Entre o trabalho e a adrenalina.
Ah, o mundo da música é um lugar completamente pacifico, com colinas verdes com aroma de menta e pequenos animais inofensivos e amistosos; onde todos fazem seu som, se dão as mãos para cantar o raiar do Sol juntos como grandes amigos que são. Antes fosse assim, antes fosse se não vivêssemos no mundo real, no meio musical onde há muita discussão e briga sem sentido por estilos musicais; entre aqueles que são técnicos e disciplinados contra os tradicionais e fiéis. Eu sempre ouço de ambos os lados algum problema, por exemplo: “Ah, se essa banda fizesse coisas menos manjadas”, “Ah se eles fossem mais tradicionais”, “Ah, ele precisam parar de ser tão genéricos”, “Ah, eles precisam parar de ser tão tradicionais ”, “Ah, ah, ah, ah, ah”. Se você que está lendo este texto tem esse tipo de atitude já aviso que não estou aqui para definir “o melhor a ser feito”. Assim como o último post, relevarei fatos sobre as escolhas, mostrando o valor de cada lado, novamente irei provar que entendo a preocupação de cada lado mas como isso tudo não é verdadeiro motivo para arrumar arquétipos ou estigmas a ambos.Qual é o problema de tocar de maneira simples mas ser cativante? Qual é o problema de alguém estudar pra criar muito mais e oferecer coisas novas? Realmente existem problemas? Existem, mas as músicas não são o problema em si, elas são apenas o estopim para uma série de outras complicações que são: nós mesmos.
Partindo do tradicional: heavy, thrash, death, black, punk, a época dos 1970 e 1980…quando tudo isso começou. Esse som ainda remete, e por ventura é escutado bastante por quem gosta de um som pesado e “que deu início a tudo”. Ok, isso muitos de nós já sabemos! Mas são constantemente criticados por outros músicos e fãs de sons mais modernos e atuais; e normalmente são taxados de serem “ultrapassados”, “antiquados”, “ruins”, “simples” , entre outros. Está certo que quem remete ao esteriótipo está condenado a sofrer diversos tipos de discriminações como essas, mas quem disse que eles estão fazendo errado? Muitas pessoas, mas isso não quer dizer absolutamente nada, o gosto não é definição de certo ou errado. Quem toca um estilo que é julgado por muitos “ batido”, “manjado”, “genérico”, “óbvio”, “mesmice” tem todo o direito de fazê-lo. Manter um som como antes não é um crime; mas será que de certa forma é mais complicado de seguir novos caminhos com isso ? Se a banda quer ser uma promessa; realmente será mais difícil de tomar rumos mais complexos se seguir sempre uma mesma fórmula com som. Todos já conhecem o tradicional, promessas vem para destruir barreiras, mostrar o novo, sair das linhas, quem já viu algo de antes não vai se surpreender ou se interessar se não for fã de algo que já tenha ouvido antes e é idêntico ou parecido. O público remeterá a sempre ser o mesmo pelo menos no gosto; se essa é a ideia da banda mesmo, excelente e estão fazendo um ótimo trabalho. Mas por que isso desagrada profundamente a outros músicos que fazem algo “alternativo”, “experimental”, “progressivo”?
Atualmente, existem mais bandas fazendo um som mais voltado ao tradicional do que progressivo, experimental, técnico no Brasil, os fãs desses sons não ficam nada conformados com isso, pois pensam que essa é uma forma de destruir a variedade no mundo da música nacional. Mas um pequeno detalhe que não podemos esquecer; eu gostaria de ter falado isso no começo do texto, porém é melhor coloca-lo neste parágrafo; “existe genérico para todos os estilos de música, todos”. Um amigo me disse isso uma vez, e detalhe; ele é fã de sons mais técnicos, experimentais e etc.,porém admite que até o que mais gosta pode possuir bandas e artistas repetitivos e batidos. Outra coisa “sua banda é genérica demais” é um argumento incansavelmente usado por esse meio, para menosprezar o tradicional, que mesmo não focando muito no trabalho, esbanja adrenalina e sentimento. Não é mais sensato falar sempre dos mesmos pontos sobre as mesmas coisas, principalmente quando pontos comuns são vistos como defeitos (o estilo do som), e outros fatores que não são relevados como deveriam (produção) e são colocados como irrelevantes na hora da crítica. O que se escuta muito: Todo mundo só quer fazer thrash atualmente, só dão valor ao thrash. Ninguém quer sair desse mundo e estudar seu próprio instrumento pra criar algo diferente ou não tão usual. Já falei que “todo mundo” é um argumento falho? Podem ser muitas ou poucas pessoas, independente disso não são todos e nenhum momento. Existem bandas no meu meio musical que estão procurando fazer um som mais diferente mesmo, tirando os pés do chão, pensando fora da caixa. Podem ser poucas, mas elas existem sim; e estão no mesmo meio que as bandas que estão procurando ser o mais fiéis as raízes do som que tanto gostam.
O que eu quero dizer é; as bandas não devem ser julgadas pelo tipo de som que fazem e sim como o passam para os ouvintes. Não vou dizer que irei a qualquer show de uma banda com som anos 70/80 mas também não deixarei de ir a um show da banda que realmente mereça essa atenção de um fã novo em potencial, mesmo tipo de argumento para bandas prog, experimentais, tech, e assim vai. Desde que seus trabalhos sejam feitos de forma profissional, com carinho e dedicação você pode apostar que vai agradar muitas pessoas, independente de ser mais ou menos complexo que seu som possa ser. Que cada um dos dois lados tenha seus devidos valores respeitados, e entendam a razão de certas coisas acontecerem; manter a tradição é bom assim como colocar misturas também é. Uma das causas desse problema talvez seja uma fidelidade muito alta mantida por ambos os lados, e ai surgem intrigas e bobagens envolvendo isso. Mas pra quê brigar por éticas de trabalho diferentes, não é? Eu não apoio nenhum tipo de extremismo, eu penso que bandas deveriam deixar os rótulos cada vez mais, desprender de se taxarem o som ou terem uma postura sempre séria. É muita utopia, eu sei…mas o que custa sonhar, não é mesmo? Esse sufoco é outra coisinha que dá pra resolver, vai levar um bom tempo mas qualquer esforço é bem vindo.