A Rede Globo não toca a música do plantão a troco de nada
Se tem uma coisa que é canônica na Rede Globo, é a gravidade e seriedade dos seus plantões. Não é à toa que a gente treme quando toca a musiquinha aquela — porque sabemos que a trilha do plantão da Globo nunca toca a troco de nada. Mesmo (ou talvez menos ainda) em uma madrugada de sábado. Ainda que seja uma notícia menos bombástica do que as anteriores (OAB pedirá impeachment, basicamente), não se pense que a musiquinha que tocou no dia 21/05 foi mero exagero ou falta de critério.
Ao que a maioria dos elementos nos indica, Globo desembarcou de Temer. E não por causa dele ou do que eventualmente tenha feito: desembarca em nome das reformas, tão desejadas pelo grupo em que a emissora se insere.
Temer só serve na medida em que é politicamente capaz de tocar reformas. Já era assim antes de Joesley ligar o rádio do carro na CBN e gravar seu papo com o ex-vice. Ou já esquecemos o governo rastejando pelo Congresso em nome de apoio, estendendo tapete para prefeitos capazes de pressionar congressistas, ameaçando perda de cargos em caso de infidelidade? Temer já era impopular, então. As reformas eram a sobrevivência não só do seu governo esfarelado, mas, acima de tudo, de seu grupo político. Agora, se mostrar-se incapaz de aprovar o que quer que seja (e está claríssimo que assim é), será rifado. Não à toa o primeiro gesto de Padilha foi dizer que “a tempestade passou” e que ia retomar discussão das reformas. Um sinal. Pelo jeito, não convenceu.
Abrindo plantão na madrugada de sábado para uma decisão em verdade nada urgente da OAB, Globo não fala só do que acontece, mas do que deseja. Quer outro nome para as reformas. O editorial d’O Globo, por sua vez, já tinha sinalizado indiretas já. O recado, entre outros alvos, é para os congressistas: arranjem um nome de consenso aí. Enquanto isso, o ex-vice esperneia tal barata, com a barriga para cima, vulnerável à chinelada que virá.
