As histórias do Oito de Dourados, clube mais insano do Mato Grosso do Sul
Entre porrada generalizada na diretoria e mortes suspeitas, a história do finado Oito de Dourados é das mais bizarras de todo o futebol.
Dez da noite. Rola a bola para Oito e SERC. Campeonato Sul-Matogrossense de 1994. Zé Roberto abre o placar para o SERC aos 9 do segundo tempo. Totó, beque central do 8, sai de campo misteriosamente. Pula o alambrado, senta na arquibancada com os poucos torcedores que restavam no Estádio. Era o último jogo do breve Oito, time mais maneiro do Mato Grosso do Sul.
O clube foi fundado em 1972, como time de várzea. O nome era paródia do futuro rival; O Sete de Setembro, segundo maior clube da cidade. Ascendendo com seu futebol e vendo a pequena brincadeira se tornar realidade, o Oito finalmente ascendeu ao futebol profissional em 1976, no Matogrossense daquele ano. O posicionamento na competição foi pífio e o futebol não era nada comparável ao dos já medianos clubes da época. Mas a equipa mostrou ao que veio; e ganhou já seus primeiros adeptos.
O dinheiro começou a rolar em 1984. A contratação do centroavante Giles, vindo do Sete de Setembro, começou a dar nome ao clube. Nessa época, o Mato Grosso do Sul já havia declarado independência e o estadual sul-matogrossense já estava acontecendo, causando um belo burburinho no Estado todo. Giles era o principal goleador do Sete, mas após uma botecada braba e uma treta feia com a galera do elenco, o striker de Dourados foi convidado a se retirar do time. Foi pro rival.
A apresentação de Giles foi uma festa na praça principal de Dourados, com direito a churrasco, cerveja e cachaça, afinal, o time de sangue varzeano era curtido nesses três elementos. Não foi muito além disso, mas era de se dizer que o Sete ficou totalmente encucado. O estadual já havia acabado para ambos nesse momento e havia ficado para o Operário de Campo Grande. Mas a arruaça de Giles deu desconforto aos rivais, causando uma leve instabilidade na relação entre diretores. Muitos torcedores acabaram virando a casaca graças ao ponta de lança, reconhecido em todo estado por sua habilidade.
Seis meses depois, fogo no CT do Oito. E o culpado tinha nome: Paulo Alberto dos Santos, dirigente do Sete, que havia enunciado, explicitamente, no Coreto de Dourados, que a rivalidade havia deixado de ser sadia. O que Guaraciaba Lima diz é o seguinte:
O que o povo dizia era que o Carlinhos, que era o tal do chefe do Oito, se enrolou com a mulher do Paulo. O Paulo cabeça quente, tinha sangue nos zóio, […]foi e colocou fogo lá no clubinho da Ponta-Porã. Deu recado. Era homem grande na cidade, assustou.
Fato ou não que aconteceu a traição, o que importa é que o dirigente do Tricolor (Sete) saiu ileso da agressão. A ainda muito coronelista Dourados não tinha uma polícia para lá de independente, e seu Paulo tinha muito poder lá dentro. Os ataques começaram a ser mais diretos e frequentes com a vinda de Pepê, lateral direito e campeão do Operário que havia se mudado para a cidade e preferiu jogar no Oito. Não só declarações públicas, mas ameaças e formação de pequenas gangues na cidade, através das torcidas organizadas que começaram a surgir. Tricolor da Sul e Carcarás do Coreto foram criadas e iniciaram uma divisão territorial curiosa na pacata Dourados. Pixações, depredação e violência; não faltou nada para o espetáculo de 84.
No Campeonato de 1985, Oito e Sete não se enfrentaram. Talvez por pura maracutaia da FFMS (Federação de Futebol do Mato Grosso do Sul), os times caíram em grupos diferentes e somente o Oito passou. Doeu nos olhos de Paulo ver que o varzeano clube arquirrival estava emergindo com classe para cima deles. Apesar disso, o Oito caiu nas semi-finais para o Douradense, magnânimo time da cidade com a qual a rivalidade não era tão grande, afinal, o Douradense alugava o estádio para o Sete e para o Oito, além de contratar jogadores e servir como mãezona desses pequenos irmãos briguentos.
Em 1986, Freizinho, preparador físico e capelão do Sete, foi assassinado.
Continua…