Fugir das vaias é coisa de covardes. Ouviu, Michel Temer?

Igor Natusch
O Esforço Diário
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4 min readSep 6, 2016
Foto: Beto Barata / PR

Michel Temer é um pessoa acovardada. Ocupa, como todos sabemos, o cargo de não-interino na Presidência do Brasil, e se move nesse espaço com a insegurança de quem, vendo uma cadeira livre numa sala lotada, sente-se observado por todos e não sabe se deve ou não sentar-se. Justo: está, de fato, em lugar que não é o seu. E o medo de ser colocado em situações desagradáveis revela sua própria inadequação.

Fez aquela que é provavelmente a mais patética abertura de Jogos Olímpicos de todos os tempos, tomado pela insegurança, numa brevíssima fala que, ainda assim, não foi capaz de fugir das vaias. Tão logo foi empossado, bandeou-se para a China, em um encontro do G20 — ocasião onde foi alvo de poucos sorrisos e que gerou uma foto altamente emblemática, onde o mandatário brasileiro aparece completamente de canto, quase isolado, moleque que as outras crianças não querem chamar para brincar. E agora dizem que desfilará em carro fechado no sete de setembro, tudo para diminuir a chance de sofrer vaias — o que é simbólico em tantos níveis que chega a dar preguiça de descrever.

Isso me causa alguma surpresa, sabe. Claro que não espero de nenhum presidente que aprecie as vaias, que sinta-se feliz diante delas e tudo mais. Mas tampouco espero de um governante um medo tão acentuado de ser mal recebido pelas pessoas — algo que, imagino eu, é ocorrência razoavelmente comum na vida de um político. Depois de um processo traumático (para não dizer ilegítimo e imoral, mas essa é outra conversa), o mínimo que se espera de alguém que pretende recolocar o trem nos trilhos é pulso firme, tenacidade, capacidade de colocar a si mesmo como uma figura digna do respeito de sua população. Mas que respeito pode receber um governante que foge de seu povo, que isola-se em seu gabinete, vê toda situação pública como uma obrigação desagradável onde só importa fugir do constrangimento?

Que Michel Temer fará seu (esperamos que curto) mandato debaixo de mau tempo, todos sabiam ou, no máximo, apenas fingiam não saber. O encontro do G20, onde o atual mandatário foi não mais do que um coadjuvante sem brilho e sequer aparece no site do evento, deu o tom de constrangimento que envolve sua presença no cenário internacional. Visto como ator numa intriga que desestabiliza um dos países emergentes do planeta, um vice que conspirou contra a presidente ao lado de uma oposição manchada por denúncias muito mais graves do que as que julgava (ou seja, tudo que ele de fato é), vai ser difícil Temer ter mais do que a tolerância pouco efusiva de seus pares. E os protestos que crescem em várias cidades brasileiras deixam claro que fatia significativa da população não apenas o despreza, como deseja ativamente que ele desapareça o mais rápido possível.

Com um ministério amorfo e uma agenda das mais impopulares, que ameaça direitos trabalhistas sem constrangimento e dificilmente teria sido referendada nas urnas, não dá para imaginar que a tempestade se dissipe em futuro próximo. E é disso que Temer foge: da consciência de que é o nome errado, no lugar errado, na hora errada. De que senta no gabinete presidencial, mas não governa de fato: é um fantoche, um joguete na mão do alto empresariado ávido por benefícios e de partidos fisiológicos que o colocaram lá em nome de interesses deles próprios. Michel Temer nunca foi ficha um de ninguém e, homem inteligente que é, sabe disso muito bem. E foge das vaias, pois nelas se concretiza sua impotência, torna-se impossível não enxergar a fragilidade de sua posição. Tenta compensá-las com gestos ridículos, como bater na mesa e dizer que “não tolera” ser chamado de golpista — uma bravata tão patética que seu único resultado é encorajar os que gritam golpista nas ruas e nas redes sociais.

Muito mais difícil do que respeitar um farsante ou um usurpador é respeitar um covarde. É essa a imagem que Michel Temer vai construindo para si, a cada ausência real ou simbólica, a cada jeitinho que dá para fugir das manifestações contra si. Além de golpista e oportunista, um medroso. Fugir flagrantemente das vaias, aos olhos de todos e todas, é uma posição que não cabe aos estadistas, mas aos frouxos e borra-botas. E seu desprezo fleumático pelos protestos que não pode calar, atribuindo-os a meras “40 pessoas”, soma outros predicados ainda menos recomendáveis à construção de sua imagem pública. Não que eu tenha interesse em ajudá-lo, ao contrário: por mim que desabe e suma de nossa vista o mais rápido possível, como capítulo vergonhoso da política brasileira que é. Mas é evidente que, sendo o governante ausente e sem respeitabilidade que tem sido, nem o servilismo rastejante de boa parte da imprensa brasileira será suficiente para dar a Michel Temer um mínimo que seja de paz.

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Igor Natusch
O Esforço Diário

Jornalista. Ser humano. Testemunha ocular do fim do mundo.