Brace yourselves! O primeiro álbum da Purple Narcissus é bom mesmo.

“Second Death” reflete o nightlife paulistano e pode ser ouvido a qualquer hora do dia

Isadora Candal
O EXPRESSO
4 min readAug 27, 2016

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A Expresso conseguiu com exclusividade um sneak-peek do álbum “Second Death”, do trio Purple Narcissus, e estamos tão extasiados que decidimos fazer uma revisão dele para poder preparar os ouvidos dos alternativos, dos descolados, dos pseudo-junkies e dos que curtem música diferente e maneira. O álbum conta com várias referências da cultura pop de uma juventude que cresceu usando a internet, deixando isso nas letras. Quanto às batidas, o sythpop pesado mantém linearidade sem ficar monótono e envolve na atmosfera que vai de repetições à mistura de samples. Tudo limpo e bem editado. Quanto às gravações, eu não sei afirmar, entretanto, o grupo, que pode até não ser, mas apresenta um disco seguro, mostra que é pra valer e que eles produzem conteúdo interessante.

Purple Narcissus on stage @ PRINT SCREAM FEST #2 Foto: Caio Brtt

“Metal Gear Sadness” é a primeira faixa. Os sussurros do vocalista, Pedro Muriel, acompanhados pela batida espaçadas — que, particularmente, me lembraram o ritmo de marchas — e, logo depois, pela mudança do tom de voz, revelando profundidade, parecem chamar diretamente a quem ouve, hipnotizam e conduzem facilmente até o fim da música. É um ótimo convite para continuar ouvindo o álbum.

Em seguida, “Online” inicia mais animada. Afirmações como “…the best of you is online” refletem valores atuais e, por isso, ironizam os mesmos sem negar a própria participação para a potencialização desses valores.

O single “Penetrate the Internet” chega em terceiro. O clipe, lançado essa semana, não poderia ser mais apropriado para a música, quando escutada isoladamente, é impossível não associar com as imagens piscantes e deformadas do clipe. A Internet aparece bastante no trabalho dos caras. O humor nessa música é tênue, a escolha dela como a faixa mais notória foi uma bela sacada, sintetiza muito bem as propostas do álbum. Com suas batidas rápidas e drops com distorções, é completamente possível que essa música toque na balada. Pode fritar mesmo!

Em seguida, “Russian Bride”! É a minha favorita, sem dúvida. Com as batidas puxadas pro witch house, parecendo as de uma caixinha de música macabra, Pedro canta com um sotaque “russo”, encarnando a personagem descrita na música e contando a história dela. Morbidez, vozes ao fundo e sutileza, chegam até a dar um calafrio. Mas é apaixonante.

Pedro Muriel (vocal) on stage @ PRINT SCREAM FEST #2 Foto: Caio Brtt

A quinta faixa, “Fenty”, inicia com samples chamativos e o beat industrial característico, mantendo o esquema. Forte, a música parece bem encaixada na sequência escolhida.

A intro começa misteriosa, elementar e traz uma atmosfera densa em “Second Death”, logo seguida o vocal grave é enfatizado. Todos os elementos, como a letra, o arranjo e a sobreposição dos vocais, até agora, foram executados harmoniosamente dentro do estilo urbano-caótico. Essa faixa é um exemplo ótimo de como algo tão simples é capaz de fazer sentir. Essa faixa poderia facilmente ser transformada ao tocar num set, explorando a batida muito mais.

“Mezanine” é climática e foca mais no beat do que na letra. Sem muitos riscos, com todas as características de uma música que se propõe a isso precisa, mantendo a homogeneidade do estilo.

Voguing is for pussies, thank god I’m the biggest one! A música oito também é uma das minhas prediletas. Tanto pela referência, quanto pela batida. Dançante, é climática mas ainda continua no conceito do álbum, é outra forte escolha pra tocar em balada. Vogue, vogue, vogue until you drop!

Na sequência, parecendo ter sido escrita a alguém ou sobre alguém, a “Art Hoe” é aclamada diversas vezes durante a nona música. O beat sem grandes alterações dá uma abaixada nos ânimos, parecendo até música de inspiração construtivista, tipo Kraftwerk.

“Mother”, é uma faixa curtinha, apenas pra fim de transição. Ainda assim, a décima inicia sinistra, com sinos e uma oração.

No número 11, “Guts” parece trilha de alguma fase aquática de Sonic. Inovadora por trazer sons de piano, é descolada mesmo divergindo levemente da centralidade do álbum. O fim da música, sendo minimalista é, no mínimo, fofo, com uma cara mais radiofônica.

A faixa final e, também, a mais longa, “False Alarm” encerra o primeiro álbum de maneira segura, a viagem entre os estilos de beat na música é o que mais chama a atenção do ouvinte. É uma boa track. Foi explorada de uma maneira ótima e passa confortavelmente, não parece aquelas intermináááveis, dá pra curtir a música até o fim, numa boa.

Second Death revelou-se um álbum bem cool e, de modo geral, seguiu a proposta estilística, sem faixas fora do padrão. O álbum todo sim é um grande “fora do padrão” que busca inspiração dentro do corriqueiro. A batida, o humor irônico, as referências, são todos reflexos do que a cena do novo underground consome e reproduz. É atual, algo que temos contato todos os dias. Visto por um novo prisma, jovem, voltado pra música. Dá pra ouvir e fritar, assim como dá pra ouvir e prestar atenção em cada coisinha que eles quiseram colocar ali. Aqui na Expresso todo mundo achou muito foda. Já queremos uma Eurotour. Haha. Keep up the great work!

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Isadora Candal
O EXPRESSO

Quero fazer filmes, viajar, debater assuntos legais, ler livros e dormir. Não necessariamente nessa ordem.