Brevíssimo comentário sobre Jair Bolsonaro

Igor Natusch
O Esforço Diário
Published in
2 min readDec 11, 2014
Foto: Rogério Tomaz Jr./CDHM

Ouço o espernear de Jair Bolsonaro e não consigo ver nele um oponente, sabe. É uma figura abjeta e repugnante, claro. Deve ser repudiado, combatido, posto a nu na infâmia que representa. Mas não o considero, enquanto indivíduo, temível. Pelo contrário: vejo nele uma figura frágil e meio ridícula, inclusive. Ele grita porque representa um mundo tosco, grosseiro e vulgar que está desaparecendo. Um mundo onde a truculência não é o último recurso: é o único. Onde a vitória é, ou costumava ser, de quem batia mais forte. E agora Bolsonaro (e o modelo tosco de política que representa) é incapaz de enfrentar a onda que o varre para longe. Resta a ele a gritaria, a infâmia.

Nada temos a temer de Bolsonaro, acho. É muito bem votado, certo, mas incapaz (por postura e por discurso) de qualquer articulação para um voo mais alto. O que não quer dizer que não temos nada a temer. O verdadeiro oponente, no caso, veste outra roupa, usa palavras menos ultrajantes. É mais sofisticado. Sabe ser convincente. Bolsonaro é um bufão, que serve de ventríloquo patético para pessoas que xingam sem saber o quê. O problema não está encerrado nele: está no tipo de ideia que se anima com sua presença, e que seguirá existindo quando ele sumir. É contra isso que devemos nos acautelar. Os temíveis são os que defendem o que Bolsonaro defende, mas com palavras macias e postura irretocável. Esses sim me deixam de olhos bem abertos.

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Igor Natusch
O Esforço Diário

Jornalista. Ser humano. Testemunha ocular do fim do mundo.