É o que de gringo

Felipe Abracax
O EXPRESSO
Published in
5 min readMay 26, 2016

“ É errado escrever letras de heavy metal em inglês porque você mora/vive/nasceu no Brasil “ ou também “ É errado escrever letras de heavy metal em português porque fica extremamente tosco “. Quem nunca ouviu algo nesse naipe? Mesmo não sendo nesses exatos preconceitos, é algo muito corriqueiro de se escutar no meio musical, muitas pessoas ditam o que deve ser feito porque sempre tem um lado certo e um lado errado para muitos. Esse tipo de maniqueísmo é complicado de lidar, porque não há um caminho verdadeiro a seguir quando se tratam de línguas estrangeiras em música de território nacional ( no caso o nosso, brasileiro ). Podemos ser sinceros; por que alguém deve escrever em inglês se a banda veio daqui? Mas também por que alguém deve escrever em português se o estilo em si é originalmente do exterior? Há milhares de respostas para ambas perguntas, mas se pararmos para ver nenhuma delas justifica um “ certo e errado “ de verdade, e sim muito mais de opiniões alheias com base em valores pessoais. Hoje vou falar um pouco sobre essa questão completamente complicada, muitas vezes tratada de forma muito equivocada, e assim mostrar que não existe um “ Yin e Yang “ de escrever letras na sua ou em outras línguas mas sim quais são os resultados de cada um dos dois caminhos que podem ser escolhidos.

Vamos começar pelo principal argumento mais usado “ escrever em português porque a minha banda é do Brasil “; sim, você tem todo direito e faz sentido! Mas muitas vezes junto a esse discurso vem ás vezes um “ e tal banda que escreve em inglês porque é bajulador de gringo “ ai eu não posso concordar com esse tipo de discriminação. Sim esse tipo de discurso é discriminatório, por que? Simplesmente pelo fato de que não há embasamento pertinente para manter ele fiel a uma opinião sem preconceitos, determinadas bandas optam pelo fato de escrever em inglês para poder ter um entendimento de qualquer um que fale inglês pelo mundo inteiro, pois o inglês já está globalizado, muitas pessoas ao redor do mundo já sabem falar a língua. Ao contrário do português, que já é difícil encontrar alguém que saiba falar e não esteja oriundo do Brasil, Portugal, Moçambique, Angola, Cabo Verde; lugares em que o mercado desse meio é extremamente complicado e a economia não é estável, e a língua portuguesa está entre uma das mais difíceis de se aprender, um fator menos importante mas de certa forma essencial pro caso. Em partes; muitas bandas se dão melhor no mercado do exterior escrevendo em inglês porém comprometem o entendimento de muitas pessoas de seu próprio país que não sabem falar a língua inglesa. Situação muito problemática para o território nacional do heavy metal, mas na minha opinião, o artista que planeja ingressar no mercado mundial tem que se preocupar mais com o que ele pode oferecer a todos que tem acesso a língua do que apenas uma determinada massa de seu próprio território.

Agora vamos tratar dessa outra questão, a língua que todos nós já falamos e conhecemos desde que entramos na escola. Escrever em português também não é um problema, mas alguns pensam “ é muito tosco escrever letra de heavy metal em português “, isso varia de pessoa pra pessoa meu caro. Você pode abolir certos tipos de discursos comuns no rock n roll americano ou britânico porque não tem nada a ver com os nossos costumes nativos, mas você não pode proibir o próximo de falar sobre isso. Considere qualquer tema na sua banda e monte o discurso de acordo com tudo que você aprendeu sobre redação e literatura na sua vida, você pode construir uma grande letra! Não se pode duvidar da capacidade de um artista por conta de um costume já usado muitas vezes, um hábito que tem justificativa, mas mesmo assim não podemos proibir. Escrever em português pra esse tipo de coisa, em geral não é muito fácil. Não é simples criar uma letra realmente impactante em português, apesar de que existem bandas que o fazem muito bem, mas também é um pouco complicado criar uma letra impactante em outras línguas. Qualquer língua deve ser valorizada, se uma pessoa quiser tocar música indiana em português ela pode tocar, assim como ela pode querer tocar o mesmo estilo em russo talvez…a questão é: a criatividade não pode ser limitada por valores pessoais alheios.Afinal, certas idéias são “ estranhas “ vistas dessa forma, mas são com linhas um pouco mais diferentes que se alcança o novo, o diferente, o destaque! Quer tocar em português, que toque, talvez um dia vamos ter uma banda a lá Rammstein ( criou algo inovador, tem uma identidade totalmente própria e toca na língua nativa ) e assim o nosso mercado seguirá outro caminho.

Afinal, existe certo e errado nessa história toda? Não. Mostrei toda a balança pragmática que existe nas escolhas de tocar em determinada língua, essas consequências são mutáveis? São, mas requer muito esforço e dedicação. Muitas pessoas tem um ponto de vista equivocado com esse tipo de assunto, não é qualquer um que vai entender o que a banda achou melhor no fim das contas. Milhares de possibilidades vem aí, diversas maneiras de se comunicar com o público alvo.Um hábito que vejo muito atualmente são bandas que passam a cultura e história brasileiras em inglês ( Voodoopriest e Violator atualmente ) e também letras em português com cultura de fora ( Cemitério ). Mesmo se a banda querer escrever em cinco línguas diferentes em um álbum só, é escolha de cada um pra cada situação diferente. O que eu acho? Eu gosto mais de escrever em inglês do que em português quando se trata de música, mas não vou julgar quem prefere fazer o contrário. Vamos valorizar quem quer progredir no mercado internacional mas também vamos apoiar quem prefere dar um zelo ainda maior ao público de seu próprio país, iniciativas diferentes mas igualmente honrosas ao nome da arte, seja em português contemplando cultura de fora ou inglês com a cultura brasileira.

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