Arrependimento e a ganância pelas melhores escolhas

Lucas Correa
O EXPRESSO
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3 min readJun 29, 2016
“Make your choice.” — Jigsaw

Escolher é se limitar.

Cada escolha feita representa infinitas renúncias. Quem eu poderia ser será sempre mais sábio, mais inteligente, mais experiente e mais bem aventurado que quem eu sou. Essa inferioridade sobre o “eu-potencial” é inerente ao Homem racional e o incomoda durante toda a sua vida. Por outro lado, abdicar-nos das escolhas é também uma forma de escolher, portanto, é também limitação. Somos eternos escravos das possibilidades, daquilo que poderíamos ter sido e não fomos e jamais seremos. Nossa vida é também um exercício constante de consentimento às nossas infindáveis limitações. Ser feliz, nesse contexto, é aprender a conviver com nossa submissão e falta de liberdade, simplesmente esquecê-las ou ignora-las.

Essa compreensão nos leva, ainda, a entender melhor a origem do arrependimento. Arrepender-se é saber que fizemos escolhas legítimas, enquanto em plena sanidade mental, mas ao olhar para as outras possibilidades de escolha, sentimos que elas trariam melhores resultados, mais condizentes com nossas expectativas. Nesta altura, vale lembrar que a cesta de escolhas que descartamos é infinita e crescente; a cada escolha que fazemos, adicionamos infinitas outras na cesta de descarte.
Se em cada momento de decisão em nossa vida somos obrigados a tomar apenas uma decisão entre infinitas, nossas chances de escolhermos a melhor delas é de um sobre um número que tende a infinito, isso resulta em um número que, no limite, é 0. Isso significa que é praticamente impossível agir de maneira ótima; fazer a melhor escolha ou tomar a melhor decisão.

Na verdade, é isso que somos: limitados e errantes. Mas não há nada mais para ser. Esses erros e limitações nos definem. É isso que somos. Nossas escolhas sempre erradas e nossas versões inferiores de nós mesmos são o que constroem e definem a sociedade.
Quem aprende a reconhecer tudo isso, tem uma poderosa arma contra frustrações e um pedaço do mapa que leva a felicidade (se você acredita que existe um).

Você aceita ter escolhido a fila mais lenta no metrô, dentre todas as outras que estavam disponíveis a sua escolha, onde uma mulher tenta insistentemente passar com um bilhete sem crédito.
Você aceita permanecer na faixa mais lenta da avenida que, até poucos minutos antes, fluía como água, enquanto você se via parado na outra que, agora, é a mais livre de todas.
Você aceita ter escolhido Dutra, que está com um congestionamento kilométrico devido a um grave acidente, quando poderia ter seguido pela Ayrton Senna com o tráfego livre como os pássaros, mas você só soube disso depois, “como sempre”.

Você aceita não sair ganhando sempre. Você não revira os olhos e faz aquele som insuportável com a língua: “tsc”. Não sai enchendo as bochechas e bufando para a vida, como se ela tivesse alguma culpa sobre sua ignorante vaidade de querer sempre optar pela melhor das opções.

Aceita a dor causada pela ex (uma má escolha, você possa pensar), perdoa-se pelas ofensas proferidas num momento de nervosismo, aceita parar Engenharia de Produção na metade porque percebeu que Filosofia é mais sua cara. Você entende que a vida trata-se sempre do que há de vir, e que não há nada mais que possamos fazer senão escolher. Escolher rapidamente, como um ato de reflexo mental, uma conclusão instintiva sobre a qual não temos muito controle. Por mais que a decisão tenha demandado anos até ser definida, será sempre um ato de reação aos segundos que não param nunca de vir, e vêm em uma velocidade com a qual não sabemos, e receio que nunca saberemos, lidar.

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Lucas Correa
O EXPRESSO

28 na contagem regressiva da vida, que corre enquanto eu pulo muros por aí e tento ser feliz descobrindo aos poucos sobre o que tudo isso se trata.