“Será que vale a pena morrer por R$ 450?”

A pergunta é do presidente da associação de policiais do RS, feita no dia 29 de outubro de 2016 após novo parcelamento de salários por parte do governo do Rio Grande do Sul. Ao fazer a pergunta em questão, está relacionando esse atraso no pagamento integral (que acontece pelo nono mês consecutivo) a mortes recentes de soldados da Brigada Militar, que cuida da segurança nas ruas do Estado. Quem relata a declaração é a reportagem da Rádio Guaíba.

Acho uma pergunta muitíssimo pertinente.

Digo sempre, e inclusive já disse por aqui, mais de uma vez. Defender e prestigiar a Brigada Militar — e as polícias em geral — não é celebrar quando matam um criminoso, seja pela trágica necessidade do momento ou via execução covarde e monstruosa. Defendê-los é exigir que o Estado cumpra suas obrigações para com esses profissionais, tratando-os como funcionários públicos que precisam de treinamento, equipamento adequado, suporte incessante e remuneração condizente com as atividades que exercem. São policiais, não mártires ou super-heróis. Não devemos pedir deles que resolvam sozinhos, na força da bala, o fracasso de todo um sistema de segurança — e muito menos pedir que façam o sacrifício de enfrentar situações de extremo risco sem receber sequer a integralidade do soldo que os sustenta.

Se você se acha #TeamPolíciaMilitar porque comemora quando um criminoso é morto, mas não diz uma palavra que seja quando esses policiais passam NOVE MESES SEGUIDOS recebendo salários parcelados, permita-me dizer: você não defende policiais coisa nenhuma. Você apenas saliva de prazer diante da matança. O que você quer é bangue-bangue, uma sensação breve de vingança diante do crime, e isso nada tem a ver com a classe policial que você gosta de pensar que defende. Seja lá o que aconteça com a vida dos policiais, com sua sobrevivência e a de seus familiares, interessa a você muito, mas muito menos do que você gostaria de admitir.

Eu diria que não, não vale a pena morrer por R$ 450. E se a sociedade, tão enfática na hora de exigir bandidos mortos, vira o rosto e não faz nada quando esses policiais são desrespeitados desta forma pelo poder público, fica claro que ela não merece de forma alguma semelhante sacrifício. Não merece que um policial morra, e não merece que ele vire um assassino. Já a violência que nos engole todos os dias, bem, essa eu tenho dúvidas. Suspeito que a mereçamos bem mais do que seria confortável admitir.