
No jogo vamos em busca de descobrir um passado esquecido e decifrar uma linguagem perdida em uma aventura narrativa de mundo aberto. A arqueóloga Aliya Elasra é a protagonista com a qual jogamos, acompanhada de seu parceiro robô Six, onde investigamos Nebulosa — uma rede ancestral de luas dispersas. São inúmeros locais perdidos que nos permitem explorar livremente ruínas antigas e traduzir inscrições para que assim sejam revelados os segredos do passado de Nebulosa.
E sobre decifrar as inscrições, além de contemplar a estética do jogo e os diálogos riquíssimos, é um ótimo desafio. A linguagem hieroglífica em Heaven’s Vault se vale de uma mecânica de quebra-cabeça com uma reviravolta narrativa particular: cada inscrição que encontramos possui um significado, e as traduções que vamos escolhendo realimentam a história, fazendo com que as ideias de Aliya mudem acerca do que ela encontrou. Um detalhe: nunca temos a certeza de que nossas traduções estão corretas, e isso nos fisga de certo modo.
Este é um jogo com uma imensa riqueza de vestígios, um mundo aberto que nos convida a explorá-lo literalmente de modo arqueológico. Aliya sempre deixa algum rastro para trás, uma espécie de conexão fantasmática entre diferentes momentos no tempo. Em sua relação dialética com Six, nossa arqueóloga também faz conexões com seu próprio passado conforme a narrativa avança e os vestígios aparecem. O que reforça Heaven’s Vault não ser um jogo de aventura linear como normalmente vemos.
📌 Heaven’s Vault está disponível na Steam, PS4 e Nintendo Switch.
Röki (2020)
Uma das minhas mais novas paixões, desenvolvida pela Polygon Treehouse e distribuída pela United Label Games: Röki. (:
Lançado em julho de 2020 e disponível para Nintendo Switch e PC/Mac, Röki é um jogo de aventura baseado no folclore escandinavo, com uma história rica e comovente — e uma arte fantástica. Lars é uma criança que adora criar amigos imaginários baseados nas criaturas do folclore escandinavo. Tove está sempre pronta para ajudar seu pequeno irmão “Tomte” com um carinho imenso. Os irmãos moram com seu pai, Henrik, em um casebre próximo a floresta e longe da cidade, o qual sente ainda muito a ausência da sua esposa Eva após sua perda.
Tove passa a ser a figura materna para Lars, onde prometeu cuidá-lo e protegê-lo. As histórias que são contadas para Lars na hora de dormir fazem parte da sua cultura local — escandinava. É então que em uma noite sua casa é atacada por uma criatura gigante e misteriosa. Nesta jornada, acompanhamos Tove com o intuito de resgatar seu irmão mais novo, Lars, que foi capturado por uma fera mítica.
Para que possa encontrar seu irmão, passamos a guiar Tove por entre diversos puzzles (com sua dificuldade aumentando conforme progredimos), escavando neve ou vasculhando gavetas para que se encontre um objeto específico, que muitas vezes será preciso combiná-lo com outro para avançar. Ou seja, sua jogabilidade point and click permite que sejam criados novos itens, a partir da combinação de artefatos que vamos coletando, para serem usados no jogo para resolver quebra-cabeças. Eu joguei no PC, com controle, e fluiu muitíssimo bem.
Röki te convida para apreciar sua arte e efeitos sonoros: para coletar artefatos e resolver os puzzles, muitas vezes é preciso ficar indo e vindo pelas áreas do jogo.
Os diálogos e a história que o jogo nos conta são bastante cativantes, onde os próprios puzzles do jogo dialogam de modo bem amarrado com o enredo. Há um equilíbrio no que se propõe e na experiência que oferece. Temas como luto, medo e abandono são trabalhados de modo cuidadoso conforme progredimos, apresentando os segredos emocionais de Tove.
Spiritfarer (2020)
Este é um jogo daqueles que se explora até não poder mais, torcendo para que não termine. Estou falando de Spiritfarer, desenvolvido pelo estúdio canadense Thunder Lotus Games, lançado em agosto de 2020.
Spiritfarer apresenta uma leitura muito sensível do mito de Caronte (Barqueiro da Morte). Na mitologia grega, Caronte é responsável por levar as almas dos que morreram até Hades para, por fim, morrerem por toda a eternidade. Ao começar o jogo, Caronte está encerrando o seu ciclo e transferindo a sua função para Stella, a protagonista com a qual embarcamos nessa jornada, junto de seu gatinho Daffodil.
Nossa missão é ajudar no rito de passagem de maneira confortável, sem julgamentos, sem pesares. A delicadeza nos diálogos e ações ao longo do jogo fazem com que Spiritfarer se destaque: há um cuidado ao falar sobre cuidar do outro, sobre como lidar com o luto e despedidas, de um modo leve e gentil. Os diálogos são riquíssimos ao tratarmos da narrativa como um todo — joguei em português e a tradução é maravilhosa.
É de se admirar a riqueza de cores (e suas transições) em uma estética que enche os olhos. Spiritfarer é um game indie de gerenciamento de pessoas/itens e um sandbox action. Sua dinâmica: encontrar os espíritos e acolhê-los em seu barco, onde ao longo do jogo você (Stella) precisa oferecer conforto, alimento e realizar os últimos desejos de cada uma dessas almas. Ao completar as tarefas de cada espírito, ele irá solicitar para que o leve até o Portal Eterno, para o seu momento de passagem.
São inúmeras idas e vindas no mapa do jogo, áreas que vão sendo descobertas (inclusive escondidas). Boa parte se passa no barco de Stella, onde vamos construindo vários puxadinhos ao longo do jogo (casas, ferraria, cozinha etc.). É possível jogar single player ou em até duas pessoas (um controla Stella e o outro Daffodil).
Há minigames presentes em Spiritfarer, mas vou destacar aqui um relacionado ao personagem Buck (o meu preferido!): é um minigame de RPG, carinhosamente chamado de W&W (alusão ao D&D). A casa deste espírito no barco traz elementos de RPG de mesa, e a narrativa dele é toda baseada em falas de uma sessão de RPG (ele rola dados quando fala!).
📌 Dica de review muito cuidadosa, do Wagner Wakka: https://canaltech.com.br/games/review-spiritfarer-170009/